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Mendes vê ação combinada de PF e Justiça
Presidente do STF diz que Tarso não tem poder para decidir inquéritos nem prisão preventiva e que cabe ao Judiciário julgar
Em ato de advogados em SP, Mendes afirmou que prisão preventiva tem sido usada em muitos casos "para punir", antes da condenação
Eduardo Knapp/Folha Imagem
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Ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo, fala com jornalistas durante visita ao grupo Consultor Jurídico, em São Paulo
ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar
Mendes, disse ontem que o ministro da Justiça, Tarso Genro,
não tem "competência para decidir inquéritos, muito menos
prisão preventiva". Mendes
afirmou que Tarso pode elogiar
o trabalho da Polícia Federal e
do juiz federal Fausto Martin
De Sanctis "como cidadão".
"Cabe ao Judiciário julgar.
Não cabe ao ministro da Justiça
julgar (...) Ele pode fazê-lo [elogiar o trabalho da PF e do juiz]
como cidadão, mas não é competência do ministro da Justiça
decidir inquéritos, muito menos prisão preventiva."
Em entrevista à Folha publicada no domingo, Tarso disse
que seria "muito difícil" para o
banqueiro Daniel Dantas, dono
do banco Opportunity e acusado de corrupção ativa, tráfico
de influência, entre outros crimes, provar sua inocência.
Sanctis decretou duas vezes a
prisão do banqueiro.
O presidente do STF participou ontem de um ato de desagravo que advogados organizaram em seu apoio em São Paulo. Em entrevista exclusiva à
Folha ontem, ele criticou a
ação "concertada" entre polícia, Ministério Público e juízes.
Disse ainda que a prisão preventiva está sendo usada em
muitos casos "para punir" antes de uma condenação. "Quem
está usando a prisão preventiva
como julgamento está com a
premissa errada."
O presidente do Supremo
não quis comentar a Operação
Satiagraha, da PF. Mas deu a
entender que PF, Ministério
Público e Justiça Federal podem estar erroneamente agindo de maneira combinada.
"Cabe à polícia investigar, ao
Ministério Público oferecer denúncia e ao juiz, criticamente,
aceitar ou não denúncia, pedidos de prisão, busca e apreensão. Se essa ação se faz de maneira combinada, ou de maneira concertada, nós já estamos
num modelo distorcido e para
isso nós precisamos ter cuidado", afirmou.
Mendes criticou o excesso de
prisões preventivas, com as
quais o STF tem sido "muito rigoroso". "Não devemos emocionalizar o tema, é preciso tratar com a devida cautela. Até
porque depois a população se
pergunta "e essas prisões espetaculares que levam à absolvições?" -exatamente diante de
acusações malfeitas".
Sobre os ataques que sofre
por ter concedido os dois habeas corpus que garantiram a
liberdade de Dantas, Mendes
afirmou que "críticas, aplauso,
isso é rotina".
Participaram do ato de desagravo vários dos mais renomados advogados do país. Entre
eles, Antônio Cláudio Mariz de
Oliveira, que defendeu o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, Antônio Corrêa Meyer, ex-secretário da Segurança de São
Paulo, Arnaldo Malheiros, que
defendeu o ex-tesoureiro do
PT Delúbio Soares e o banqueiro Edemar Cid Ferreira, além
de Manuel Alceu Affonso Ferreira, Arnoldo Wald, Celso Mori, Daniel Bialski, David Rechulski, Misabel Derzi e Igor
Mauler Santiago.
Assinada por quase 150 advogados, a carta elogia Mendes,
dizendo que eles "se sentem seguros por viver num país que
tem no ápice de sua estrutura
judiciária um magistrado que
tem a coragem e a dignidade de
manter a Constituição acima
da gritaria".
No encontro fechado à imprensa, ao qual a Folha teve
acesso, os criminalistas criticaram a atitude "messiânica" do
delegado da PF Protógenes
Queiroz, da Operação Satiagraha. Criticaram também a atitude do juiz Sanctis. Cauteloso,
Mendes ouviu muito, mas fez
poucos comentários.
Mais tarde, em coletiva à imprensa, Mendes rebateu a afirmação de que "quem não tem
advogado bom fica preso": "O
Tribunal tem recebido pedido
de habeas corpus até em papel
de pão. (...) É preciso encerrar
com esse debate de que o tribunal celebra uma Justiça de
classes. Agora, o dever de instituir defensorias públicas próprias é do Poder Executivo, não
é do Poder Judiciário".
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