São Paulo, quinta-feira, 15 de julho de 2004

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Sistema automático

Tudo começou, ao que parece, às 12h12 no site Terra. O "sistema automático de captura de notícias" jogou no ar um despacho da agência EFE, com informações do Índice de Desenvolvimento Humano, das Nações Unidas.
A ONU havia solicitado que as informações do IDH só fossem divulgadas hoje.
O site diz que retirou o despacho, mas outros, como UOL, Veja On-line e Agência Estado, entraram na corrida. De parte a parte, liam-se notas acusando "outros sites" de "falta de ética" e assim ficou.
Mais tarde, também o "Jornal da Band", o "Jornal da Record" e o "Jornal Nacional" romperam as regras. Se parasse aí o problema, seria tema para acusações e debates, nada mais.
Mas havia mais. Ao contrário do que os primeiros textos davam a entender, tratava-se de um relatório sobre 2002. Além dos títulos, um dos trechos que levavam à confusão:
- A diminuição da pontuação fez com que o Brasil caísse no ranking e estivesse neste ano na posição de número 72, quando no ano passado o país havia ficado em 65º.
Na verdade, falava-se de 2002 em relação a 2001 -e não "neste ano", em relação ao "ano passado". Falava-se do último ano do governo FHC, não do segundo ano de Lula.
Mas também não parou aí. É injusto com FHC afirmar que, em seu último ano, o Brasil caiu no IDH.
O que houve foi uma "alteração na fonte dos dados sobre analfabetismo" de 2002. Se a mesma fonte fosse usada para 2001, o Brasil não sairia do lugar. Daí a ONU ter solicitado que não se fizessem comparações entre os dois anos.
Por sorte, quando se chegou ao "Jornal Nacional", a confusão já era um pouco menor.

Reprodução
NO AR Marta Suplicy e José Serra não têm só os maiores tempos no horário eleitoral que vem aí. Têm também Lula e Geraldo Alckmin. O presidente e o governador estão no ar com comerciais para mostrar o quanto eles fazem pelo "saneamento", quantas "obras" realizam ou como se esforçam para recuperar "o centro". Só o dinheiro é do contribuinte

Não dá pra negar
Como escreveu "O Estado de S.Paulo", "não há mais como negar: a economia brasileira está mesmo em recuperação".
Na manchete de Boris Casoy, Lula "comemora" 830 mil empregos formais criados no ano.
Nas manchetes do "JN", "a criação de vagas é recorde" em São Paulo e "a produção cresce em todo o país". Até no Rio.
Sem falar da "surpreendente queda do IPC da Fipe", no dizer do Valor On Line. A queda interrompeu a série de 11 quadrissemanas de inflação em alta.

Dá pra negar
Mas sempre dá para negar. O Valor On Line também noticiou ontem "o rumor de "upgrade" da nota do Brasil", a ser dada "por uma agência classificadora de risco". Fez subir a Bovespa.
Mas logo veio a agência Dow Jones e disse que as agências classificadoras estavam "cool", frias, enquanto "os rumores de "upgrade" esquentam no Brasil". De um analista da Moody's:
- Do ponto de vista dos fatores estruturais, eu não acho que exista qualquer novidade.

Calmaria
De todo modo, o "Financial Times" destacou anteontem os avanços do mercado acionário no Brasil, que estaria finalmente oferecendo "um ritmo mais calmo" aos investidores.
A prova seriam os inusitados lançamentos de ações de três empresas brasileiras na Bovespa, notícia que o "Valor" levou ontem à sua manchete.

Insulto
Nos EUA, como destacavam ontem os sites do "Washington Post" e do "New York Times", a emenda constitucional que o presidente e candidato à reeleição George W. Bush apoiou, contra o casamento de homossexuais, foi derrubada.
Já no Brasil, ou melhor, no Rio de tantos candidatos cristãos, um projeto de lei está revoltando os líderes da comunidade homossexual. Foi o que noticiou ontem a agência France Presse, como se lia nos sites.
O projeto prevê que o governo estadual subsidie, com dinheiro público, os homossexuais que buscarem mudar de orientação. De um dos líderes:
- É um insulto político.

RESPEITO E TEMOR


Ilustração no "FT"
Do "La Nación", com direito à foto dos manifestantes na avenida Paulista, com os uniformes das seleções brasileira e argentina, ao "Financial Times", a pressão dos brasileiros sobre Lula e contra a Argentina era notícia por todo lado, ontem:
- A paciência interna é cada vez menor.
O "Ámbito Financiero" e outros argentinos destacaram em suas páginas iniciais, durante o dia, as declarações do assessor de Assuntos Internacionais de Lula a Eliane Catanhêde, na Folha, reafirmando a "aliança estratégica" do Brasil com a Argentina.
Faziam um esforço de descompressão, mas pelos lados do presidente Néstor Kirchner as coisas só faziam piorar. Com manifestantes diante da Casa Rosada, ele chamou seu médico e levou a especulações:
- O presidente está doente outra vez?
 
As páginas iniciais dos mesmos sites argentinos mostravam outro conflito com o Brasil -com teor alegórico. O colunista de futebol do "La Nación" se dizia feliz por que a seleção "escapou de um choque com o Brasil nas quartas de final" da Copa América. E o treinador Carlos Alberto Parreira, do Brasil, deu entrevista dizendo que quer muito jogar com a Argentina:
- Nós a respeitamos, mas não a tememos.


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