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São Paulo, sábado, 15 de março de 2003

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Filósofo vê paradoxo no Fórum Social

DA REPORTAGEM LOCAL

Para o filósofo Paulo Arantes há um paradoxo no "espírito de Porto Alegre": a "alergia" que o Fórum Social Mundial sempre expressou pelo poder político tradicional, vedando a participação de representantes de governos e partidos, conviveu com a simpatia pelo PT, um partido de esquerda tradicional, e o desejo (mal) recalcado de seus organizadores e participantes de chegar ao poder junto com ele.
Segundo Arantes, o Fórum Social Mundial proibiu, no discurso, durante suas duas primeiras edições, a "relação com o poder". Ao mesmo tempo, ele diz, era comum ouvir dos participantes internacionais declarações de "inveja" pelo fato de o Brasil dispor de um partido como o PT.
"No terceiro fórum, a coisa se inverte, de maneira sublimada, embora o princípio continuasse sendo afirmado", disse ele ontem durante debate na USP.
"Essa ladainha [de elogios] tornou-se uma consagração [do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT]."
O Fórum Social Mundial deste ano, que aconteceu entre os dias 23 e 28 de janeiro, foi marcado pela presença do presidente Lula e de vários ministros de seu governo, apesar de a carta de princípios do encontro vedar a participação de representantes de governos. Segundo os organizadores, Lula foi a Porto Alegre apenas como anfitrião do fórum.
Ao fazer o discurso contrário ao poder político tradicional, o fórum teria criado "uma comédia de equívocos", disse. "Boa parte dos movimentos ali, embora repudiassem a política, com toda razão, estavam negociando com governos. Negociando financiamentos de organismos multilaterais que são comandados por aqueles belzebus que se reúnem na montanha mágica de Davos."
Francisco Whitaker, um dos organizadores do fórum, também participante do debate na USP, disse que o fato de as ONGs arrecadarem verbas com governos ou instituições multilaterais não significa que tenham uma relação de dependência com eles. E reiterou a importância de uma ação independente da estrutura de poder tradicional dos partidos. Para ele, a tendência é que os partidos se "encastelem" ao chegar ao poder.


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