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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CASSAÇÃO NO AR
Para líderes do PSDB e do PFL, liminar atinge soberania da Câmara; João Paulo comemora "facho de luz na irracionalidade"
Oposição vê interferência do Judiciário
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A decisão do presidente do STF
(Supremo Tribunal Federal), Nelson Jobim, de mandar suspender
os processos de cassação contra
seis deputados federais do PT foi
considerada pela oposição na Câmara dos Deputados como uma
"interferência indevida" em assuntos do Legislativo e provocou
uma reação em cadeia entre outros parlamentares em risco.
Um deputado que cogitava a hipótese de renunciar ontem ao
mandato, José Borba (PMDB-PR), ex-líder da sigla, ao saber da
decisão do STF no final da manhã,
revisou o plano e pediu que seu
advogado estudasse medida semelhante à dos petistas. O deputado José Janene (PP-PR) disse
que também recorrerá ao STF.
O líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), demonstrou irritação
com a liminar concedida pelo
STF. "A decisão de Jobim contraria tudo o que ele tem dito. Ele
sempre disse que o Judiciário não
pode interferir nas questões de
outros Poderes", disse.
No texto de sua decisão, Jobim
cita decisão de outro ministro do
STF, Celso de Mello, segundo a
qual "o regular exercício da função jurisdicional (...), desde que
pautado pelo respeito à Constituição, não transgride o princípio da
separação de Poderes". Ele afirma
ser esse o caso da sua decisão.
O líder do PFL, Rodrigo Maia
(RJ), lamentou a decisão do presidente do STF. "O Supremo está
cerceando os trabalhos do Parlamento", disse o deputado. Ele cobrou do STF uma decisão rápida
sobre o assunto.
A liminar suspendeu a tramitação dos processos de cassação
contra os petistas até o julgamento do mérito - se houve ou não
cerceamento da defesa - até ontem sem data prevista. "O Supremo não pode ficar segurando isso.
A decisão deve ser tomada ainda
nesta semana", disse Maia.
Integrante da CPI dos Correios,
Eduardo Paes (PSDB-RJ) afirmou
que o Judiciário estava interferindo "em decisões soberanas" do
Congresso e pediu que a própria
CPI pressione a Câmara a tomar
medidas contra a decisão do STF.
O comando da Câmara deu sinais ontem de que não recorrerá
da liminar. "Decisão do Supremo
se cumpre", disse ontem o primeiro-vice-presidente da Casa,
José Thomaz Nonô (PFL-AL),
que presidia a sessão.
O deputado João Paulo Cunha
(PT-SP), um dos beneficiados
com a decisão do STF, louvou a
medida. "É um facho de luz na irracionalidade desse processo",
disse o deputado, alegando não
ter sido ouvido pelas CPIs dos
Correios e do Mensalão.
Na sessão de ontem, um dos beneficiados pela decisão do STF,
Professor Luizinho (PT-SP), disse
que não há interferência do Judiciário no Legislativo. Em discurso, aproveitou para "consagrar e
homenagear o presidente do Supremo".
(RUBENS VALENTE)
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