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REPERCUSSÃO
Crise derruba Bolsa e papéis brasileiros
A Mesa Diretora da Câmara dos Deputados em Brasília durante sessão agitada pelas denúncias de compra de votos
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local
A crise provocada pela denúncia de que deputados venderam seus votos para aprovar
a emenda da reeleição fez despencar as cotações das ações
nas bolsas brasileiras e teve repercussão internacional.
No mercado interno, a queda
na Bolsa de Valores de São Paulo foi de 3,42%, a maior desde
fevereiro do ano passado. Só no
mercado futuro de ações, a
perda dos investidores que
apostavam em uma alta chegou
a R$ 73 milhões ontem.
No front externo, caíram o
valor dos títulos da dívida brasileira e os papéis (ADR) da Telebrás na Bolsa de Nova York
(EUA). ADR é a sigla em inglês
para recibos de depósito americanos. Na prática, é negociada como uma ação.
Em relação a anteontem, o
preço da ADR da Telebrás caiu
4%. Já o C-bond, nome do mais
importante título da dívida externa brasileira, fechou cotado
em 76% de seu valor de face.
Sofreu um queda de 0,7% em
relação ao dia anterior.
O noticiário das agências internacionais esteve repleto de
boletins sobre a crise brasileira,
batizada "money-for-votes
scandal" (escândalo dinheiro-por-votos).
Esse alarido se explica pelo
interesse dos investidores estrangeiros na estabilidade institucional do Brasil -um dos
principais mercados emergentes no mundo.
"A primeira coisa que ele
quer saber é se o governo é estável e se vai continuar assim",
explica Ike Rahmani, diretor-superintendente do Banco
Tendência, que administra
US$ 500 milhões em investimentos estrangeiros no Brasil.
Segundo Rahmani, apesar da
queda das ações, os investidores estrangeiros não perderam
a confiança no Brasil. O momento é de expectativa: "Estão
esperando mais informações".
No front interno, o governo
tentou criar fatos para recuperar as cotações, mas perdeu a
batalha da informação.
Até as 11h, a Bovespa já havia
caído 2%. Às 13h, a queda chegara a 3,2%. O ponto mais baixo foi às 15h: bateu em - 4,1%.
Até essa hora, a falta de resposta do ministro das Comunicações, Sérgio Motta, às acusações de que ele estava ligado à
compra dos votos inquietava
ainda mais o pregão.
As ações da Telebrás, estatal
subordinada a seu ministério e
cujas ações respondem por
62% dos negócios da Bovespa,
puxavam a baixa do mercado.
A Telebrás PN caiu 4%; e a
Telesp PN, 6%.
Depois que Motta resolveu
fazer um pronunciamento ao
vivo pela TV, o mercado reagiu
-menos pela resposta do ministro às denúncias, mais pelo
anúncio de que a Telebrás teria
grande lucro no 1º trimestre.
Motta também aproveitou o
espaço para anunciar para 1º de
junho a assinatura do primeiro
contrato de privatização da
banda B da telefonia celular. As
cotações subiram, mas voltaram a cair.
A grande dúvida entre os
agentes era sobre o alcance do
escândalo de venda de votos
para a reeleição. O maior medo, uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito).
Até ontem, a queda foi uma
oportunidade para os investidores realizarem lucros. Isto é:
transformar em dinheiro suas
ações, que subiram 46% em
média este ano.
Se essa queda agora se transformará em tendência, vai depender dos desdobramentos: a
instalação ou não da CPI e a
permanência ou não de Motta.
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