São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2005

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CASO MALUF

Preso na PF desde sábado, ex-prefeito diz em entrevista que declaração do presidente na Guatemala foi "infeliz"

Lula deve procurar corruptos no PT, diz Maluf

DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-prefeito Paulo Maluf (PP), preso desde a madrugada de sábado, disse ontem que foi "infeliz" a declaração do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, de que o ex-prefeito "não será o primeiro nem o último a ser preso" devido a irregularidades.
Irritado, Maluf disse que, se Lula quer prender os culpados, deveria começar pelo próprio PT.
"Foi uma declaração infeliz. Ele [o presidente] não conhece os problemas, não está a par dos problemas. Se ele quisesse mesmo prender os culpados, que comece por Brasília. Tenho certeza de que o número de presos dá a volta no quarteirão, e a maioria do partido dele, do PT", disse o ex-prefeito, que concedeu sua primeira entrevista ao vivo ontem para a TV Bandeirantes.
Com um paletó preto e uma camisa social, Maluf sorriu e brincou com a equipe de reportagem. Antes da entrevista, leu e assinou alguns documentos. Depois pediu a agentes da Polícia Federal para ler os jornais que estavam sobre um sofá -foi quando se informou das declarações feitas anteontem por Lula à imprensa, durante visita à Guatemala.
Ao falar sobre a "lição" que poderia tirar de sua prisão, Maluf comparou-se a Jesus Cristo. Disse que, se Cristo passou por 14 estações na via-sacra, ele passou por 140 -para os católicos, cada estação retrata as principais cenas de Cristo à caminho da cruz.
"Olha, eu sou cristão. Cristo, na via-sacra das igrejas, teve 14 estações. Eu já percorri 140 estações de via-sacra de injustiças e de perseguições ilegais. Mas, graças a Deus, tenho meus 13 netos e é por eles que eu sobrevivo", disse o ex-prefeito, com os olhos marejados.
Ao ser questionado pelo repórter Sandro Barboza sobre as condições da prisão, Maluf reclamou da "quentinha". Ele criticou ainda o fato de a polícia não ter autorizado a entrada de comida especial para o filho Flávio, com quem divide a cela.
"Aqui você não tem liberdade para nada. A comida... Quando o meu filho entrou, ele entregou uma prescrição médica porque ele tem acidez no estômago. Ele precisa comer um certo tipo de comida. E, todas as vezes que essa comida apareceu, eu quero dizer, não foi permitida a entrada", afirmou o ex-prefeito.
Advogados de Flávio Maluf pediram na Justiça Federal uma autorização para que ele receba comida enviada pela família.
Maluf disse ainda que não daria a comida que recebe na prisão nem para um cachorro.
"Aqui deveria ter um pouco mais de controle de qualidade do fornecedor da quentinha. Porque a quentinha que hoje serviram, para mim, e eu não tenho cachorro em casa, mas se eu tivesse, não daria nem para o meu cachorro."
O ex-prefeito afirmou que a prisão do filho Flávio -que, apesar de ter se entregado, foi algemado diante de uma câmera de TV- foi um "espetáculo global".
"Ele se entregou. Estava com três policiais armados no helicóptero [da família Maluf]. E chegou aqui para fazerem um espetáculo global, algemaram ele", afirmou o ex-prefeito.
A entrevista de Maluf foi feita em uma sala do nono andar do prédio da superintendência da Polícia Federal, em São Paulo, no bairro da Lapa. A carceragem ocupa o terceiro andar do edifício.
O ex-prefeito chegou à sala para ser entrevistado escoltado por agentes da PF.


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