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CONTAS PÚBLICAS
Com aval da Fazenda, SC, AL e PE são beneficiados por medida, que havia sido proibida pelo Senado
União refinancia R$ 2,5 bi de precatórios
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
RAYMUNDO COSTA
do Painel, em Brasília
Com o aval do Ministério da Fazenda, a União deverá refinanciar
uma dívida de aproximadamente
R$ 2,5 bilhões referente a títulos
emitidos por três Estados -Pernambuco, Santa Catarina e Alagoas- e três municípios paulistas
-Guarulhos, Campinas e Osasco.
A operação de socorro, objeto de
intensa negociação nos últimos
meses, está para ser formalizada
hoje em reunião conjunta das comissões de Justiça e de Assuntos
Econômicos do Senado.
O próprio Senado havia proibido
expressamente o refinanciamento
dessa dívida, por meio de resolução aprovada no ano passado. A
negociação em curso equivale a
anular uma das principais decisões
tomadas após a CPI (Comissão
Parlamentar de Inquérito) que investigou a emissão de títulos para o
pagamento de precatórios.
Ao final dos trabalhos da CPI,
que considerou irregular a emissão desses títulos, os senadores determinaram que os papéis emitidos depois de 13 de dezembro de
1995 teriam de ser resgatados na
data de vencimento.
Em defesa da operação, os consultores do Senado alegam que,
por enquanto, há apenas ""indícios
de inconstitucionalidade, ilegalidade e condutas lesivas ao interesse público" na emissão dos títulos.
O Ministério da Fazenda não tem
uma avaliação precisa do impacto
fiscal do novo refinanciamento,
mas deu sinal verde à negociação.
Os papéis começaram a vencer
no início do mês. O governador de
Pernambuco, Jarbas Vasconcelos,
baixou decreto dizendo que não
tem como resgatar os mais de R$
250 milhões de títulos que venceram no dia 1º. Desde então, o Estado é considerado inadimplente.
Do valor total da dívida em negociação, a maior parcela está com
Santa Catarina: mais de R$ 1 bilhão. Mais da metade desse valor
vence em 1º de agosto.
Os senadores avaliam que os
principais beneficiários da operação serão as instituições financeiras que compraram esses títulos. O
Bradesco é apontado como o
maior detentor desses papéis.
Consultada pela Folha, a assessoria do banco não se pronunciou até
a conclusão desta edição.
Segundo o senador Ney Suassuna (PMDB-PB), presidente da Comissão de Assuntos Econômicos,
não há acordo ainda para incluir
no pacote de refinanciamento os
títulos emitidos e não vendidos ao
mercado, mecanismo que beneficiaria Santa Catarina.
Suassuna insiste em que o refinanciamento tem como objetivo
impedir mais um ataque à credibilidade do país no exterior: ""Títulos
são um pedaço de papel e seu valor
depende da confiança depositada
no negócio. Nos Estados Unidos, o
cara não entende que Pernambuco
não é o Brasil, pensa até que a capital do país é Buenos Aires".
Outro argumento usado na negociação é o precedente criado para o Estado de São Paulo. No acordo para renegociação de sua dívida, São Paulo incluiu R$ 1,5 bilhão
de títulos emitidos para o pagamento de precatórios.
Ocorre que a autorização foi dada em 1997, antes, portanto, da resolução do Senado que proibiu o
refinanciamento dos títulos emitidos depois de dezembro de 1995.
A proposta que os senadores votarão hoje prevê a troca dos títulos
estaduais e municipais por títulos
federais e o refinanciamento no
prazo de dez anos. Como parte dos
títulos ainda pode ser considerada
irregular pela Justiça, os senadores
propõem que o valor dos papéis
seja depositado em juízo.
O relator da CPI dos Precatórios,
senador Roberto Requião (PMDB-PR), defende que os títulos sejam
anulados. ""Essa negociação é um
crime", diz o senador.
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