São Paulo, domingo, 15 de julho de 2007

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Dois gerentes da Petrobras testemunharam por lobista

Foragido, Reis atuaria em favor de empresas privadas

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A MACAÉ (RJ)

Dois gerentes da Petrobras denunciados pelo Ministério Público Federal sob acusação de participarem de fraudes em licitações da estatal, Carlos Heleno Netto Barbosa e Rômulo Miguel de Morais, testemunharam em favor do lobista José Augusto Barbosa Reis em um processo judicial que corre em Macaé, litoral norte do Rio.
Reis teve prisão decretada pela Justiça Federal na Operação Águas Profundas, e é dado como foragido. Ele foi denunciado sob acusação de atuar como lobista, nos bastidores da Petrobras, em favor de interesses de empresas privadas. Os dois gerentes foram presos na terça-feira e afastados de seus cargos pela Petrobras.
Ambos deram declarações por escrito para sustentar que Reis trabalhava como representante da empresa Santos Barbosa. Ex-controlador da companhia, o lobista e seus sócios venderam em 2002 a maioria de suas ações ao grupo Wood Group Engineering.
No acordo de venda, Reis ficou com uma pequena participação e o direito de receber pro-labore de R$ 429 mil ao ano. No fim de 2003, a Wood deixou de pagar o pro-labore, sob a alegação de que Reis havia abandonado o trabalho.
Para refutar a acusação, o lobista contou com a ajuda dos dois funcionários da Petrobras. Gerente-geral da Unidade de Serviços de Sondagem até terça-feira, quando foi desencadeada a operação, Carlos Heleno Netto Barbosa assinou carta em papel timbrado da estatal, na qual afirmava que o lobista fazia "visitas periódicas" à sua unidade. Segundo a declaração, ambos discutiam o andamento de contrato entre a Petrobras e a Santos Barbosa. A empresa tem contrato de R$ 30 milhões com a Petrobras para manutenção das plataformas de exploração de petróleo P-10, P-14, P-16, P-17 e P-23.
Netto Barbosa é o executivo da Petrobrás de maior nível hierárquico acusado na Operação Águas Profundas, que levou à denúncia de 26 pessoas, 14 das quais foram presas. O gerente Rômulo Morais assinou carta na qual afirma que Reis atuava com "dedicação" e "denodo" na defesa de interesses da Santos Barbosa, tentando estabelecer novos contratos, novas parcerias e ampliar os contratos já existentes.
O Wood Group disputou a licitação da Petrobras para reforma da plataforma P-16, no ano passado, e perdeu para a Iesa Óleo & Gás, empresa acusada de envolvimento no suposto esquema de fraudes na estatal.
A licitação, segundo a denúncia, teria sido fraudada por interferência junto a funcionários da Petrobras da Angraporto, apontada como peça-chave do suposto esquema.
O juiz federal Flávio Oliveira Lucas, que determinou as prisões, disse que conversas telefônicas gravadas pela Polícia Federal mostram que Reis teria recebido R$ 15 mil por serviços prestados à Angraporto.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, Reis fez lobby na Petrobras para a prorrogação de um contrato da Angraporto de aluguel de cais, em Angra dos Reis, para reforma da plataforma P-14.
Em seu despacho, o juiz disse que Reis "atua clandestinamente nos bastidores da Petrobras" e fazia gestões, por meio de contatos políticos, em Brasília para privilegiar empresas em licitações da Petrobras.

Outro lado
Um executivo do Wood Group disse à Folha que Reis não participa da diretoria nem do conselho de administração da Santos Barbosa e que ele não vai à empresa há mais de dois anos. O Wood Group, da Escócia, é uma das maiores empresas mundiais de montagem industrial. Atua em 40 países, tem 15 mil empregados e fatura US$ 4 bilhões por ano.
A Folha procurou Barbosa Reis em seu escritório, no centro de Macaé. Os funcionários disseram que ele estaria em um hospital, não identificado. A reportagem esteve também no endereço citado na denúncia do Ministério Público Federal como sua residência, em Macaé, mas os vizinhos disseram que ele havia mudado havia dois anos.


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