São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DA CASSAÇÃO

Câmara cassa Jefferson; cheque complica Severino

Com 313 votos, mandato de deputado que denunciou o "mensalão" é cassado

Empresário mostra cheque sacado por secretária do presidente da Câmara


Cento e dois dias após deflagrar a maior crise política do governo Lula, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) foi cassado ontem pela Câmara por 313 votos contra 156. No mesmo dia, agravou-se a situação do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), após o empresário Sebastião Buani apresentar um cheque sacado por uma secretária do deputado. Com a revelação, o deputado passou a sofrer pressão até de aliados para renunciar.
Jefferson é o primeiro parlamentar a perder o mandato no plenário por causa do "mensalão", denunciado pelo próprio petebista em entrevista à Folha no dia 6 de junho. Dois outros renunciaram para não perder seus direitos políticos -Carlos Rodrigues e Valdemar Costa Neto, ambos do PL. O petebista, fiel ao estilo adotado desde o início da crise, fez um discurso, antes da votação, recheado de ataques. Não poupou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acusando-o de ter cometido crime de "omissão", e buscou um apoio de última hora ao dizer que o governo tenta transferir para o Congresso a responsabilidade pelo escândalo do "mensalão".
Severino Cavalcanti não pôde presidir a sessão que cassou o mandato de Jefferson. Ele ficou refugiado em sua residência oficial. A avaliação é que sua situação ficou insustentável depois de Buani apresentar um cheque de R$ 7.500, sacado em 30 de julho de 2002 por Gabriela Kênia da Silva Santos Martins, secretária de Severino. Seria a prova de que o deputado recebeu o "mensalinho" em troca de prorrogar a concessão de Buani para explorar um restaurante na Câmara. Sob o risco de cassação, o deputado ainda resiste. À Polícia Federal, sua secretária disse que o dinheiro foi destinado a pagar despesas de campanha de um dos filhos de Severino, morto pouco tempo depois do saque.
Ao menos seis petistas, porém, tiveram o que comemorar ontem. Sob o risco de perder o mandato, os deputados conseguiram uma liminar, concedida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, que lhes dá mais tempo para definir se renunciam ou não. A medida impediu que o Conselho de Ética da Câmara abrisse processo contra eles ontem.


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