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Filósofo vê paradoxo no Fórum Social
DA REPORTAGEM LOCAL
Para o filósofo Paulo Arantes há
um paradoxo no "espírito de Porto Alegre": a "alergia" que o Fórum Social Mundial sempre expressou pelo poder político tradicional, vedando a participação de
representantes de governos e partidos, conviveu com a simpatia
pelo PT, um partido de esquerda
tradicional, e o desejo (mal) recalcado de seus organizadores e participantes de chegar ao poder junto com ele.
Segundo Arantes, o Fórum Social Mundial proibiu, no discurso,
durante suas duas primeiras edições, a "relação com o poder". Ao
mesmo tempo, ele diz, era comum ouvir dos participantes internacionais declarações de "inveja" pelo fato de o Brasil dispor
de um partido como o PT.
"No terceiro fórum, a coisa se
inverte, de maneira sublimada,
embora o princípio continuasse
sendo afirmado", disse ele ontem
durante debate na USP.
"Essa ladainha [de elogios] tornou-se uma consagração [do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
do PT]."
O Fórum Social Mundial deste
ano, que aconteceu entre os dias
23 e 28 de janeiro, foi marcado pela presença do presidente Lula e
de vários ministros de seu governo, apesar de a carta de princípios
do encontro vedar a participação
de representantes de governos.
Segundo os organizadores, Lula
foi a Porto Alegre apenas como
anfitrião do fórum.
Ao fazer o discurso contrário ao
poder político tradicional, o fórum teria criado "uma comédia
de equívocos", disse. "Boa parte
dos movimentos ali, embora repudiassem a política, com toda
razão, estavam negociando com
governos. Negociando financiamentos de organismos multilaterais que são comandados por
aqueles belzebus que se reúnem
na montanha mágica de Davos."
Francisco Whitaker, um dos organizadores do fórum, também
participante do debate na USP,
disse que o fato de as ONGs arrecadarem verbas com governos ou
instituições multilaterais não significa que tenham uma relação de
dependência com eles. E reiterou
a importância de uma ação independente da estrutura de poder
tradicional dos partidos. Para ele,
a tendência é que os partidos se
"encastelem" ao chegar ao poder.
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