São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DO "MENSALINHO"

Deputado sofre pressões até de aliados para abrir mão do mandato, mas diz que é "muito teimoso" e que não quer "sair mal"

Severino adia decisão sobre sua renúncia

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Pressionado ontem durante todo o dia a renunciar ao mandato, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), 74, decidiu adiar sua decisão até que apresente o que chama de "provas contra todas as acusações".
Severino passou ontem o dia inteiro escolhendo a melhor forma de responder ao cheque de R$ 7.500 que foi endossado por uma de suas secretárias, Gabriela Kênia da Silva Santos Martins, em 2002. O dinheiro saiu da conta do empresário Sebastião Buani, que acusa o presidente da Câmara de receber um "mensalinho".
"Ontem [anteontem], a situação era muito favorável para mim. Hoje [ontem], com o aparecimento desse documento, desse cheque, ficou muito ruim", disse o presidente da Câmara à Folha. Indagado como tem reagido às sugestões de familiares e de aliados para que renuncie, respondeu: "Estão querendo que eu saia, mas sou muito teimoso. Primeiro preciso provar minha inocência".
A Folha apurou que o presidente da Câmara considera sua situação irreversível do ponto de vista político. Ainda não está claro se ele vai renunciar ao mandato ou apenas à presidência da Câmara. A possibilidade maior é que renuncie ao mandato, conforme explicação dada por um de seus aliados mais fiéis, o deputado Cleonâncio Fonseca (PP-SE), de quem recebeu uma visita logo cedo:
"Se o Severino renunciar só à Presidência da Câmara, ficando um deputado comum, é como uma barata solta no galinheiro -as galinhas vão bicar sem parar. Ele vai ter que achar uma telha para se esconder e é difícil".
As "provas contra todas as acusações" que Severino apresentará foram construídas ontem. Houve duas versões diferentes.
Na parte da manhã, assessores do presidente da Câmara sustentavam que o cheque recebido por Gabriela era produto de uma operação de agiotagem de Sebastião Buani. Uma anotação no verso do documento "(-960,20)" seria indicação do juro de 9,2% cobrado pelo suposto empréstimo. Essa versão durou poucas horas.
No início da tarde, surgiu uma nova explicação que foi mantida até o final do dia. "Esse dinheiro foi doação dele para as campanhas minha e do Júnior em 2002. Amanhã vou ter as notas fiscais da gráfica para provar isso tudo", explica Severino.
Júnior, no caso, é Severino Cavalcanti Júnior, que foi candidato a deputado estadual em Pernambuco em 2002. Júnior morreu antes do pleito, em um acidente de carro. Foi substituído por Ana Cavalcanti, também filha do presidente da Câmara. Ela foi eleita.
As duas principais preocupações de Severino a respeito de sua possível renúncia são: 1) deseja demonstrar que não recebeu esses R$ 7.500 para uso pessoal, mas em sua campanha e 2) precisa se certificar de que terá rendimentos suficientes na forma de aposentadoria de ex-deputado. Disse isso a vários interlocutores com quem esteve ao longo do dia. O assunto foi tratado também entre Severino e sua mulher Amélia, e as duas filhas, Ana e Catarina.
Logo depois do meio-dia, começaram a chegar os políticos até a residência oficial da presidência da Câmara, no bairro Lago Sul, onde Severino passou todo o dia. Os líderes dos partidos da base aliada ficaram ali até por volta das 15h, quando começaram a sair.
Estiveram com Severino os deputados Aldo Rebelo (PC do B-SP), Arlindo Chinaglia (PT-SP), Fernando Ferro (PT-PE), João Caldas (PL-AL), José Janene (PP-PR), Renildo Calheiros (PC do B-PE), Sandro Mabel (PL-GO) e Wilson Santiago (PMDB-PB).
"Friamente, todos preferem que ele renuncie, ao menos à presidência. Acredito que de 48 horas a 72 horas ele tome essa decisão. Ele está querendo enfrentar o processo, mas o aconselhamento é pela renúncia", relatou o deputado João Caldas sobre a conversa.
Líder do governo na Câmara, o petista Arlindo Chinaglia evitou tomar uma posição. "Houve aquecimento da temperatura política e a situação dele piorou. Quanto a ser insustentável, é preciso enfatizar que temos de seguir todos os caminhos legais."
Por volta das 13h30, telefonou para Severino o ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais). O presidente da Câmara se levantou e ninguém ouviu o que disse. Segundo a Folha apurou, Wagner disse discordar da eventual possibilidade de uma licença do cargo. O melhor seria uma renúncia. Severino admitiu discutir a hipótese, mas não imediatamente.
No final do dia, Severino recebeu o seu principal aliado na Câmara, o corregedor da Casa, Ciro Nogueira (PP-PI). Reafirmou que, por enquanto, fica no cargo.


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