São Paulo, terça-feira, 15 de agosto de 2000


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"Quem hostiliza o Brizola é a direita"

DA SUCURSAL DO RIO

Leia abaixo trechos da entrevista de Leonel Brizola.

Folha - O que o sr. acha da pretensão do governador Garotinho de convocar uma convenção nacional para mudar a direção do PDT em novembro?
Leonel Brizola
- Cada dia que passa ele perde mais a confiança dos nossos companheiros. Não sei se até lá ele fará parte das nossas fileiras. Ele está se excluindo do partido. Está se transladando para a direita.
A hostilidade gratuita, insólita, burra, inconsequente, que ele está movendo contra a minha candidatura é uma prova disso. Quem hostiliza o Leonel Brizola é a direita. Tem sido assim nesses últimos decênios. E a direita é uma tendência que um político toma e dificilmente volta atrás.

Folha - A disputa da ala ligada ao sr....
Brizola
- Me desculpe, mas eu sou a liderança nacional e regional do partido. Eu não tenho ala no partido. Tanto que foi pelas minhas mãos que ele (Garotinho) chegou ao governo do Estado.

Folha - Como em um filme de bangue-bangue, parece que o PDT não é grande suficientemente para os dois.
Brizola
- (Garotinho) É como um pitbull que nós criamos dentro de casa. Nós estamos nos defendendo. Ele está usando o poder do Estado em uma tentativa de nos massacrar. Mas ele vai ver que eu sou um osso duro de roer. Ele vai quebrar todos os dentes. Meus ossos são mais duros do que marfim. Ele quer o partido para negociar acessos dele ao poder. Só o que lhe interessa é o poder. Ele não tem idéias.

Folha - Garotinho diz esperar uma retratação. O sr. está disposto a isso?
Brizola
- Se tivesse culpa eu até, sinceramente, não me escusaria, já que isso resolve os problemas de consciência de um semelhante meu... Mas não tenho culpa nenhuma.

Folha - O sr. o apelidou de Brutus, Mussolini, Judas...
Brizola
- São brincadeiras. Nada ofende a honra, a dignidade pessoal. São metáforas. Sinceramente, foram até metáforas simpáticas. Compará-lo a um personagem do Império Romano...

Folha - Garotinho o acusa de ter dividido a esquerda no Rio.
Brizola
- Ele diz qualquer coisa. Ele lançou um candidato (a vice-governadora Benedita da Silva, do PT) indevidamente. Todos os desacertos começaram a acontecer a partir daí. A primeira reação foi do PSB, que nos procurou e nos disse que não apoiariam a Benedita. O único que uniu a esquerda no Rio fui eu. Justamente submetendo-me a uma candidatura a vice do Lula (Luiz Inácio Lula da Silva), quando devia ser o contrário, para ensejar a candidatura dele, Matheus (sobrenome pelo qual Brizola se refere a Garotinho).

Folha - O sr. se considera autoritário e personalista dirigindo o PDT, como dizem alguns?
Brizola
- Acho que sou um homem afirmativo, austero, que não tergiversa no campo dos princípios. Eu nunca impus nada.

Folha - Vários políticos que estavam brilhando dentro do PDT (Cesar Maia, Jaime Lerner, Marcello Alencar, Saturnino Braga entre outros) deixaram o partido. O sr. tem azar ou o problema é com o sr.?
Brizola
- Essa é uma razão invocada pela direita contra nós. Contra João Goulart, contra mim e contra o Getúlio, principalmente. Como é que eu fui tão bom até a eleição dele (Garotinho)? Era Deus no céu e Brizola na terra.
Mas eu costumo dizer, Cristo, que foi Deus, escolheu 12. E entre os 12 tinha um Judas... Isso acontece em partido de massa.


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