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TRANSIÇÃO
Presidente sobe o tom e afirma que país não aceita mais "truque"
FHC diz que quem "ousar" sair do caminho terá resistência
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou ontem
dois eventos diferentes para dar
um recado aos candidatos à Presidência: eles terão de cumprir os
acordos e quem "ousar" mudar a
atual política econômica enfrentará resistência da população.
Para FHC, os candidatos devem
dizer de modo crível que apóiam
o acordo com o FMI.
"Quando se vai numa direção
certa, quem ousar sair dela na
prática -nas palavras pode dizer
o que quiser- encontrará resistência. Esse país não aceita mais
inflação. Não aceita mais truque
ou que não se honre a palavra dada", disse à noite, em discurso de
comemoração dos 60 anos do Senai, na sede da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Depois de desejar que os "pessimistas" não estivessem no Brasil,
FHC disse que a vontade nacional
é seguir o rumo de seu governo,
permitindo atalhos. "Fazer um
caminho leva muito tempo. Perder o caminho é questão de meses. Perder o apoio da população,
às belas palavras, é quase instantâneo, havendo algum acidente
mais grave."
FHC negou que estivesse fazendo política partidária ou que tivesse a "pretensão de ditar a melhor maneira". Disse que, sob seu
comando, o país avançou "com
crise ou sem crise, com turbulência ou sem turbulência".
Em entrevista à jornalista Míriam Leitão, da GloboNews, o
presidente disse que quer que os
candidatos "sejam responsáveis"
e não digam "palavras vazias".
"Eu quero dizer [aos candidatos] o seguinte: "Olha, vamos fazer
um esforço para dizer o que vocês
pensam de tal forma que seja crível". Porque, se não for crível, a taxa de juros vai lá para cima, o dólar vai ter efeito sobre a inflação e,
quando começar o governo, no
ano que vem, esse governo vai começar no meio de uma crise."
"Queiram ou não"
Para FHC, a população até entende "os exageros demagógicos"
da campanha, mas "é preciso que
se explique mais [o acordo com o
Fundo], para que os candidatos
não sejam levados a recursos desnecessários de retórica".
"Eu acho que os candidatos,
queiram ou não queiram, vão ter
que cumprir os acordos. Eu suponho que queiram, mas, mesmo
que não quisessem, o Brasil tem
instituições fortes, tem Congresso, tem mídia, tem sindicatos, tem
a dona-de-casa e o homem simples que sabem que, se não fizer
isso, tome inflação."
Sem citar nomes, afirmou: "Não
vejo por que um candidato neste
momento possa arriscar a estabilidade dizendo "Eu não vou fazer
isso, eu não vou fazer aquilo", vai
fazer o quê?".
Mais adiante, FHC disse que
"não adianta espernear contra
um caminho e não apontar outro". "Se algum candidato quiser
tirar proveito da situação, ele perde. Perde em credibilidade, perde
em compostura e depois perde
voto." Para FHC, "tirar proveito
eleitoral da crise, ninguém tira".
Ao comentar sua decisão de
chamar os candidatos para conversar, o presidente afirmou que
"não adianta tapar o sol com a peneira". "Existe uma certa inquietação nos mercados e é preciso
que essa inquietação se acalme."
Ele disse que não vê razão para
os candidatos de oposição não
apoiarem o acordo com o FMI.
Referindo-se à afirmação do
candidato do PT à Presidência,
Luiz Inácio Lula da Silva, de que
não iria dividir responsabilidade
com o governo pela crise, FHC
afirmou: "Não quero dividir responsabilidade com ninguém não.
Eu estou assumindo as minhas
responsabilidades".
O presidente deu apoio a Lula
quando o candidato disse que o
país não está quebrado. "O Lula
disse muito bem, não há nada
quebrado. Quebrada está a cabeça
de algumas pessoas, principalmente lá fora."
Questionado sobre alianças de
candidatos do PSDB nos Estados
com opositores do governo, FHC
perguntou: "Num país onde o PT
se aliou ao PL, um partido liberal,
você pode pedir o quê de coerência a quem quer que seja?".
FHC disse que não estava criticando o PT, mas o sistema político brasileiro, que força alianças
como essa. "O Congresso é poderoso, mas os partidos não são suficientemente organizados. Isso
leva a que eleição seja quase pessoal, um torneio de pessoas, mas a
política [do governo] não, ela depende do Congresso".
E disse que poderia ter sido eleito sem o apoio do PFL, mas que
fez aliança com o partido porque
precisava dele para governar.
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