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Dois gerentes da Petrobras testemunharam por lobista
Foragido, Reis atuaria em favor de empresas privadas
ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A MACAÉ (RJ)
Dois gerentes da Petrobras
denunciados pelo Ministério
Público Federal sob acusação
de participarem de fraudes em
licitações da estatal, Carlos Heleno Netto Barbosa e Rômulo
Miguel de Morais, testemunharam em favor do lobista José
Augusto Barbosa Reis em um
processo judicial que corre em
Macaé, litoral norte do Rio.
Reis teve prisão decretada
pela Justiça Federal na Operação Águas Profundas, e é dado
como foragido. Ele foi denunciado sob acusação de atuar como lobista, nos bastidores da
Petrobras, em favor de interesses de empresas privadas. Os
dois gerentes foram presos na
terça-feira e afastados de seus
cargos pela Petrobras.
Ambos deram declarações
por escrito para sustentar que
Reis trabalhava como representante da empresa Santos
Barbosa. Ex-controlador da
companhia, o lobista e seus sócios venderam em 2002 a
maioria de suas ações ao grupo
Wood Group Engineering.
No acordo de venda, Reis ficou com uma pequena participação e o direito de receber
pro-labore de R$ 429 mil ao
ano. No fim de 2003, a Wood
deixou de pagar o pro-labore,
sob a alegação de que Reis havia
abandonado o trabalho.
Para refutar a acusação, o lobista contou com a ajuda dos
dois funcionários da Petrobras.
Gerente-geral da Unidade de
Serviços de Sondagem até terça-feira, quando foi desencadeada a operação, Carlos Heleno Netto Barbosa assinou carta
em papel timbrado da estatal,
na qual afirmava que o lobista
fazia "visitas periódicas" à sua
unidade. Segundo a declaração,
ambos discutiam o andamento
de contrato entre a Petrobras e
a Santos Barbosa. A empresa
tem contrato de R$ 30 milhões
com a Petrobras para manutenção das plataformas de exploração de petróleo P-10, P-14,
P-16, P-17 e P-23.
Netto Barbosa é o executivo
da Petrobrás de maior nível
hierárquico acusado na Operação Águas Profundas, que levou
à denúncia de 26 pessoas, 14
das quais foram presas. O gerente Rômulo Morais assinou
carta na qual afirma que Reis
atuava com "dedicação" e "denodo" na defesa de interesses
da Santos Barbosa, tentando
estabelecer novos contratos,
novas parcerias e ampliar os
contratos já existentes.
O Wood Group disputou a licitação da Petrobras para reforma da plataforma P-16, no ano
passado, e perdeu para a Iesa
Óleo & Gás, empresa acusada
de envolvimento no suposto
esquema de fraudes na estatal.
A licitação, segundo a denúncia, teria sido fraudada por interferência junto a funcionários da Petrobras da Angraporto, apontada como peça-chave
do suposto esquema.
O juiz federal Flávio Oliveira
Lucas, que determinou as prisões, disse que conversas telefônicas gravadas pela Polícia
Federal mostram que Reis teria
recebido R$ 15 mil por serviços
prestados à Angraporto.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, Reis
fez lobby na Petrobras para a
prorrogação de um contrato da
Angraporto de aluguel de cais,
em Angra dos Reis, para reforma da plataforma P-14.
Em seu despacho, o juiz disse
que Reis "atua clandestinamente nos bastidores da Petrobras" e fazia gestões, por meio
de contatos políticos, em Brasília para privilegiar empresas
em licitações da Petrobras.
Outro lado
Um executivo do Wood
Group disse à Folha que Reis
não participa da diretoria nem
do conselho de administração
da Santos Barbosa e que ele
não vai à empresa há mais de
dois anos. O Wood Group, da
Escócia, é uma das maiores
empresas mundiais de montagem industrial. Atua em 40 países, tem 15 mil empregados e
fatura US$ 4 bilhões por ano.
A Folha procurou Barbosa
Reis em seu escritório, no centro de Macaé. Os funcionários
disseram que ele estaria em um
hospital, não identificado. A reportagem esteve também no
endereço citado na denúncia
do Ministério Público Federal
como sua residência, em Macaé, mas os vizinhos disseram
que ele havia mudado havia
dois anos.
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