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QUESTÃO AGRÁRIA
Movimento invadiu 377 áreas, de um total de 571 em 26 meses de governo; para sem-terra, é preciso pressionar
MST concentra 66% das invasões sob Lula
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar dos seguidos diálogos
com o governo petista e da fama
de aliados históricos, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) concentra 66%
das 571 invasões de terra feitas no
país nos primeiros 26 meses da
gestão Luiz Inácio Lula da Silva.
De janeiro de 2003 a fevereiro de
2005, segundo a Ouvidoria Agrária Nacional, o movimento participou de 377 invasões de propriedades rurais em todo o país. Para
João Pedro Stedile, da coordenação nacional do MST, "governos
só funcionam na pressão".
Membros do governo, como
Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), vêem as ações
como algo democrático, uma forma de pressão que deve ser respeitada pelo Executivo. Mas há
outros setores, liderados por Roberto Rodrigues (Agricultura),
que enxergam os movimentos como focos de desestabilização.
No Planalto, o tema das invasões é tratado com extrema preocupação, principalmente pelo
desgaste político que tais ações
podem proporcionar. Na semana
passada, por exemplo, o presidente convocou duas reuniões sobre o tema em seu gabinete, além
de ter liberado R$ 400 milhões para a desapropriação de fazendas.
Para Stedile, o movimento não
age com a preocupação de agradar ou não a determinado governo. Isso, segundo ele, significaria
o fracasso da entidade.
"Pela natureza de nosso movimento, sempre somos autônomos. Autônomos de partidos políticos, do governo e das igrejas.
Os movimentos que não respeitarem esse principio e se vincularem a partidos ou governos estão
fadados historicamente ao fracasso, pois ficam dependentes."
Segundo o líder dos sem-terra, a
gestão Lula precisa se lembrar das
promessas antigas do PT. "De
parte do governo, se eles ainda se
lembrarem do que defendiam no
Partido dos Trabalhadores, eles
sabem que, a rigor, as mobilizações sociais, as ocupações de terra
e as lutas sociais ajudam a reforma agrária. Ajuda o governo a se
mexer. Como sabemos, os governos só funcionam na pressão."
Liderança tranqüila
A liderança do MST no ranking
de invasões é folgada. Atrás dele,
na segunda colocação, com 50 invasões no período (8% dos casos),
aparece a OLC (Organização de
Luta no Campo), uma dissidência
da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais na
Agricultura) que concentra suas
ações em Pernambuco.
A Contag e suas federações regionais aparecem no terceiro posto da tabela da ouvidoria, com 44
invasões (7%) em 26 meses de governo Lula. A seguir, com 14 casos
(2%), está o Mast (Movimento de
Agricultores Sem Terra), com
suas ações principalmente no
Pontal do Paranapanema (SP).
Segundo dados da ouvidoria, 29
entidades e movimentos, além
das federações regionais da Contag, participaram de invasões de
terra no governo Lula. Muitos
desses movimentos são dissidências do MST e da Contag.
Massacre
Desde 16 de abril de 1996, quando 19 sem-terra foram assassinados em Eldorado do Carajás (PA),
os meses de abril passaram a concentrar a maioria das ações dos
sem-terra no país. Entre 2000 e
2004, abril concentrou 266 das
1.046 invasões no período, ou seja,
25% das ações.
No dia do massacre, policiais
militares entraram em confronto
com integrantes do MST para desobstruir uma estrada da região.
(EDUARDO SCOLESE)
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