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QUESTÃO AGRÁRIA
MLST invade sede do ministério por seis horas e sai após negociação
Sem-terra transformam a
Fazenda em assentamento
LEONARDO SOUZA
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério da Fazenda virou
ontem, por mais de seis horas, um
acampamento de sem-terra. Numa ação rápida, centenas de
membros do MLST (Movimento
de Libertação dos Sem-Terra)
surpreenderam os seguranças e
invadiram o prédio no fim da manhã. Até mesmo o andar do ministro Antonio Palocci Filho foi
tomado, apesar de seu gabinete
ter sido preservado.
Idosos, mães com crianças no
colo e famílias inteiras fizeram
dos corredores do ministério um
assentamento. Chegaram por volta do meio-dia e só saíram às
18h30 de forma pacífica, depois
de quase três horas de negociação
com representantes da Fazenda,
do Ministério do Desenvolvimento Agrário e da Casa Civil.
Segundo a Polícia Militar, cerca
de 500 sem-terra conseguiram entrar no edifício. Os coordenadores do protesto falavam em 1.200
manifestantes dentro do prédio
principal da Fazenda, onde trabalham cerca de 1.100 servidores.
O prédio já foi alvo de invasões.
"É a primeira vez que integrantes
de um movimento social ocupam
o andar do ministro", comemorava Davi Pereira da Silva, um dos
coordenadores do MLST.
O MLST é uma dissidência do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) ligada ao
PT, segundo os coordenadores do
movimento, filiados ao partido.
Em entrevista concedida antes
de deixar o prédio, a coordenação
do movimento ressaltou que a invasão foi um ato de "apoio ao governo e à política agrária do ministro Miguel Rossetto [Desenvolvimento Agrário]", mas de repúdio à política econômica.
"Não vim aqui como dirigente
do PT, mas da coordenação nacional do MLST. O governo não é
nosso adversário, não é nosso inimigo. Temos certeza de que o governo funciona bem sob pressão",
afirmou Bruno Maranhão.
A lista de reivindicações dos
manifestantes continha sete itens.
O principal deles é que o governo
libere integralmente os recursos
do Orçamento destinados à reforma agrária. O governo prometeu
analisar os pedidos e, de acordo
com os manifestantes, se comprometeu a apresentar em 15 dias
uma proposta de renegociação de
dívidas de pequenos agricultores.
O ministro da Fazenda já havia
deixado Brasília quando o prédio
foi invadido. Palocci viajou pela
manhã para São Paulo. Da capital
paulista seguiria para Washington (Estados Unidos), onde participará do encontro anual do FMI
(Fundo Monetário Nacional)
-um dos alvos contra os quais os
sem-terra protestavam.
Todas as críticas e as manifestações contra o governo eram direcionadas ao ministro. "Arroz, feijão, Palocci é um ladrão", era um
dos "gritos de guerra" bradados
repetidamente.
Até a conclusão desta edição, a
Polícia Civil não havia identificado destruição no prédio. Durante
todo o tempo, os sem-terra diziam que a manifestação seria pacífica. A saída dos manifestantes
foi acompanhada pelos 60 policiais militares chamados para
eventual desocupação à força.
Eles não entraram no prédio.
Além deles, agentes da Polícia Federal acompanharam a movimentação do grupo durante todo
o dia. Uma equipe do Comando
de Operações Táticas chegou a ser
mobilizada, mas foi dispersada
após a solução negociada.
Os servidores não foram impedidos nem de entrar nem de sair
do prédio do ministério.
À noite, o ministério divulgou
uma nota de protesto. "O Ministério da Fazenda lamenta a invasão de suas dependências (...), um
ato de intransigência. (...) O ministério repudia atos desta natureza, que violentam a democracia
e as instituições."
No fim da noite, era visível a sujeira dos corredores do prédio do
ministério. A chefia da segurança
reuniu funcionários para cobrar
explicações sobre supostas falhas
que teriam permitido a invasão.
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