São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DO "MENSALINHO"

Em depoimento à PF, Gabriela Martins afirma que dinheiro seria doação de Sebastião Buani à candidatura de filho do deputado

Secretária dá nova versão sobre cheque

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Gabriela Kênia Martins, há dez anos secretária do presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE), confirmou ontem, em depoimento na Polícia Federal, ser a responsável por sacar, na boca do caixa, um cheque de R$ 7.500 do empresário Sebastião Buani.
O saque, realizado em 30 de julho de 2002, segundo ela, foi feito a pedido de Severino Júnior, filho do parlamentar, que morreu em um acidente no mês seguinte. O dinheiro teria sido destinado ao caixa de sua campanha a deputado por Pernambuco naquele ano.
Buani, porém, nega ter feito contribuições ao então candidato.
Gabriela disse ter trabalhado na campanha de Severino Júnior. Na seqüência, em contradição, afirmou ter sido o saque do cheque sua única missão. Ainda conforme o depoimento da secretária, o dinheiro foi destinado a pagar produtos e serviços contratados pelo candidato em Brasília, onde os preços seriam melhores do que no Estado da eleição.
A revelação do saque feito por Gabriela colocou Severino definitivamente sob suspeita de que tenha praticado crime de concussão (extorsão praticada por servidor público) ou corrupção ativa. O Código Penal prevê penas de um a oito anos de prisão, além de multa, para a prática de tais crimes.
Buani apresentou cópia do cheque à PF e à imprensa ontem pela manhã. Para o empresário, a assinatura de Gabriela como sacadora do cheque prova que Severino seria o beneficiário do chamado "mensalinho", uma mesada de R$ 10 mil que lhe seria paga por Buani em troca de continuar como concessionário do principal restaurante da Câmara.
Aos investigadores, Gabriela disse que pegou o cheque com Buani no restaurante e o descontou fora do expediente bancário com Jane Albuquerque, então gerente da agência do Bradesco na qual o empresário tem conta.
Ouvida pela PF anteontem, Jane disse não se lembrar do episódio. Já Buani diz ter entregado o cheque nas mãos de Severino.

STF
Por conta dos novos acontecimentos, o procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, acertou com a PF que o inquérito deve seguir para o Supremo Tribunal Federal o mais breve possível -o prazo previsto para o traslado era até 4 de outubro.
O envio ao STF deve acontecer nesta sexta-feira. Até lá, a PF pretende ouvir novamente Buani, a gerente Jane Albuquerque e a filha do empresário, Gisele, gerente financeira do restaurante.
Apontada por Buani como uma das pessoas que, no gabinete de Severino, ao longo de 2003, teria recebido envelopes de dinheiro com o "mensalinho", Gabriela foi ouvida pela primeira vez pela PF na última sexta. Na ocasião, negou a acusação dizendo que "nega peremptoriamente os fatos atribuídos ao deputado Severino Cavalcanti concernentes ao "mensalinho'". Ontem, confrontada com a negativa anterior, alegou que não considerava relevante, para a investigação do "mensalinho", o saque do cheque de Buani.
Quando recebeu a intimação para prestar depoimento, Gabriela estava na residência oficial da presidência da Câmara, na qual a entrada dos policiais federais não foi permitida. Funcionários da casa levaram o documento até Gabriela, que o assinou.
A secretária de Severino se apresentou para depor às 15h. Chegou à sede da PF em um carro oficial da Câmara, com motorista e acompanhada do marido, Cláudio Martins, do chefe da assessoria jurídica da Casa, Marcos Vasconcelos, e do advogado José Eduardo Alckmin, que também defende Severino. Sob o comando de Vasconcelos, que alegou ser "autoridade", o grupo tentou entrar pela garagem do edifício. Diante da negativa -pois o depoimento seria de Gabriela, que não é autoridade-, dirigiram-se a pé à entrada do prédio. A secretária não disse nenhuma palavra.


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