São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/CONEXÃO RIBEIRÃO

Presidente da empresa confirma acusação de que ex-secretário de Palocci teria pedido R$ 6 milhões para permitir a assinatura de contrato

Buratti atrasou renovação com CEF, diz GTech

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O presidente da multinacional GTech do Brasil, Fernando A. C. Cardoso, disse ontem que a Caixa Econômica Federal chegou a perder o controle da negociação de um contrato de R$ 650 milhões, em abril de 2003, por interferência do advogado Rogério Tadeu Buratti, ex- secretário de Governo em Ribeirão Preto (SP) quando o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) foi prefeito da cidade.
Segundo Cardoso, por causa da interferência, feita à revelia da diretoria da Caixa Econômica, a assinatura do contrato foi adiada em 1º de abril de 2003, ocorrendo apenas sete dias depois.
No dia do adiamento, segundo a GTech, Buratti supostamente pediu propina de R$ 6 milhões para permitir a renovação do contrato e, como não foi atendido, agiu para suspender a assinatura. Cardoso não disse a quem, no governo, Buratti recorreu para interferir.
A versão de Cardoso é nova porque até então o ex-diretor de Marketing da GTech, Marcelo Rovai, responsável na época pela negociação do contrato, apenas supunha a interferência de Buratti, sem afirmar que a Caixa perdera momentaneamente o controle do negócio.
O contrato de R$ 650 milhões foi renovado no início do governo Lula para que a GTech mantivesse por mais 25 meses a operação de loterias da CEF. Em entrevista ontem, Cardoso -na presidência da GTech desde outubro de 2003- afirmou que o contrato foi assinado sete dias após a interferência de Buratti porque não havia outra alternativa.
Se o negócio não fosse fechado, as operações de loterias e de correspondentes bancários (pagamentos de contas em lotéricas) seriam suspensas.
O contrato é investigado pela CPI dos Bingos no Senado. Em 25 de agosto, Buratti disse à CPI que a GTech tentou pagar propina de até R$ 16 milhões ao PT para garantir a renovação do contrato com vantagens.
Na versão de Buratti, foi a multinacional quem o procurou para que pedisse a intervenção de Palocci. O advogado diz que rejeitou a proposta. A CPI investiga se o ex-secretário fez tráfico de influência no Ministério da Fazenda. A CEF é subordinada ao ministro.
Cardoso negou qualquer pagamento de propina. Disse ainda que Buratti procurou a empresa para receber dinheiro após a renovação do contrato.
Conforme o presidente da GTech, o ex-assessor de José Dirceu na Casa Civil Waldomiro Diniz também tentou fazer extorsão. Na avaliação de Cardoso, Waldomiro e Buratti não agiram mancomunados.
À CPI dos Bingos, Cardoso entregou documentos que, segundo ele, atestam que a MM Consultoria, empresa de Belo Horizonte, recebeu R$ 5 milhões da GTech em outubro de 2002 e junho de 2003 por serviços de advocacia.
Os senadores membros da CPI investigam se a MM Consultoria foi usada como laranja para pagamento de propina ao grupo de Waldomiro em troca de vantagens no contrato. "A companhia foi vítima de extorsão. Não pagamos propina", afirmou.

Celso Daniel
Os delegados da Polícia Civil Armando Oliveira Costa e José Mazi foram ouvidos ontem na CPI. Os dois apuraram o assassinato de Celso Daniel, então prefeito petista de Santo André, em janeiro de 2002. Segundo os delegados, o crime foi comum, de "extorsão mediante seqüestro seguido de morte". A CPI investiga se ocorreu devido a um esquema de corrupção na prefeitura.
Hoje, será ouvido o chefe-de-gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho. Segundo o oftalmologista João Francisco Daniel, irmão do prefeito morto, Carvalho pegava propina em Santo André e levava o dinheiro ao PT em São Paulo.


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