São Paulo, sábado, 15 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IMPRENSA

Jornal norte-americano agradece decisão do governo brasileiro de revogar o cancelamento do visto de Larry Rohter

"NYT" nega ter se retratado ou se desculpado

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

Em nota em que se diz "bastante satisfeito" com a decisão do governo brasileiro de reverter a cassação do visto do jornalista Larry Rohter, o jornal "The New York Times" reafirmou ontem, no início da noite, que considera a reportagem publicada no último domingo "correta e justa" e fez questão de declarar que a carta enviada ao governo "não continha nem um pedido de desculpas nem uma retratação".
A reportagem de Rohter, publicada no domingo passado, afirmava haver uma preocupação no Brasil com o "hábito de bebericar" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Relacionava ainda as gafes do presidente a um suposto consumo excessivo de álcool.
Ao saudar ontem a decisão do governo de rever a medida, a nota do jornal diz: "Continuamos a afirmar que nossa reportagem era correta e justa, como vínhamos dizendo ao longo da semana".
O ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) disse ontem que o fato de o jornal não pedir desculpas não influencia a emissão de um despacho para revogar o cancelamento do visto.
Segundo a Folha apurou, a avaliação do governo sobre a nota do "NYT", em que o jornal diz não ter pedido desculpas nem se retratado, é que ele está com receio de sofrer uma ação de indenização por parte do governo brasileiro.
Assessores do presidente disseram à Folha que não estão preocupados com a nota do jornal, alegando que receberam do jornalista Larry Rohter o pedido de reconsideração, considerado oficialmente um pedido de retratação pelo governo brasileiro.
A Folha apurou também que o governo vai analisar juridicamente a nota emitida pelo "NYT" e estudar uma ação contra o jornal com base nela.
Além das razões políticas para recuar, o governo tinha diante de si a iminência de uma derrota judicial ainda maior que o salvo-conduto que o ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Peçanha Martins concedeu anteontem a Rohter. Se não voltasse atrás, o governo tenderia a perder, em definitivo, a batalha judicial que travaria com o repórter.
Isso porque predomina no meio jurídico a interpretação de que o cancelamento do visto violou a garantia da liberdade de expressão. A derrota deveria ocorrer no julgamento do mérito do habeas corpus movido pelo senador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) no STJ ou, em último caso, no exame de eventual recurso ao STF (Supremo Tribunal Federal).


Colaborou SILVANA DE FREITAS, da Sucursal de Brasília

Texto Anterior: Íntegra: Rohter declara afeto pelo país e respeito pela Presidência
Próximo Texto: Leia a íntegra da nota do jornal
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.