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São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2003

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JANIO DE FREITAS

Sem batalha

Aos petistas mais afinados com o governo ainda não foi possível passar dos malabarismos verbais malsucedidos, alguns até moralmente comprometedores, a uma explicação aceitável, ao menos pela sinceridade, para a contradição entre o que é o governo e o que diziam, faziam e prometiam os políticos do PT.
Como seria esperável, a culpa já é da imprensa. Segundo o ministro Tarso Genro, o governo "perdeu, em parte, a batalha da informação", por não conseguir reverter "a temática dominante, neuroticamente repetida pela mídia, de que os servidores seriam os vilões" da reforma da Previdência. Com tal comportamento neurótico, a mídia, no diagnóstico de Tarso Genro, leva os servidores ao "falso sentimento" de que a reforma lhes cortará direitos, "o que não é verdade".
Há mil motivos para atacar a imprensa, que continua preconceituosa em relação a Lula da Silva, cria falsas idéias com títulos que não correspondem às notícias, joga com muitos interesses, e assim em diante. Mas o diagnóstico de Tarso Genro corresponde, é o que posso deduzir, a um mal-estar que é do governo e, portanto, em parte seu.
O ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, foi o primeiro dos ministros a anunciar, mais do que reforma em sua área, já o teor da reforma pretendida pelo governo que acabara de tomar posse. Seria o suficiente para a afirmação da imprensa de que a proposta do PT era mais severa, contra direitos atuais dos servidores, do que os irrealizados propósitos do governo anterior. Com evidente irritação pelas reações reiteradas na imprensa e por parte de servidores, foi o próprio Lula que investiu, em diferentes situações, na mesma linha. Tudo isso está disponível para exame atual e futuro nos arquivos dos jornais.
De lá para cá, o governo, que submeteria militares, magistrados e os demais ao mesmo regime de aposentadoria, entrou por variantes de reconsideração que, hoje, nem permitem saber mais ou menos o que são suas reais intenções. Os militares, como sempre, já têm garantido tratamento especial, os magistrados parecem ter suas peculiaridades reconhecidas, mas nem por isso Tarso Genro, ou algum outro, deve dizer que "não é verdade" a perda de direitos atuais de servidores na reforma pretendida pelo governo.
Esta afirmação é que "não é verdade". E nem sequer serve para enganar alguém: todos sabem que haverá perda e quem vai perder, como demonstra a antecipação de aposentadorias por cientistas, professores universitários e outros quadros de alta qualificação.
Na mídia, há má vontade, há intrigas, há deformações, há invencione fantasiada de notícia, mas quem facilita tudo isso é o governo. Não porque esteja perdendo pretensa batalha com a imprensa, mas porque perdeu a face: o governo é o que não seria.


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