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CASO TRT
Para ministro do Planejamento, quem deveria conhecer irregularidades da obra em SP é o Tribunal Superior do Trabalho
Não fiscalizo o Judiciário, afirma Martus
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Martus Tavares (Planejamento, Orçamento e Gestão)
disse ontem que o TST (Tribunal
Superior do Trabalho), autor do
pedido de verbas suplementares
para o TRT-SP, é que deveria conhecer as suspeitas de irregularidade e o relatório de 1995 do TCU
(Tribunal de Contas da União)
contrário à obra.
"O TRT-SP e o TST, que encaminhou o pedido, é que tinham
que saber. Não eu. Eu não fiscalizo obra do Judiciário", disse, garantindo que não tinha informação sobre o relatório nem sobre as
suspeitas. À Folha, o ministro alegou que nem os deputados paulistas sabiam, tanto que aprovaram emenda aumentando o crédito da obra um ano depois da sua
exposição de motivos.
Folha - Por que o sr. assinou a exposição de motivos favorável à verba suplementar do TRT-SP, uma
obra superfaturada?
Martus - Antes, eu gostaria de dizer que isso tudo é uma coisa de
louco. Estou chocado, indignado,
tenho o trabalho de toda uma vida, um nome, uma imagem, uma
reputação. Em 15 anos de governo, nunca estive sob suspeita. Como é que podem insinuar que eu
tenha alguma relação com um foragido? Onde é que a gente está,
que ninguém te dá ouvidos, você
não consegue nem se explicar?
Folha - Como não consegue se explicar?
Martus - Você, da imprensa, deve saber melhor do que eu.
Folha - Qual é a sua explicação?
Martus - Quem tem iniciativa
constitucional em matéria orçamentária é o Executivo, que envia
as propostas para o Legislativo,
inclusive as propostas de verbas
para o próprio Legislativo e para o
Judiciário. No caso do TRT-SP, o
Executivo recebeu pedido e relatório técnico do TST. Nas páginas
7 e 8, o relatório relaciona nove
consequências caso a obra fosse
interrompida.
Olha aqui (mostrando uma cópia): dispensa generalizada de
funcionários, deterioração de todas as máquinas e motores de tração e multas de fornecedores.
Folha - O TCU já investigava irregularidades desde 1992 e informou
à Comissão Mista de Orçamento do
Congresso no final de 1995, bem
antes de sua exposição de motivos.
Martus - Eu não sabia. Eu disse
claramente na nota (divulgada na
quinta-feira) e repito: não sabia
de investigações do TCU, muito
menos de irregularidades.
Folha - Como o sr. não sabia, se o
deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA) conseguiu cortar verbas da
obra com base no TCU?
Martus - O Executivo não foi notificado, não foi comunicado. Não
houve correspondência, não houve nada do TCU avisando de irregularidades. O próprio presidente
do TST na época diz que ele não
tinha sido comunicado pelo TCU.
Folha -E o alerta do deputado?
Martus - Eu não tenho obrigação
de saber o que disse o deputado
tal ou qual, no dia tal, na sessão
qual. São mais de 500 deputados e
há em torno de 10 mil emendas ao
Orçamento. O deputado diz que a
Comissão de Orçamento tinha a
informação. Ao que eu saiba, cortaram só uma parte da emenda. O
Congresso só tirou um pedaço.
Então, era só uma meia irregularidade? Como uma meia gravidez?
E como é que todo mundo sabia, se os deputados de São Paulo
aprovaram uma emenda para um
crédito de R$ 10 milhões para a
obra em 7 de outubro de 1997? Isso foi cerca de um ano depois da
minha exposição de motivos. Se
nem a Marta Suplicy, o José Genoino e o Delfim Netto sabiam de
TCU, de Giovanni Queiroz, por
que eu tinha que saber? Eles são
gente de bem e estavam dentro do
Congresso. Não sabiam. Eles não
estavam fazendo nada de errado.
Nem eu.
Folha - O sr. não sabia, os deputados não sabiam e o sr. diz que ninguém tinha que saber. Então,
quem tinha que saber e fazer algo?
Martus - O TRT-SP e o TST, que
encaminhou o pedido, é que tinham que saber. Não eu. Eu não
fiscalizo obra do Judiciário.
Folha - O sr. não acha que ao assinar embaixo o pedido de tanto dinheiro para uma obra do Judiciário
ou de qualquer outra coisa assim
tão sem informação é um risco?
Martus - O Executivo não fiscaliza obra do Judiciário. Não tem
competência para isso. Aliás, nem
tinha mesmo porque ser notificado pelo TCU sobre as irregularidades. Os créditos foram em 1995
e 1996, e só depois de 1997 as
obras de curso irregular identificadas pelo TCU passaram a fazer
parte da lei orçamentária, proibidas de receber créditos suplementares. Especificamente, a do TRT-SP só apareceu ali como irregular
em 98. Aí, não teve mais crédito.
Folha - Por que, apesar da falta
de dinheiro, do discurso do ajuste
fiscal, o sr. aprovou verbas para um
prédio de tribunal?
Martus - As pessoas não entenderam isso na nota do ministério,
mas é assim mesmo: é usual atender pedido do Judiciário e do Legislativo. Até porque cabe ao Executivo apenas encaminhar. Quem
aprova ou não é o Congresso.
Vamos ser sinceros? Vem um
pedido do Supremo, de um outro
tribunal, e você não atende? Já é
difícil dizer "não" para um outro
ministro ali do lado, imagine para
um outro Poder.
Folha - O sr. pensa em sair do governo?
Martus - Não. E não entendo por
que estacionou aqui.
Folha - O que estacionou onde?
Martus - Isso tudo, esse problema de TRT. Por que estacionar
aqui no Planejamento?
Folha - Onde deveria estacionar?
Martus - Não sei. Só sei que não é
aqui. Não temos responsabilidade
sobre contratação, empenho, pagamentos e fiscalização do Judiciário.
Folha - O sr. conhece o ex-juiz Nicolau dos Santos? Falou com ele,
pessoalmente ou por telefone?
Martus - Desde ontem (anteontem) mandei rastrear tudo, telefone, agenda, para saber se teve telefonema ou audiência. Hoje, mandei rastrear tudo de novo, para ter
certeza. Só acharam uma ligação,
do dia 11 de novembro de 1996 (na
época, era secretário-executivo do
Planejamento) quando o crédito
já tramitava no Congresso. Mesmo que eu tivesse falado mais, recebido em audiência, não teria
problema nenhum. Ele era um
juiz. Eu recebo muitos juízes e falo
com muitos juízes por telefone.
Agora, sinceramente, eu não me
lembro dele. Você não tem idéia
da quantidade de gente que eu recebo aqui. Ele não era um foragido, não era famoso, como é hoje.
Como é que eu me lembraria imediatamente se tinha ou não recebido ou falado com ele?
Folha -Nas gravações publicadas
pela revista "IstoÉ", o ex-juiz diz
que falou várias vezes com o sr. e
que o sr. inclusive se referiu a
Eduardo Jorge como "pistolão".
Martus - Essas fitas... Elas estão
esquisitas. O que eu posso dizer é
que é mentira. Evidentemente,
não falei com ele várias vezes. Evidentemente, é uma mentira.
Folha - O ex-ministro Eduardo
Jorge interferiu a favor da obra?
Martus - Comigo? Nunca.
Folha - Qual é e qual era sua relação com ele no governo?
Martus - Normal. Igual à que tinha com outros ministros e secretários-executivos. Nada especial.
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