São Paulo, sábado, 15 de maio de 2004

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RETÓRICA OFICIAL

Em Franca, presidente é vaiado por cerca de 40 estudantes da Unesp contrários à reforma universitária

Lula critica os que "torcem para não dar certo"

Joel Silva/Folha Imagem
Manifestante exibe cartaz durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à feira em Franca


JULIA DUAILIBI
ENVIADA ESPECIAL A FRANCA (SP)

Num esforço de divulgar uma "agenda positiva" do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu ontem a ataques da oposição e, em tom de campanha, deixou escapar um "até a vitória" em discurso no interior paulista.
"Tem gente que torce para que as coisas não dêem certo para justificar a sua própria existência", afirmou o presidente em visita a Expoagro, em Franca, no noroeste paulista. Na noite de anteontem, o PSDB levou ao ar o seu programa de TV, no qual fez duras críticas ao governo Lula.
Na passagem pela cidade, o presidente fez questão de destacar ações de sua gestão e passar a imagem de que o governo está trabalhando. Lula chegou a visitar a ampliação de uma fábrica de sapatos que havia começado a funcionar em agosto de 2003, mas cuja inauguração foi feita ontem a pedido do Planalto. Ao lado dele, estava o vice-prefeito de Franca, Cassiano Pimentel (PT), pré-candidato nas eleições deste ano.
Para cerca de 200 funcionários da empresa, Lula disse ser necessário "paciência", porque "nem sempre o sonho é capaz de ser realizado com a pressa, a vontade que a gente quer". "As pessoas acham que tudo pode acontecer num passe de mágica. E governar não tem mágica, como na vida".
O presidente atacou o governo FHC. Afirmou que o setor de calçados "foi atingido na sua competitividade pelo Plano Real, que tirou a vantagem existente na política cambial da época" e que "a crise, que se alastrou de meados dos anos 90 até 2002, teve seu ponto crítico em 1999, quando os postos de trabalho no setor de calçados de Franca foram reduzidos a 15 mil, enquanto na década de 80 haviam sido de quase 38 mil".
Ele disse ainda que, em seu governo, a agricultura empresarial recebeu "a maior quantidade de dinheiro nos últimos 20 anos" e que o investimento de R$ 2,9 bilhões em saneamento básico que pretende fazer "é mais do que o governo anterior anunciou".

Vaias
Pouco depois, na Expoagro, Lula foi vaiado por cerca de 40 estudantes que criticavam a reforma universitária do governo. Apesar de visivelmente constrangido com o barulho, ele disfarçou.
"Um político mentiroso mata a cobra, mas não mostra o pau com que matou a cobra. E nós queremos matar a cobra. Hoje não, porque somos ambientalistas e não queremos matar nada. Mas, usando a linguagem popular, queremos matar a cobra e mostrar a cobra morta, porque, senão, as pessoas não terão certeza", disse.
Os estudantes da Unesp seguiram com as vaias. Usavam narizes de palhaços e cartazes criticando o projeto de conceder incentivo fiscal às faculdades privadas que se dispuserem a destinar vagas a alunos da rede pública. Os gritos aumentaram quando Lula afirmou que "nós produzimos 347 mil empregos, o maior saldo positivo de empregos" desde 1992.
Uma faixas de protesto foi rasgada onde estava escrita a palavra autoritarismo. Segundo servidores do Judiciário, que pediam reajuste salarial, uma pessoa que se identificou como segurança da Presidência cortou a faixa para tirar a palavra. A assessoria do Planalto não confirmou isso. O governo foi acusado de autoritário quando decidiu expulsar o jornalista americano Larry Rohter.
O presidente voltou a citar a vitória obtida pelo Brasil na OMC (Organização Mundial do Comércio) contra os subsídios dos EUA aos plantadores de algodão. "Queremos provar que este país não deve ficar de cabeça baixa."


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