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BAHIAGATE
Pefelistas dizem que há levantamento que compromete senadores; governo quer evitar um atrito com bancada carlista
Ameaças do PFL inibem medida contra ACM
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ameaças de retaliação do PFL
contra os demais partidos e receio
do governo de perder uma fatia
importante de apoio parlamentar
tornam o ambiente político no Senado refratário à abertura de um
processo por quebra de decoro
contra o senador Antonio Carlos
Magalhães (PFL-BA) no Conselho de Ética, que poderia levar à
cassação do seu mandato.
Mais por pressão da mídia e da
opinião pública, o conselho deve
iniciar na próxima terça-feira investigação preliminar sobre o suposto envolvimento de ACM na
escuta clandestina de mais de 200
telefones na Bahia, para verificar
se há indícios suficientes para
abrir processo de cassação.
Integrantes do conselho dizem
que, apesar da falta de "vontade
política", não haverá como impedir a aplicação da pena máxima,
caso surjam provas contra ACM.
A expectativa deles é que esses
elementos surjam durante os depoimentos no conselho.
Embora não seja uma ação partidária, setores do PFL espalham o
seguinte raciocínio: aos 75 anos,
ACM não renunciaria ao mandato para escapar da cassação -e
de ficar inelegível por oito anos-
com o objetivo de voltar ao Congresso daqui a quatro anos. Portanto, restaria a seu grupo político
não permitir que ele caia sozinho.
Um dirigente do PFL disse ontem que, pela dimensão política
de ACM, se algo extremado acontecer a ele, é natural que a reação
seja do tamanho da ação.
O governo preferia evitar um
atrito com a bancada carlista no
Congresso -três senadores e 22
deputados- e que os desdobramentos da investigação respinguem no PMDB, partido que procura atrair para a base governista.
Reservadamente, está difundido o receio de que seja aberta a
temporada de caça às bruxas. Pefelistas espalham que foi feito um
levantamento dos senadores que
são alvo de processos criminais
no Supremo Tribunal Federal
-seriam 14- e dos que já se valeram de conversas telefônicas
gravadas ilegalmente para fazer
denúncias contra adversários políticos -seriam cerca de 10.
Uma das primeiras vítimas poderia ser Saturnino Braga (PT-RJ), que seria acusado de quebrar
o decoro por ter assinado um documento na campanha eleitoral
comprometendo-se a cumprir
apenas quatro anos de mandato,
sendo substituído no restante pelo suplente Carlos Lupi (PDT-RJ).
Já o PSDB teme que a investigação do conteúdo das conversas
gravadas no grampo baiano atinja
setores do governo FHC, levantando suspeitas de irregularidades na gestão tucana. Além disso,
os tucanos estão em processo de
namoro com o PFL para formação de uma frente oposicionista.
Já o PMDB tem feito jogo duplo:
combina com o PT a realização da
investigação, mas se alia ao PFL e
ao PSDB para adiar a instalação
do Conselho de Ética. Senadores
peemedebistas dizem que uma
eventual apuração de supostas irregularidades reveladas nas conversas gravadas poderia, sim, respingar em figuras do partido.
Entre as ameaças veladas do
PFL, está a hipótese de reabertura
do caso da violação do painel eletrônico, com a tentativa de comprometer o ex-senador José
Eduardo Dutra (PT-SE), hoje presidente da Petrobras, e a senadora
Heloísa Helena (PT-AL).
Aliados de ACM reavivam rumores de que Dutra tenha tomado conhecimento da lista com o
resultado da sessão de cassação
do ex-senador Luiz Estevão, o que
o tornaria cúmplice da violação.
Também voltam a insinuar que
Heloísa Helena tenha votado contra a cassação. A senadora sempre
negou e disse ter sido vítima de
uma "infâmia".
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