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Brancos não punem o
racismo, diz ministra
DO ENVIADO A DACAR
Titular da Secretaria Especial de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a ministra Matilde
Ribeiro, 44, diz que não haverá
punição pelo racismo no Brasil
enquanto apenas os brancos estiverem no comando da Justiça.
Segundo ela, vai demorar "algum tempo" para o Brasil se tornar um país exemplar na questão
racial. A seguir, trechos de sua entrevista à Folha, ontem, em Dacar
(Senegal).
(EDS)
Folha - O que significa o pedido
de perdão do presidente?
Matilde Ribeiro - Eu acredito que
tem um efeito simbólico. Porque,
na verdade, temos de produzir
políticas públicas, inclusive no
Brasil, para garantir um intercâmbio lá e cá. O perdão é uma
forma de mostrar a gratidão com
o investimento que a África fez no
Brasil. Os nossos antepassados
trabalharam de graça, sob a chibata, e construíram o Brasil.
Folha - E a questão do racismo no
Brasil? Já é exemplar?
Matilde - O exemplar teria sido,
logo após a abolição da escravidão [1888], os negros livres terem
sido incorporados como cidadãos
de direito, com acesso a políticas
públicas. Passaram-se 116 anos, e
ainda não temos isso. Mas estamos trabalhando para buscar
uma saída para incluir os negros.
Folha - E a punição pelo racismo?
Matilde - Do ponto de vista legal,
temos uma legislação que pode
ser considerada bastante avançada. O fato de o racismo ser considerado crime é um marco importante. Agora, a aplicabilidade disso não é cotidiana. Não há uma
consciência tanto dos negros que
sofrem o racismo como dos brancos, que praticam o racismo, que
racismo é crime e dá cadeia.
Folha - Há uma descrença?
Matilde - Veja, até você provar
que um ato discriminatório é racismo, a pessoa desiste, pois é
considerado como injúria. É considerado como qualquer coisa,
menos racismo, justamente porque quem julga são os brancos.
Quem julga são as pessoas que
manejam a lei. Então, entre uma
caracterização de um crime deste
tipo como injúria ou crime racial
tem uma distância muito grande.
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