São Paulo, terça-feira, 15 de agosto de 2000


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"Ele é que está provocando o processo"

DA SUCURSAL DO RIO

Leia abaixo trechos da entrevista de Anthony Garotinho.

Folha - Leonel Brizola, presidente do PDT, quer que o senhor seja expulso do partido, acusando-o de omissão em sua campanha à Prefeitura do Rio. Ele tem razão?
Garotinho -
Ele é que está provocando o processo. Ninguém no PDT está a favor disso, a não ser ele e um pequeno grupo que fica ao seu lado. Ele quer a expulsão porque está espantado com o tamanho da insatisfação que existe contra a direção partidária da qual faz parte. Brizola quer minha expulsão porque não sabe conviver com a diferença.

Folha -O senhor desde o início não foi simpático à candidatura de Brizola, dizendo que havia um compromisso entre o PDT e o PT para apoiar Benedita da Silva.
Garotinho -
Se há um culpado pela divisão entre as esquerdas no Rio, esse culpado chama-se Leonel Brizola. Ele me disse em março do ano passado que nós não iríamos sustentar o acordo que havíamos feito com o PT antes de minha eleição porque isso inviabilizaria nosso partido no Rio.
Eu contestei essa idéia e ele passou a dizer que o acordo não havia existido. Um acordo público, com testemunhas. Daí nasceu toda nossa divergência.

Folha - Para Brizola, o senhor deveria estar fazendo campanha para ele porque sua candidatura foi uma decisão do partido.
Garotinho -
Como vou fazer campanha para alguém que tem como norte fazer oposição ao meu governo? Ele não quer ser líder, ele quer ser chefe, que não admite questionamento. Eu vou recorrer a todas instâncias do partido e, se todas me expulsarem, vou entrar na Justiça, até o Supremo Tribunal Federal.

Folha - O senhor quer excluir Brizola do partido?
Garotinho -
Nós não queremos isso. Nunca falamos em um PDT sem Brizola. Queremos uma sociedade onde as pessoas tenham o direito de manifestar seu pensamento. Em documentos que temos escrito e trocado com companheiros do partido, nós comparamos o PDT com o PT, de 1982 para frente, quando ambos entraram no processo eleitoral do país. O PDT adotou o modelo de não permitir correntes, discussões ou democracia internas.
Resultado, nosso partido que era maior do que o PT encolheu e os petistas, que com todas suas dificuldades aceitaram o debate interno, se tornaram a referência da esquerda brasileira.

Folha - Os seus críticos dizem que o senhor e os "garotistas" deveriam parar de conversa e se engajar na campanha do partido.
Garotinho -
Para mim não devem existir brizolistas ou garotistas, devem existir trabalhistas, pedetistas. Não estimulo o personalismo. No Rio, só não estou na campanha porque o Brizola não quer. Se ele fizer um gesto de humildade, coisa digna de um líder, e afirmar que tudo o que disse de mim foi dito em um momento em que ele estava amargurado, triste, eu terei condições de fazer campanha para ele.

Folha - Uma candidatura unificada das esquerdas teria o seu apoio?
Garotinho -
Total. Mas eu acredito que, na reta final da eleição, haverá o voto útil dos eleitores progressistas em um só candidato, que enfrentará o outro candidato, escolhido pelo voto dos conservadores, que vão optar pelo Conde. Todo mundo sabe que se Cesar Maia chegar à prefeitura, no dia seguinte ele começa um governo de oposição.

Folha - Se Brizola chegar à prefeitura, ele não vai fazer o mesmo?
Garotinho -
Vou torcer para que ele não brigue comigo.


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