São Paulo, sexta-feira, 15 de abril de 2005

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Brancos não punem o racismo, diz ministra

DO ENVIADO A DACAR

Titular da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a ministra Matilde Ribeiro, 44, diz que não haverá punição pelo racismo no Brasil enquanto apenas os brancos estiverem no comando da Justiça.
Segundo ela, vai demorar "algum tempo" para o Brasil se tornar um país exemplar na questão racial. A seguir, trechos de sua entrevista à Folha, ontem, em Dacar (Senegal). (EDS)
 

Folha - O que significa o pedido de perdão do presidente?
Matilde Ribeiro -
Eu acredito que tem um efeito simbólico. Porque, na verdade, temos de produzir políticas públicas, inclusive no Brasil, para garantir um intercâmbio lá e cá. O perdão é uma forma de mostrar a gratidão com o investimento que a África fez no Brasil. Os nossos antepassados trabalharam de graça, sob a chibata, e construíram o Brasil.

Folha - E a questão do racismo no Brasil? Já é exemplar?
Matilde -
O exemplar teria sido, logo após a abolição da escravidão [1888], os negros livres terem sido incorporados como cidadãos de direito, com acesso a políticas públicas. Passaram-se 116 anos, e ainda não temos isso. Mas estamos trabalhando para buscar uma saída para incluir os negros.

Folha - E a punição pelo racismo?
Matilde -
Do ponto de vista legal, temos uma legislação que pode ser considerada bastante avançada. O fato de o racismo ser considerado crime é um marco importante. Agora, a aplicabilidade disso não é cotidiana. Não há uma consciência tanto dos negros que sofrem o racismo como dos brancos, que praticam o racismo, que racismo é crime e dá cadeia.

Folha - Há uma descrença?
Matilde -
Veja, até você provar que um ato discriminatório é racismo, a pessoa desiste, pois é considerado como injúria. É considerado como qualquer coisa, menos racismo, justamente porque quem julga são os brancos. Quem julga são as pessoas que manejam a lei. Então, entre uma caracterização de um crime deste tipo como injúria ou crime racial tem uma distância muito grande.


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