São Paulo, sexta-feira, 15 de abril de 2005

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QUESTÃO AGRÁRIA

Movimento invadiu 377 áreas, de um total de 571 em 26 meses de governo; para sem-terra, é preciso pressionar

MST concentra 66% das invasões sob Lula

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar dos seguidos diálogos com o governo petista e da fama de aliados históricos, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) concentra 66% das 571 invasões de terra feitas no país nos primeiros 26 meses da gestão Luiz Inácio Lula da Silva.
De janeiro de 2003 a fevereiro de 2005, segundo a Ouvidoria Agrária Nacional, o movimento participou de 377 invasões de propriedades rurais em todo o país. Para João Pedro Stedile, da coordenação nacional do MST, "governos só funcionam na pressão".
Membros do governo, como Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), vêem as ações como algo democrático, uma forma de pressão que deve ser respeitada pelo Executivo. Mas há outros setores, liderados por Roberto Rodrigues (Agricultura), que enxergam os movimentos como focos de desestabilização.
No Planalto, o tema das invasões é tratado com extrema preocupação, principalmente pelo desgaste político que tais ações podem proporcionar. Na semana passada, por exemplo, o presidente convocou duas reuniões sobre o tema em seu gabinete, além de ter liberado R$ 400 milhões para a desapropriação de fazendas.
Para Stedile, o movimento não age com a preocupação de agradar ou não a determinado governo. Isso, segundo ele, significaria o fracasso da entidade.
"Pela natureza de nosso movimento, sempre somos autônomos. Autônomos de partidos políticos, do governo e das igrejas. Os movimentos que não respeitarem esse principio e se vincularem a partidos ou governos estão fadados historicamente ao fracasso, pois ficam dependentes."
Segundo o líder dos sem-terra, a gestão Lula precisa se lembrar das promessas antigas do PT. "De parte do governo, se eles ainda se lembrarem do que defendiam no Partido dos Trabalhadores, eles sabem que, a rigor, as mobilizações sociais, as ocupações de terra e as lutas sociais ajudam a reforma agrária. Ajuda o governo a se mexer. Como sabemos, os governos só funcionam na pressão."

Liderança tranqüila
A liderança do MST no ranking de invasões é folgada. Atrás dele, na segunda colocação, com 50 invasões no período (8% dos casos), aparece a OLC (Organização de Luta no Campo), uma dissidência da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais na Agricultura) que concentra suas ações em Pernambuco.
A Contag e suas federações regionais aparecem no terceiro posto da tabela da ouvidoria, com 44 invasões (7%) em 26 meses de governo Lula. A seguir, com 14 casos (2%), está o Mast (Movimento de Agricultores Sem Terra), com suas ações principalmente no Pontal do Paranapanema (SP).
Segundo dados da ouvidoria, 29 entidades e movimentos, além das federações regionais da Contag, participaram de invasões de terra no governo Lula. Muitos desses movimentos são dissidências do MST e da Contag.

Massacre
Desde 16 de abril de 1996, quando 19 sem-terra foram assassinados em Eldorado do Carajás (PA), os meses de abril passaram a concentrar a maioria das ações dos sem-terra no país. Entre 2000 e 2004, abril concentrou 266 das 1.046 invasões no período, ou seja, 25% das ações.
No dia do massacre, policiais militares entraram em confronto com integrantes do MST para desobstruir uma estrada da região. (EDUARDO SCOLESE)


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