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Cheque une oposição e base aliada
RANIER BRAGON
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A revelação de que uma funcionária de Severino Cavalcanti (PP-PE) descontou um cheque de Sebastião Buani uniu governo e
oposição em um mesmo discurso
e deflagrou a corrida para encontrar um nome para sua sucessão.
O empresário ainda dava a entrevista, pouco depois das 11h, e
deputados da oposição se avolumavam no Salão Verde da Câmara disputando microfones e câmeras para reforçar os pedidos de
derrubada do presidente da Casa.
Os governistas, até ontem cautelosos, aderiram ao "fora Severino" minutos depois. Muitos dos
que distribuíam declarações ainda não sabiam ou nem deram importância às contradições na história de Buani, como o fato de o
cheque ser de 2002, quando ele
dissera ter pago o "mensalinho" a
Severino em 2003. A sentença política já estava dada.
"A aparição de uma prova material altera completamente a situação. Na minha opinião, o presidente Severino deve renunciar à
presidência da Câmara", afirmou
o líder do PT, Henrique Fontana
(RS), que até ontem era contra a
abertura de processo de cassação
no Conselho de Ética da Câmara.
Depois do cheque, o PT decidiu
ele próprio apresentar o pedido
de cassação, que se somaria ao já
feito pela oposição anteontem. O
PSB faria o mesmo: "É o fim. O
que nos faltava era essa prova material", disse Renato Casagrande
(ES), líder da bancada.
Aliados de Severino, após passarem dias em aparente tranqüilidade, finalmente soaram o alarme. "O cheque torna verossímeis
as acusações, mas é preciso esperar a resposta do presidente", disse Francisco Dornelles (PP-RJ).
"Ficou muito ruim", opinou João
Pizzolatti (PP-SC). "Juridicamente não há nada contra ele, mas politicamente ficou insustentável",
reforçou Bendito Dias (PP-AP).
Não há precedente de um presidente da Câmara que, no exercício do cargo, tenha renunciado ou
sido destituído por meio de cassação. Ibsen Pinheiro (PMDB), que
foi cassado em 1994, já não era
presidente da Casa quando perdeu o mandato. Já no Senado, em
2001, Jader Barbalho (PMDB) se
afastou da presidência da Casa e
depois renunciou ao mandato.
Um dos expoentes do movimento pela destituição de Severino, o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), líder da oposição,
ironizou ao dizer que o cheque
"era a prova que não faltava".
"Quando representamos contra
o presidente da Câmara [pedindo
sua cassação] não representamos
apenas em cima de evidências,
mas em cima de várias provas",
disse. Aleluia apoiou a eleição de
Severino em fevereiro.
Mesmo entre colegas de Severino na Mesa Diretora, a opinião foi
de que Severino ficou em situação
insustentável. "Não adianta muito as versões que ele apresentar, as
versões estão perdendo a força",
diz o 3º secretário, Eduardo Gomes (PSDB-TO).
O tucano Alberto Goldman
(SP), líder do partido na Câmara,
disse que em nenhum momento o
PSDB fraquejou na intenção de
pedir a cassação de Severino. "Para mim não havia necessidade de
contrato, de cheque. As provas
testemunhais são muito mais fortes." Goldman também apoiou a
eleição de Severino.
O presidente interino do PT,
Tarso Genro, e o secretário-geral
do partido, Ricardo Berzoini, disseram que a situação de Severino
fica insustentável. "Se tem prova,
se apresentou o cheque, [Severino] simplesmente não tem condição de permanecer", disse Berzoini. "Confirmada a autenticidade
dessa assinatura e essa relação espúria com o empresário, ele tem
de ser cassado", disse Tarso.
Governo e oposição procuram
um nome de consenso que resgate a credibilidade da Câmara.
Eduardo Campos (PSB-PE) e Sigmaringa Seixas (PT-DF) são os
nomes mais citados.
Colaborou a Reportagem Local
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