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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DO "MENSALINHO"
Deputado sofre pressões até de aliados para abrir mão do mandato, mas diz que é "muito teimoso" e que não quer "sair mal"
Severino adia decisão sobre sua renúncia
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Pressionado ontem durante todo o dia a renunciar ao mandato,
o presidente da Câmara, Severino
Cavalcanti (PP-PE), 74, decidiu
adiar sua decisão até que apresente o que chama de "provas contra
todas as acusações".
Severino passou ontem o dia inteiro escolhendo a melhor forma
de responder ao cheque de
R$ 7.500 que foi endossado por
uma de suas secretárias, Gabriela
Kênia da Silva Santos Martins, em
2002. O dinheiro saiu da conta do
empresário Sebastião Buani, que
acusa o presidente da Câmara de
receber um "mensalinho".
"Ontem [anteontem], a situação era muito favorável para
mim. Hoje [ontem], com o aparecimento desse documento, desse
cheque, ficou muito ruim", disse
o presidente da Câmara à Folha.
Indagado como tem reagido às
sugestões de familiares e de aliados para que renuncie, respondeu: "Estão querendo que eu saia,
mas sou muito teimoso. Primeiro
preciso provar minha inocência".
A Folha apurou que o presidente da Câmara considera sua situação irreversível do ponto de vista
político. Ainda não está claro se
ele vai renunciar ao mandato ou
apenas à presidência da Câmara.
A possibilidade maior é que renuncie ao mandato, conforme explicação dada por um de seus aliados mais fiéis, o deputado Cleonâncio Fonseca (PP-SE), de quem
recebeu uma visita logo cedo:
"Se o Severino renunciar só à
Presidência da Câmara, ficando
um deputado comum, é como
uma barata solta no galinheiro
-as galinhas vão bicar sem parar. Ele vai ter que achar uma telha para se esconder e é difícil".
As "provas contra todas as acusações" que Severino apresentará
foram construídas ontem. Houve
duas versões diferentes.
Na parte da manhã, assessores
do presidente da Câmara sustentavam que o cheque recebido por
Gabriela era produto de uma operação de agiotagem de Sebastião
Buani. Uma anotação no verso do
documento "(-960,20)" seria indicação do juro de 9,2% cobrado
pelo suposto empréstimo. Essa
versão durou poucas horas.
No início da tarde, surgiu uma
nova explicação que foi mantida
até o final do dia. "Esse dinheiro
foi doação dele para as campanhas minha e do Júnior em 2002.
Amanhã vou ter as notas fiscais
da gráfica para provar isso tudo",
explica Severino.
Júnior, no caso, é Severino Cavalcanti Júnior, que foi candidato
a deputado estadual em Pernambuco em 2002. Júnior morreu antes do pleito, em um acidente de
carro. Foi substituído por Ana Cavalcanti, também filha do presidente da Câmara. Ela foi eleita.
As duas principais preocupações de Severino a respeito de sua
possível renúncia são: 1) deseja
demonstrar que não recebeu esses R$ 7.500 para uso pessoal, mas
em sua campanha e 2) precisa se
certificar de que terá rendimentos
suficientes na forma de aposentadoria de ex-deputado. Disse isso a
vários interlocutores com quem
esteve ao longo do dia. O assunto
foi tratado também entre Severino e sua mulher Amélia, e as duas
filhas, Ana e Catarina.
Logo depois do meio-dia, começaram a chegar os políticos até
a residência oficial da presidência
da Câmara, no bairro Lago Sul,
onde Severino passou todo o dia.
Os líderes dos partidos da base
aliada ficaram ali até por volta das
15h, quando começaram a sair.
Estiveram com Severino os deputados Aldo Rebelo (PC do B-SP), Arlindo Chinaglia (PT-SP),
Fernando Ferro (PT-PE), João
Caldas (PL-AL), José Janene (PP-PR), Renildo Calheiros (PC do B-PE), Sandro Mabel (PL-GO) e
Wilson Santiago (PMDB-PB).
"Friamente, todos preferem que
ele renuncie, ao menos à presidência. Acredito que de 48 horas a
72 horas ele tome essa decisão. Ele
está querendo enfrentar o processo, mas o aconselhamento é pela
renúncia", relatou o deputado
João Caldas sobre a conversa.
Líder do governo na Câmara, o
petista Arlindo Chinaglia evitou
tomar uma posição. "Houve
aquecimento da temperatura política e a situação dele piorou.
Quanto a ser insustentável, é preciso enfatizar que temos de seguir
todos os caminhos legais."
Por volta das 13h30, telefonou
para Severino o ministro Jaques
Wagner (Relações Institucionais).
O presidente da Câmara se levantou e ninguém ouviu o que disse.
Segundo a Folha apurou, Wagner
disse discordar da eventual possibilidade de uma licença do cargo.
O melhor seria uma renúncia. Severino admitiu discutir a hipótese, mas não imediatamente.
No final do dia, Severino recebeu o seu principal aliado na Câmara, o corregedor da Casa, Ciro
Nogueira (PP-PI). Reafirmou
que, por enquanto, fica no cargo.
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