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JANIO DE FREITAS
Sem batalha
Aos petistas mais afinados com o governo ainda
não foi possível passar dos malabarismos verbais malsucedidos, alguns até moralmente
comprometedores, a uma explicação aceitável, ao menos pela
sinceridade, para a contradição
entre o que é o governo e o que
diziam, faziam e prometiam os
políticos do PT.
Como seria esperável, a culpa
já é da imprensa. Segundo o ministro Tarso Genro, o governo
"perdeu, em parte, a batalha da
informação", por não conseguir
reverter "a temática dominante,
neuroticamente repetida pela
mídia, de que os servidores seriam os vilões" da reforma da
Previdência. Com tal comportamento neurótico, a mídia, no
diagnóstico de Tarso Genro, leva os servidores ao "falso sentimento" de que a reforma lhes cortará direitos, "o que não é
verdade".
Há mil motivos para atacar a
imprensa, que continua preconceituosa em relação a Lula da
Silva, cria falsas idéias com títulos que não correspondem às
notícias, joga com muitos interesses, e assim em diante. Mas o
diagnóstico de Tarso Genro corresponde, é o que posso deduzir,
a um mal-estar que é do governo e, portanto, em parte seu.
O ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, foi o primeiro
dos ministros a anunciar, mais
do que reforma em sua área, já
o teor da reforma pretendida
pelo governo que acabara de tomar posse. Seria o suficiente para a afirmação da imprensa de que a proposta do PT era mais
severa, contra direitos atuais
dos servidores, do que os irrealizados propósitos do governo anterior. Com evidente irritação pelas reações reiteradas na imprensa e por parte de servidores, foi o próprio Lula que investiu,
em diferentes situações, na mesma linha. Tudo isso está disponível para exame atual e futuro nos arquivos dos jornais.
De lá para cá, o governo, que
submeteria militares, magistrados e os demais ao mesmo regime de aposentadoria, entrou por variantes de reconsideração
que, hoje, nem permitem saber
mais ou menos o que são suas
reais intenções. Os militares, como sempre, já têm garantido
tratamento especial, os magistrados parecem ter suas peculiaridades reconhecidas, mas nem
por isso Tarso Genro, ou algum
outro, deve dizer que "não é verdade" a perda de direitos atuais
de servidores na reforma pretendida pelo governo.
Esta afirmação é que "não é
verdade". E nem sequer serve
para enganar alguém: todos sabem que haverá perda e quem
vai perder, como demonstra a
antecipação de aposentadorias
por cientistas, professores universitários e outros quadros de
alta qualificação.
Na mídia, há má vontade, há
intrigas, há deformações, há invencione fantasiada de notícia,
mas quem facilita tudo isso é o
governo. Não porque esteja perdendo pretensa batalha com a
imprensa, mas porque perdeu a
face: o governo é o que não seria.
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