São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002

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Para candidato petista, US$ 10 bilhões do Fundo deveriam ser usados para "fazer alguma coisa útil"

Verba do FMI deveria matar a fome, diz Lula

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, atacou ontem o governo pela decisão de sacar US$ 10 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI), dizendo que a quantia seria melhor usada "para fazer alguma coisa útil".
"Maravilhoso se a gente tivesse tomado US$ 10 bilhões emprestados para acabar com a fome no Brasil. Se a gente tivesse tomado US$ 10 bilhões para investir num grande centro de pesquisa no Brasil, para fazer qualquer coisa para gerar alguma coisa útil", declarou Lula, em palestra na UniFMU.
O governo recorreu aos recursos do FMI com o objetivo de reverter a tendência de depreciação do real em relação ao dólar e restaurar ao menos em parte a confiança dos investidores internacionais no Brasil.
Os US$ 10 bilhões serviriam como munição para o governo entrar no mercado de dólar, tentando aumentar a oferta da moeda e derrubar sua cotação.
Para Lula, o novo empréstimo significa que o Brasil está apenas aumentando seu passivo externo.
"É como se nós recebêssemos um pagamento no final do mês e, em vez de pagar nossas dívidas, comprar alguma coisa para a casa, fôssemos a um bar jogar baralho, jogar snooker e perder o dinheiro", declarou o petista.
Desde o anúncio de um minipacote anteontem pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, petistas têm criticado o governo federal por não atacar de frente o problema da vulnerabilidade externa.
"O Brasil está sendo governado de um ponto de vista contábil, de um ponto de vista eminentemente economicista", declarou Lula, para quem o país está numa "encalacrada".

"Sem medo"
Como fez durante toda a semana, o presidenciável voltou ontem ao discurso de que o governo federal tem feito "terrorismo", ao relacionar a crise nos mercados a uma suposta inconsistência no discurso dos oposicionistas.
Citando a eleição presidencial de 1989, em que perdeu por pequena margem para Fernando Collor de Mello no segundo turno, o candidato petista fez um apelo para que as pessoas votem agora "sem medo".
"Eu só peço que ninguém vote como votaram em 1989. Eu confesso a vocês que essa é uma mágoa que eu carrego", declarou. De acordo com Lula, houve "preconceito" na ocasião.
"As pessoas não precisavam ter votado em mim, tinha [Leonel" Brizola, [Mário] Covas, Ulysses [Guimarães", Afif [Domingos]. O que não podia é o povo brasileiro, levado pelo medo, pelo preconceito, eleger uma figura da espécie do Collor", disse.
O petista também comentou, mais uma vez, as declarações do megainvestidor George Soros, que, em entrevista à Folha, declarou que o mercado "imporá" José Serra (PSDB).
"Nós vamos ganhar essa eleição, e ele [Soros] vai aprender a conversar conosco. Podem estar certos disso", afirmou.
Ao falar sobre livre-comércio, Lula elogiou a atuação do governo na negociação sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
"O governo tem tido uma postura correta em relação à Alca, que é não aceitar o que os norte-americanos têm", disse.



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