São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 2002

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TRANSIÇÃO

Presidente sobe o tom e afirma que país não aceita mais "truque"

FHC diz que quem "ousar" sair do caminho terá resistência

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou ontem dois eventos diferentes para dar um recado aos candidatos à Presidência: eles terão de cumprir os acordos e quem "ousar" mudar a atual política econômica enfrentará resistência da população.
Para FHC, os candidatos devem dizer de modo crível que apóiam o acordo com o FMI.
"Quando se vai numa direção certa, quem ousar sair dela na prática -nas palavras pode dizer o que quiser- encontrará resistência. Esse país não aceita mais inflação. Não aceita mais truque ou que não se honre a palavra dada", disse à noite, em discurso de comemoração dos 60 anos do Senai, na sede da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Depois de desejar que os "pessimistas" não estivessem no Brasil, FHC disse que a vontade nacional é seguir o rumo de seu governo, permitindo atalhos. "Fazer um caminho leva muito tempo. Perder o caminho é questão de meses. Perder o apoio da população, às belas palavras, é quase instantâneo, havendo algum acidente mais grave."
FHC negou que estivesse fazendo política partidária ou que tivesse a "pretensão de ditar a melhor maneira". Disse que, sob seu comando, o país avançou "com crise ou sem crise, com turbulência ou sem turbulência".
Em entrevista à jornalista Míriam Leitão, da GloboNews, o presidente disse que quer que os candidatos "sejam responsáveis" e não digam "palavras vazias".
"Eu quero dizer [aos candidatos] o seguinte: "Olha, vamos fazer um esforço para dizer o que vocês pensam de tal forma que seja crível". Porque, se não for crível, a taxa de juros vai lá para cima, o dólar vai ter efeito sobre a inflação e, quando começar o governo, no ano que vem, esse governo vai começar no meio de uma crise."

"Queiram ou não"
Para FHC, a população até entende "os exageros demagógicos" da campanha, mas "é preciso que se explique mais [o acordo com o Fundo], para que os candidatos não sejam levados a recursos desnecessários de retórica".
"Eu acho que os candidatos, queiram ou não queiram, vão ter que cumprir os acordos. Eu suponho que queiram, mas, mesmo que não quisessem, o Brasil tem instituições fortes, tem Congresso, tem mídia, tem sindicatos, tem a dona-de-casa e o homem simples que sabem que, se não fizer isso, tome inflação."
Sem citar nomes, afirmou: "Não vejo por que um candidato neste momento possa arriscar a estabilidade dizendo "Eu não vou fazer isso, eu não vou fazer aquilo", vai fazer o quê?".
Mais adiante, FHC disse que "não adianta espernear contra um caminho e não apontar outro". "Se algum candidato quiser tirar proveito da situação, ele perde. Perde em credibilidade, perde em compostura e depois perde voto." Para FHC, "tirar proveito eleitoral da crise, ninguém tira".
Ao comentar sua decisão de chamar os candidatos para conversar, o presidente afirmou que "não adianta tapar o sol com a peneira". "Existe uma certa inquietação nos mercados e é preciso que essa inquietação se acalme."
Ele disse que não vê razão para os candidatos de oposição não apoiarem o acordo com o FMI.
Referindo-se à afirmação do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, de que não iria dividir responsabilidade com o governo pela crise, FHC afirmou: "Não quero dividir responsabilidade com ninguém não. Eu estou assumindo as minhas responsabilidades".
O presidente deu apoio a Lula quando o candidato disse que o país não está quebrado. "O Lula disse muito bem, não há nada quebrado. Quebrada está a cabeça de algumas pessoas, principalmente lá fora."
Questionado sobre alianças de candidatos do PSDB nos Estados com opositores do governo, FHC perguntou: "Num país onde o PT se aliou ao PL, um partido liberal, você pode pedir o quê de coerência a quem quer que seja?".
FHC disse que não estava criticando o PT, mas o sistema político brasileiro, que força alianças como essa. "O Congresso é poderoso, mas os partidos não são suficientemente organizados. Isso leva a que eleição seja quase pessoal, um torneio de pessoas, mas a política [do governo] não, ela depende do Congresso".
E disse que poderia ter sido eleito sem o apoio do PFL, mas que fez aliança com o partido porque precisava dele para governar.



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