São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CAMPO MINADO

De acordo com líder dos sem-terra, "se a terra é produtiva, que o governo a compre para assentamento"

MST invade fazenda produtiva no Sul do país

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Cerca de cem integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiram ontem uma fazenda em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, com atestado de produtividade.
Na área tomada da fazenda Bom Sossego, de 360 hectares, segundo a família proprietária, são criadas 345 cabeças de gado e há uma plantação de soja. No total, a fazenda possui 863,1 hectares.
O advogado e filho da proprietária Carmelinda Portinho Santana, Tarcísio Santana, possui um documento certificado pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em 2003 definindo a área como "grande propriedade produtiva".
Ontem, a assessoria de imprensa do Incra disse que não foi feita vistoria no local nos últimos anos.
O coordenador do MST Nilton Lima, responsável pela invasão, afirmou que pouco importa o fato de a área ser produtiva. "Estamos fazendo pressão. Se a terra é produtiva, que o governo a compre para assentamento", afirmou.
A pedido da família, a 1ª Vara Cível de Cruz Alta determinou reintegração de posse da terra.
Na semana passada, o MST já tomara uma fazenda produtiva em Porto Seguro (BA), onde promoveu a derrubada de quatro hectares de eucaliptos plantados pela multinacional Veracel, uma das maiores empresas de celulose do país. Os sem-terra alegaram que não dá para comer eucalipto.
A fazenda do RS é atendida basicamente pela família -a proprietária e os dois filhos. O único empregado com carteira assinada que havia no local se demitiu. A família costuma contratar peões autônomos para atuar na área.
"O gado é manso e a propriedade não exige muito. Nós vendemos gado para abate pelos frigoríficos e plantamos soja", disse Tarcísio Santana.
O Incra do RS disse que vai vistoriar e desapropriar áreas até o fim do mês no Estado. Os sem-terra montaram seu acampamento na área próximo à BR-158.

A outra invasão
Uma outra invasão ocorrida no Rio Grande do Sul teve como cenário a fazenda Guerra, em Coqueiros do Sul, no último dia 2. Os 700 sem-terra continuam no local após acordo judicial com os proprietários para sair dentro de um mês. Nesse período, o Incra se comprometeu a assentar o grupo.
Também nesse caso, os proprietários da fazenda sustentam que ela é produtiva. O MST preferiu não se referir à questão de a área ser ou não produtiva, alegando que o motivo da invasão é o fato de uma só família apenas ser proprietária de 7.000 hectares, o que seria uma demasia.


Texto Anterior: Sátira política: Após os Suplicy, TV satiriza ministros
Próximo Texto: Lei antiinvasão de FHC não é eficaz, diz governo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.