São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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TODA MÍDIA

Nenhuma ironia

NELSON DE SÁ

Depois de uma semana de guerra, Garotinho respirou quando sites e canais de notícia passaram a noticiar a morte de Lulu, o líder na Rocinha. Foi manchete até no JN:
- Chefe do tráfico morre em troca de tiros com policiais.
Mas foi um alívio que já veio carregado de ameaça, ao menos no relato da Globo Online:
- O comércio está fechando as suas portas e o clima é tenso. A polícia começa a se preparar para a reação popular.
O problema é que Lulu, de "perfil assistencialista", era "querido pelo moradores" da comunidade sem Estado.
 
O secretário de Segurança do Rio havia atravessado o dia todo -e também os anteriores- sob pedidos para sua demissão e até intervenção no Estado.
Segundo a Globo, de manhã, "no Congresso, deputados do Rio pediram a intervenção". Do tucano Eduardo Paes:
- A intervenção federal se faz mais do que necessária.
Na rádio Jovem Pan, mais uma tucana, Denise Frossard:
- O Rio de Janeiro virou uma terra de ninguém. Garotinho é um irresponsável.
No RJTV, regional da Globo, o secretário teria dito que "não tem interesse pessoal em se manter no cargo" -e que, "se entenderem que é preciso", está "pronto para colaborar".
 
Quanto ao próprio, Garotinho foi a Brasília criticar o governo federal e, de quebra, a Globo. Disse que "desde o início" ele achava que a história "não era o que estava sendo retratado", que uma parte da mídia estava exagerando na cobertura.
Sem mencionar o JN, insistiu que não fez "ironia nenhuma", como descreveu anteontem o telejornal. Dele, na Globo:
- Estão querendo dar caráter político ao que não tem. Tudo foi tratado tecnicamente.
Nem tanto. Dele novamente, dizendo por que pediu milhares de soldados, mas declarou que eles não são necessários:
- Para amanhã não virem acusar Rosinha de ter recusado.

O MÉXICO APÓIA

O chanceler mexicano pode ter passado despercebido ou quase pelo Brasil, mas não para o próprio México. Jornais como o "El Universal" ou "La Crónica de Hoy" destacavam ontem que "o México quer se integrar ao Mercosul", não só como sócio comercial, mas político. Que "o México apóia a proposta de Brasil e Argentina para reformar o FMI". Que "o México apóia o Brasil na disputa das inspeções nucleares". Que "o presidente Fox visitará o Brasil em julho para se reunir com Lula".
A "Voz da América", do governo americano, destacou em especial a declaração do chanceler mexicano de que o Brasil "não precisa dar mais nenhuma demonstração de que (o programa nuclear) é para fins pacíficos".

Quem alimenta?
O Brasil assusta os EUA. Ou pelo menos a Carolina do Norte.
Um jornal regional, "News & Observer", publicou três longas reportagens com o título geral "quem alimenta o mundo?". Resposta: "Você pode pensar que somos nós. Tente Brasil".
Um dos protagonistas locais, para o grande jornal da Carolina do Norte, é o Mato Grosso. É lá que estaria sendo pavimentada "a estrada que leva à cesta de pães do mundo no futuro".

Conseqüências
Do "News & Observer":
- O Brasil já ameaça os EUA como a superpotência agrícola do mundo -acontecimento que poderá ter conseqüências profundas para a América rural.
Para a Carolina do Norte.

Para todos
Segundo o jornal, fazendeiros americanos já seguem para o novo oeste, caso de um tal John Neusch, que saiu de Minnesota para o Centro-Oeste.
Mas um especialista ouvido, enquanto listava as vantagens do Brasil, garantia:
- O que é bom para o Brasil será bom para todos.

Bioceânico
Não é só o governo federal que avança pela América do Sul.
Um jornal regional argentino, "El Tribuno", destacava ontem em manchete o "forte impulso para o Corredor Bioceânico", dado por províncias argentinas, paraguaias e bolivianas, mais o Mato Grosso do Sul.
O corredor deverá articular ferrovias, estradas, rios etc.

Zicosul
Representantes das províncias e estados lançaram ontem, diz o jornal, a Zona de Integração do Centro-Oeste Sul-americano. Zicosul ou Zicosur, no acrônimo original em espanhol.

Liderança
O "Miami Herald" publicou há semanas, mas o argentino "La Nacion" só foi reproduzir ontem um apocalíptico artigo em que o economista Jeffrey Sachs anuncia "a decadência dos Estados Unidos".
Argumento dele, além dos costumeiros (déficit externo, crise orçamentária):
- O mundo está chegando perto. A liderança tecnológica americana diminuirá em relação a Brasil, China, Índia e outros.

GOOGLE x MICROSOFT




Uma "guerra" virtual vem se desenvolvendo nas últimas semanas. O anúncio pela Google, que tem o principal serviço de busca da internet no mundo, de que passaria a concorrer também na faixa de e-mail dominada hoje pelo Hotmail, da Microsoft, iniciou um jogo de pressão que já entra pela política americana.
O "Los Angeles Times" destacava ontem o "desafio" da Google à Microsoft, mas o conflito é notícia há semanas em sites como "Wired" e canais como BBC.
A vantagem do novo e-mail (logotipo acima) é tornar desnecessários serviços de anti-spam. A desvantagem é a leitura das mensagens pelos computadores da Google, para direcionar publicidade nas próprias mensagens.
Em meio ao choque de gigantes entraram grupos de direitos virtuais como o Fórum Mundial de Privacidade e, agora, políticos americanos. O "Wall Street Journal" noticiou ontem que a Google já estuda mudanças.

ENDEREÇOS

Globo Online - oglobo.globo.com/online; RJTV - rjtv.globo.com; "El Universal" -eluniversal.com.mx; "La Crónica de Hoy" - cronica.com.mx; "Voz da América" -voa.gov; "News & Observer" - newsobserver.com; "El Tribuno" - eltribuno.com.ar; "The Miami Herald" - herald.com; "La Nacion" - lanacion.com.ar; "Los Angeles Times" - latimes.com; "Wired" - wired.com; "The Wall Street Journal" - wsj.com


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