São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2005

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Cheque une oposição e base aliada

RANIER BRAGON
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A revelação de que uma funcionária de Severino Cavalcanti (PP-PE) descontou um cheque de Sebastião Buani uniu governo e oposição em um mesmo discurso e deflagrou a corrida para encontrar um nome para sua sucessão.
O empresário ainda dava a entrevista, pouco depois das 11h, e deputados da oposição se avolumavam no Salão Verde da Câmara disputando microfones e câmeras para reforçar os pedidos de derrubada do presidente da Casa.
Os governistas, até ontem cautelosos, aderiram ao "fora Severino" minutos depois. Muitos dos que distribuíam declarações ainda não sabiam ou nem deram importância às contradições na história de Buani, como o fato de o cheque ser de 2002, quando ele dissera ter pago o "mensalinho" a Severino em 2003. A sentença política já estava dada.
"A aparição de uma prova material altera completamente a situação. Na minha opinião, o presidente Severino deve renunciar à presidência da Câmara", afirmou o líder do PT, Henrique Fontana (RS), que até ontem era contra a abertura de processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara.
Depois do cheque, o PT decidiu ele próprio apresentar o pedido de cassação, que se somaria ao já feito pela oposição anteontem. O PSB faria o mesmo: "É o fim. O que nos faltava era essa prova material", disse Renato Casagrande (ES), líder da bancada.
Aliados de Severino, após passarem dias em aparente tranqüilidade, finalmente soaram o alarme. "O cheque torna verossímeis as acusações, mas é preciso esperar a resposta do presidente", disse Francisco Dornelles (PP-RJ). "Ficou muito ruim", opinou João Pizzolatti (PP-SC). "Juridicamente não há nada contra ele, mas politicamente ficou insustentável", reforçou Bendito Dias (PP-AP).
Não há precedente de um presidente da Câmara que, no exercício do cargo, tenha renunciado ou sido destituído por meio de cassação. Ibsen Pinheiro (PMDB), que foi cassado em 1994, já não era presidente da Casa quando perdeu o mandato. Já no Senado, em 2001, Jader Barbalho (PMDB) se afastou da presidência da Casa e depois renunciou ao mandato.
Um dos expoentes do movimento pela destituição de Severino, o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), líder da oposição, ironizou ao dizer que o cheque "era a prova que não faltava".
"Quando representamos contra o presidente da Câmara [pedindo sua cassação] não representamos apenas em cima de evidências, mas em cima de várias provas", disse. Aleluia apoiou a eleição de Severino em fevereiro.
Mesmo entre colegas de Severino na Mesa Diretora, a opinião foi de que Severino ficou em situação insustentável. "Não adianta muito as versões que ele apresentar, as versões estão perdendo a força", diz o 3º secretário, Eduardo Gomes (PSDB-TO).
O tucano Alberto Goldman (SP), líder do partido na Câmara, disse que em nenhum momento o PSDB fraquejou na intenção de pedir a cassação de Severino. "Para mim não havia necessidade de contrato, de cheque. As provas testemunhais são muito mais fortes." Goldman também apoiou a eleição de Severino.
O presidente interino do PT, Tarso Genro, e o secretário-geral do partido, Ricardo Berzoini, disseram que a situação de Severino fica insustentável. "Se tem prova, se apresentou o cheque, [Severino] simplesmente não tem condição de permanecer", disse Berzoini. "Confirmada a autenticidade dessa assinatura e essa relação espúria com o empresário, ele tem de ser cassado", disse Tarso.
Governo e oposição procuram um nome de consenso que resgate a credibilidade da Câmara. Eduardo Campos (PSB-PE) e Sigmaringa Seixas (PT-DF) são os nomes mais citados.


Colaborou a Reportagem Local

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