São Paulo, Quinta-feira, 15 de Abril de 1999
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PRIVATIZAÇÃO
Distribuidora de gás paulista foi vendida por R$ 1,65 bi em disputa que envolveu quatro grupos estrangeiros
British paga ágio de 119% pela Comgás

CLÁUDIA TREVISAN
da Reportagem Local

A British Gas e a Shell pagaram ontem um ágio de 119,3% pela compra da Comgás, no primeiro leilão de privatização realizado depois da desvalorização do real, em janeiro. O preço final da empresa foi de R$ 1,65 bilhão.
"O resultado do leilão demonstra a confiança internacional em São Paulo e no Brasil", disse o vice-governador, Geraldo Alckmin.
A British Gas comprou 95% das ações colocadas à venda e a Shell, 5%. Com isso, a Shell, que já tem ações da Comgás, passará a deter 24% do capital com direito a voto da empresa. A British Gas terá o controle, com 65%.
Esses percentuais poderão subir para 26% e 70%, respectivamente, na hipótese de os novos donos comprarem as ações que serão oferecidas aos empregados, que correspondem a 7% das ações com direito a voto (ordinárias).
A brasileira CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz) não participou do leilão, mas fechou acordo com os vencedores e poderá aumentar sua participação na Comgás dos atuais 4% para até 10%.
As duas empresas usarão recursos próprios na liquidação financeira do leilão, marcada para o dia 22. Ainda não há definição sobre a utilização de títulos da CPA (Companhia Paulista de Ativos), que podem ser destinados ao pagamento de cerca de R$ 225 milhões.
O consórcio British Gas-Shell concorreu com três grupos e ganhou com folga. O segundo maior ágio, oferecido pela norte-americana Enron, foi de 71,2%. O ágio de 119,3% é o maior já pago em privatizações do setor energético brasileiro.
Dioclécio de Araújo Filho, presidente da British Gas para a América do Sul, afirmou que o investimento se justifica, mesmo diante da crise econômica pela qual passa o Brasil. "Investimos em uma empresa que esperamos operar por 50 anos. Ninguém faz um investimento desse olhando o curto prazo", observou Araújo.
O grande atrativo da Comgás é a possibilidade de expansão do consumo nos próximos anos. A área de concessão da empresa é a mais industrializada e populosa do Brasil: região metropolitana de São Paulo, Vale do Paraíba, Baixada Santista e região de Campinas.
Estimativas do mercado apontam crescimento dos atuais 3,5 milhões de m3/dia para cerca de 20 milhões de m3/dia até 2015.
Se a previsão se realizar, a Comgás poderá ultrapassar a maior distribuidora de gás da América Latina, a argentina MetroGas, também controlada pela British Gas. Segundo Araújo, a MetroGas distribui de 13 milhões a 15 milhões de m3/dia de gás.
Os principais canais de expansão são a substituição do óleo combustível e a geração de energia elétrica por usinas térmicas.
Segundo o secretário de Energia, Mauro Arce, há projetos de construção de dez usinas termelétricas no Estado, que consumirão cerca de 20 milhões de m3/dia de gás.
Além do R$ 1,65 bilhão ofertado no leilão, o governo receberá R$ 143 milhões pela venda de ações aos funcionários da Comgás. Desse valor, R$ 10,5 milhões se referem ao desconto dado aos empregados e terão de ser pagos pelos vencedores do leilão. Os recursos serão destinados ao abatimento da dívida de R$ 9 bilhões da Companhia Energética de São Paulo.
A British Gas e a Shell são sócias minoritárias no gasoduto Brasil-Bolívia, que será o principal fornecedor de gás para a Comgás. O fato de a Petrobrás ser sócia majoritária no gasoduto teria sido uma das razões que levaram o governo a vetar a presença da estatal no leilão.


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