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PRIVATIZAÇÃO
Distribuidora de gás paulista foi vendida por R$ 1,65 bi em disputa que envolveu quatro grupos estrangeiros
British paga ágio de 119% pela Comgás
CLÁUDIA TREVISAN
da Reportagem Local
A British Gas e a Shell pagaram
ontem um ágio de 119,3% pela
compra da Comgás, no primeiro
leilão de privatização realizado depois da desvalorização do real, em
janeiro. O preço final da empresa
foi de R$ 1,65 bilhão.
"O resultado do leilão demonstra
a confiança internacional em São
Paulo e no Brasil", disse o vice-governador, Geraldo Alckmin.
A British Gas comprou 95% das
ações colocadas à venda e a Shell,
5%. Com isso, a Shell, que já tem
ações da Comgás, passará a deter
24% do capital com direito a voto
da empresa. A British Gas terá o
controle, com 65%.
Esses percentuais poderão subir
para 26% e 70%, respectivamente,
na hipótese de os novos donos
comprarem as ações que serão oferecidas aos empregados, que correspondem a 7% das ações com direito a voto (ordinárias).
A brasileira CPFL (Companhia
Paulista de Força e Luz) não participou do leilão, mas fechou acordo
com os vencedores e poderá aumentar sua participação na Comgás dos atuais 4% para até 10%.
As duas empresas usarão recursos próprios na liquidação financeira do leilão, marcada para o dia
22. Ainda não há definição sobre a
utilização de títulos da CPA (Companhia Paulista de Ativos), que podem ser destinados ao pagamento
de cerca de R$ 225 milhões.
O consórcio British Gas-Shell
concorreu com três grupos e ganhou com folga. O segundo maior
ágio, oferecido pela norte-americana Enron, foi de 71,2%. O ágio de
119,3% é o maior já pago em privatizações do setor energético brasileiro.
Dioclécio de Araújo Filho, presidente da British Gas para a América do Sul, afirmou que o investimento se justifica, mesmo diante
da crise econômica pela qual passa
o Brasil. "Investimos em uma empresa que esperamos operar por 50
anos. Ninguém faz um investimento desse olhando o curto prazo", observou Araújo.
O grande atrativo da Comgás é a
possibilidade de expansão do consumo nos próximos anos. A área
de concessão da empresa é a mais
industrializada e populosa do Brasil: região metropolitana de São
Paulo, Vale do Paraíba, Baixada
Santista e região de Campinas.
Estimativas do mercado apontam crescimento dos atuais 3,5 milhões de m3/dia para cerca de 20
milhões de m3/dia até 2015.
Se a previsão se realizar, a Comgás poderá ultrapassar a maior distribuidora de gás da América Latina, a argentina MetroGas, também
controlada pela British Gas. Segundo Araújo, a MetroGas distribui de 13 milhões a 15 milhões de
m3/dia de gás.
Os principais canais de expansão
são a substituição do óleo combustível e a geração de energia elétrica
por usinas térmicas.
Segundo o secretário de Energia,
Mauro Arce, há projetos de construção de dez usinas termelétricas
no Estado, que consumirão cerca
de 20 milhões de m3/dia de gás.
Além do R$ 1,65 bilhão ofertado
no leilão, o governo receberá R$
143 milhões pela venda de ações
aos funcionários da Comgás. Desse valor, R$ 10,5 milhões se referem
ao desconto dado aos empregados
e terão de ser pagos pelos vencedores do leilão. Os recursos serão
destinados ao abatimento da dívida de R$ 9 bilhões da Companhia
Energética de São Paulo.
A British Gas e a Shell são sócias
minoritárias no gasoduto Brasil-Bolívia, que será o principal fornecedor de gás para a Comgás. O fato
de a Petrobrás ser sócia majoritária no gasoduto teria sido uma das
razões que levaram o governo a vetar a presença da estatal no leilão.
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