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Para candidato petista, US$ 10 bilhões do Fundo deveriam ser usados para "fazer alguma coisa útil"
Verba do FMI deveria matar a fome, diz Lula
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
O candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula
da Silva, atacou ontem o governo
pela decisão de sacar US$ 10 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI), dizendo que a
quantia seria melhor usada "para
fazer alguma coisa útil".
"Maravilhoso se a gente tivesse
tomado US$ 10 bilhões emprestados para acabar com a fome no
Brasil. Se a gente tivesse tomado
US$ 10 bilhões para investir num
grande centro de pesquisa no Brasil, para fazer qualquer coisa para
gerar alguma coisa útil", declarou
Lula, em palestra na UniFMU.
O governo recorreu aos recursos do FMI com o objetivo de reverter a tendência de depreciação
do real em relação ao dólar e restaurar ao menos em parte a confiança dos investidores internacionais no Brasil.
Os US$ 10 bilhões serviriam como munição para o governo entrar no mercado de dólar, tentando aumentar a oferta da moeda e
derrubar sua cotação.
Para Lula, o novo empréstimo
significa que o Brasil está apenas
aumentando seu passivo externo.
"É como se nós recebêssemos
um pagamento no final do mês e,
em vez de pagar nossas dívidas,
comprar alguma coisa para a casa, fôssemos a um bar jogar baralho, jogar snooker e perder o dinheiro", declarou o petista.
Desde o anúncio de um minipacote anteontem pelo ministro da
Fazenda, Pedro Malan, petistas
têm criticado o governo federal
por não atacar de frente o problema da vulnerabilidade externa.
"O Brasil está sendo governado
de um ponto de vista contábil, de
um ponto de vista eminentemente economicista", declarou Lula,
para quem o país está numa "encalacrada".
"Sem medo"
Como fez durante toda a semana, o presidenciável voltou ontem
ao discurso de que o governo federal tem feito "terrorismo", ao
relacionar a crise nos mercados a
uma suposta inconsistência no
discurso dos oposicionistas.
Citando a eleição presidencial
de 1989, em que perdeu por pequena margem para Fernando
Collor de Mello no segundo turno, o candidato petista fez um
apelo para que as pessoas votem
agora "sem medo".
"Eu só peço que ninguém vote
como votaram em 1989. Eu confesso a vocês que essa é uma mágoa que eu carrego", declarou. De
acordo com Lula, houve "preconceito" na ocasião.
"As pessoas não precisavam ter
votado em mim, tinha [Leonel"
Brizola, [Mário] Covas, Ulysses
[Guimarães", Afif [Domingos]. O
que não podia é o povo brasileiro,
levado pelo medo, pelo preconceito, eleger uma figura da espécie
do Collor", disse.
O petista também comentou,
mais uma vez, as declarações do
megainvestidor George Soros,
que, em entrevista à Folha, declarou que o mercado "imporá" José
Serra (PSDB).
"Nós vamos ganhar essa eleição, e ele [Soros] vai aprender a
conversar conosco. Podem estar
certos disso", afirmou.
Ao falar sobre livre-comércio,
Lula elogiou a atuação do governo
na negociação sobre a Alca (Área
de Livre Comércio das Américas).
"O governo tem tido uma postura correta em relação à Alca,
que é não aceitar o que os norte-americanos têm", disse.
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