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Lula se irrita com pergunta sobre PT e Renan
Na Noruega, presidente se lamenta por ter que falar do Brasil e não comenta atuação do Planalto no caso
LETÍCIA SANDER
ENVIADA ESPECIAL A OSLO
A crise envolvendo o senador
Renan Calheiros (PMDB-AL)
tirou o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva do sério ontem,
horas antes de sua despedida
da Noruega, última etapa do giro pelos países nórdicos. O presidente demonstrou irritação e
se recusou a responder a uma
pergunta sobre a participação
do governo na absolvição de
Renan no plenário do Senado,
na última quarta-feira.
Lula passou dois dias sendo
questionado sobre o tema. Na
véspera, na Dinamarca, tergiversou sobre a decisão dos senadores, mas não respondeu à
pergunta concreta que lhe foi
dirigida, sobre o papel do PT no
episódio. Ontem, evitou dar
qualquer palavra sobre o caso.
Numa breve coletiva de imprensa ao lado do premier norueguês, Jens Stoltenberg, Lula
foi questionado pela repórter
do jornal "O Estado de S. Paulo" se o governo orientou o PT a
absolver o presidente do Senado e se irá pressionar para que
Renan Calheiros, agora, se licencie do cargo.
Balançando a cabeça, com
expressão irritada, o presidente
respondeu: "Eu só lamento que
na minha despedida eu tenha
que falar do Brasil. Seria tão
mais fácil um jornalista do "Estadão" lá no Brasil ligar para o
presidente do PT e receber todas as informações", afirmou
o presidente petista.
"Eu estou terminando uma
viagem de uma semana, estou
tão cansado quanto vocês. E
não é justo que esta viagem não
tenha despertado nenhuma curiosidade ao "Estadão'", disse,
dando o assunto por encerrado.
Estrangeiros
Tratamento diferente foi dispensado minutos depois a jornalistas noruegueses que também fugiram do tema da viagem de Lula. Uma estrangeira,
por exemplo, o questionou sobre sua relação com os líderes
de esquerda latino-americanos, entre eles o venezuelano
Hugo Chávez.
Ao final da entrevista, os jornalistas brasileiros ainda tentaram insistir para que o presidente falasse sobre a atuação
do governo na defesa do presidente do Senado, mas ele novamente se recusou. "Chega, chega, chega, chega", disse Lula,
deixando a sala onde ocorreu
a coletiva.
A resposta quase ríspida de
Lula gerou curiosidade entre os
jornalistas noruegueses, que,
ao término da entrevista, foram
perguntar aos brasileiros mais
detalhes do assunto sobre
o qual Lula preferiu não
comentar.
Foi o único momento do dia
em que os jornalistas que
acompanham a viagem tiveram
contato direto com o presidente. Mais cedo, ele participou de
um seminário com empresários e esteve em uma cerimônia
de oferenda floral ao lado do rei
Harald 5º, em homenagem a
"noruegueses heróis", que defenderam a pátria. Chovia, e
Lula estava debaixo de um
guarda-chuva. O rei, não. Ainda
teve almoço privado com o premier, o rei e a rainha Sonja. Por
volta das 16h, partiu para Madri, onde encerra sua viagem,
na segunda-feira.
Antes de começar a coletiva,
o presidente fez uma breve explanação aos jornalistas presentes, na qual manifestou sua
"alegria" e "surpresa" com a
pujança norueguesa, chamada
por ele de "terra do bacalhau".
"Eu me despeço do premier
com a sensação de que construí
novas oportunidades para o
Brasil. A sensação de que arrumei um novo amigo, por que
não dizer um companheiro?
Porque acredito que a política é
feita na base da relação humana", afirmou o presidente.
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