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ARTIGO
O caminho das pedras
MAURO MORELLI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Segundo a mídia, o projeto
Fome Zero estaria afundando
depois de dois meses e meio de
inauguração do novo governo.
Dentro do limite de minhas
competências, isto é, como integrante do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar) e
militante do direito ao alimento e
à nutrição desde 1993, ousaria
apontar o caminho das pedras aos
condutores da proposta.
Além da burocracia que amargura a vida dos governantes e
muito mais do povo, nos palácios
se aninham as víboras das intrigas
e maledicências. Rixas e disputas
de poder solapam projetos e fazem ruir as esperanças do povo.
O bom ministro do combate à
fome foi empurrado pelos seus
assessores mais diretos para o caminho que percorreu. De modo
especial, gostaria de entender por
que o assessor religioso do presidente se meteu numa seara onde
jamais trabalhou. Com o aprendizado do tempo da UNE, nada
mais vai conseguir do que inventar a roda e atropelar não só o ministro, mas toda a sociedade brasileira! Falo daquilo que fui testemunha, pois estive ao lado do professor José Graziano durante o
processo de elaboração da proposta até o início da segunda
quinzena de dezembro.
O pobre ministro foi induzido a
propor a criação de um ministério
que não foi criado e nem deveria
ter sido. Deram-lhe apenas um
gabinete, um balcão e um conselho sem autonomia.
Se o presidente quiser ver a proposta avançar e o povo curtir a vida com dignidade e esperança,
sugiro que retome a proposta original. Que o Consea tenha autonomia e instrumentos para conduzir amplo diálogo que culmine
numa conferência nacional de segurança alimentar sustentável.
Definidas as diretrizes, metas e
prioridades da promoção do direito humano básico ao alimento
e à nutrição, crie-se então a secretaria nacional de segurança alimentar para cuidar do processo
de planejamento e da articulação
das parcerias com os outros ramos e níveis do poder e das organizações da sociedade civil.
O ministro Graziano sempre foi
e deverá continuar sendo um
bom assessor e amigo ao lado do
presidente Lula. Fico intrigado e
sem entender por que não daria
certo não só o Fome Zero, mas o
próprio governo Lula. Não o elegemos na dúvida ou por falta de
alternativa! Com a autenticidade e
o carisma do presidente e pessoas
de excepcional gabarito no ministério, o que falta no governo é a
opção pelo planejamento.
A vitória de Lula tem de se
transformar numa auto-estrada
de participação e de cidadania.
Coisa mais sem graça e perigosa,
um governo ciumento e fechado
sobre si mesmo.
Dom Mauro Morelli, 67, é bispo católico
de Duque de Caxias (RJ) e membro do
Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.
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