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"Quem hostiliza o Brizola é a direita"
DA SUCURSAL DO RIO
Leia abaixo trechos da entrevista de Leonel Brizola.
Folha - O que o sr. acha da pretensão do governador Garotinho de
convocar uma convenção nacional
para mudar a direção do PDT em
novembro?
Leonel Brizola - Cada dia que
passa ele perde mais a confiança
dos nossos companheiros. Não
sei se até lá ele fará parte das nossas fileiras. Ele está se excluindo
do partido. Está se transladando
para a direita.
A hostilidade gratuita, insólita,
burra, inconsequente, que ele está
movendo contra a minha candidatura é uma prova disso. Quem
hostiliza o Leonel Brizola é a direita. Tem sido assim nesses últimos
decênios. E a direita é uma tendência que um político toma e dificilmente volta atrás.
Folha - A disputa da ala ligada ao
sr....
Brizola - Me desculpe, mas eu
sou a liderança nacional e regional do partido. Eu não tenho ala
no partido. Tanto que foi pelas
minhas mãos que ele (Garotinho)
chegou ao governo do Estado.
Folha - Como em um filme de bangue-bangue, parece que o PDT não
é grande suficientemente para os
dois.
Brizola - (Garotinho) É como
um pitbull que nós criamos dentro de casa. Nós estamos nos defendendo. Ele está usando o poder do Estado em uma tentativa
de nos massacrar. Mas ele vai ver
que eu sou um osso duro de roer.
Ele vai quebrar todos os dentes.
Meus ossos são mais duros do que
marfim. Ele quer o partido para
negociar acessos dele ao poder. Só
o que lhe interessa é o poder. Ele
não tem idéias.
Folha - Garotinho diz esperar
uma retratação. O sr. está disposto
a isso?
Brizola - Se tivesse culpa eu até,
sinceramente, não me escusaria,
já que isso resolve os problemas
de consciência de um semelhante
meu... Mas não tenho culpa nenhuma.
Folha - O sr. o apelidou de Brutus,
Mussolini, Judas...
Brizola - São brincadeiras. Nada
ofende a honra, a dignidade pessoal. São metáforas. Sinceramente, foram até metáforas simpáticas. Compará-lo a um personagem do Império Romano...
Folha - Garotinho o acusa de ter
dividido a esquerda no Rio.
Brizola - Ele diz qualquer coisa.
Ele lançou um candidato (a vice-governadora Benedita da Silva, do
PT) indevidamente. Todos os desacertos começaram a acontecer a
partir daí. A primeira reação foi
do PSB, que nos procurou e nos
disse que não apoiariam a Benedita. O único que uniu a esquerda
no Rio fui eu. Justamente submetendo-me a uma candidatura a vice do Lula (Luiz Inácio Lula da Silva), quando devia ser o contrário,
para ensejar a candidatura dele,
Matheus (sobrenome pelo qual
Brizola se refere a Garotinho).
Folha - O sr. se considera autoritário e personalista dirigindo o
PDT, como dizem alguns?
Brizola - Acho que sou um homem afirmativo, austero, que não
tergiversa no campo dos princípios. Eu nunca impus nada.
Folha - Vários políticos que estavam brilhando dentro do PDT (Cesar Maia, Jaime Lerner, Marcello
Alencar, Saturnino Braga entre outros) deixaram o partido. O sr. tem
azar ou o problema é com o sr.?
Brizola - Essa é uma razão invocada pela direita contra nós. Contra João Goulart, contra mim e
contra o Getúlio, principalmente.
Como é que eu fui tão bom até a
eleição dele (Garotinho)? Era
Deus no céu e Brizola na terra.
Mas eu costumo dizer, Cristo,
que foi Deus, escolheu 12. E entre
os 12 tinha um Judas... Isso acontece em partido de massa.
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