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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DO "MENSALINHO"
Em depoimento à PF, Gabriela Martins afirma que dinheiro seria doação de Sebastião Buani à candidatura de filho do deputado
Secretária dá nova versão sobre cheque
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Gabriela Kênia Martins, há dez
anos secretária do presidente da
Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE), confirmou ontem, em depoimento na Polícia Federal, ser a
responsável por sacar, na boca do
caixa, um cheque de R$ 7.500 do
empresário Sebastião Buani.
O saque, realizado em 30 de julho de 2002, segundo ela, foi feito
a pedido de Severino Júnior, filho
do parlamentar, que morreu em
um acidente no mês seguinte. O
dinheiro teria sido destinado ao
caixa de sua campanha a deputado por Pernambuco naquele ano.
Buani, porém, nega ter feito
contribuições ao então candidato.
Gabriela disse ter trabalhado na
campanha de Severino Júnior. Na
seqüência, em contradição, afirmou ter sido o saque do cheque
sua única missão. Ainda conforme o depoimento da secretária, o
dinheiro foi destinado a pagar
produtos e serviços contratados
pelo candidato em Brasília, onde
os preços seriam melhores do que
no Estado da eleição.
A revelação do saque feito por
Gabriela colocou Severino definitivamente sob suspeita de que tenha praticado crime de concussão
(extorsão praticada por servidor
público) ou corrupção ativa. O
Código Penal prevê penas de um a
oito anos de prisão, além de multa, para a prática de tais crimes.
Buani apresentou cópia do cheque à PF e à imprensa ontem pela
manhã. Para o empresário, a assinatura de Gabriela como sacadora do cheque prova que Severino
seria o beneficiário do chamado
"mensalinho", uma mesada de
R$ 10 mil que lhe seria paga por
Buani em troca de continuar como concessionário do principal
restaurante da Câmara.
Aos investigadores, Gabriela
disse que pegou o cheque com
Buani no restaurante e o descontou fora do expediente bancário
com Jane Albuquerque, então gerente da agência do Bradesco na
qual o empresário tem conta.
Ouvida pela PF anteontem, Jane
disse não se lembrar do episódio.
Já Buani diz ter entregado o cheque nas mãos de Severino.
STF
Por conta dos novos acontecimentos, o procurador-geral da
República, Antonio Fernando
Souza, acertou com a PF que o inquérito deve seguir para o Supremo Tribunal Federal o mais breve
possível -o prazo previsto para o
traslado era até 4 de outubro.
O envio ao STF deve acontecer
nesta sexta-feira. Até lá, a PF pretende ouvir novamente Buani, a
gerente Jane Albuquerque e a filha do empresário, Gisele, gerente
financeira do restaurante.
Apontada por Buani como uma
das pessoas que, no gabinete de
Severino, ao longo de 2003, teria
recebido envelopes de dinheiro
com o "mensalinho", Gabriela foi
ouvida pela primeira vez pela PF
na última sexta. Na ocasião, negou a acusação dizendo que "nega
peremptoriamente os fatos atribuídos ao deputado Severino Cavalcanti concernentes ao "mensalinho'". Ontem, confrontada com
a negativa anterior, alegou que
não considerava relevante, para a
investigação do "mensalinho", o
saque do cheque de Buani.
Quando recebeu a intimação
para prestar depoimento, Gabriela estava na residência oficial da
presidência da Câmara, na qual a
entrada dos policiais federais não
foi permitida. Funcionários da casa levaram o documento até Gabriela, que o assinou.
A secretária de Severino se apresentou para depor às 15h. Chegou
à sede da PF em um carro oficial
da Câmara, com motorista e
acompanhada do marido, Cláudio Martins, do chefe da assessoria jurídica da Casa, Marcos Vasconcelos, e do advogado José
Eduardo Alckmin, que também
defende Severino. Sob o comando
de Vasconcelos, que alegou ser
"autoridade", o grupo tentou entrar pela garagem do edifício.
Diante da negativa -pois o depoimento seria de Gabriela, que
não é autoridade-, dirigiram-se
a pé à entrada do prédio. A secretária não disse nenhuma palavra.
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