São Paulo, sábado, 15 de setembro de 2007

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Lula se irrita com pergunta sobre PT e Renan

Na Noruega, presidente se lamenta por ter que falar do Brasil e não comenta atuação do Planalto no caso

LETÍCIA SANDER
ENVIADA ESPECIAL A OSLO

A crise envolvendo o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) tirou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do sério ontem, horas antes de sua despedida da Noruega, última etapa do giro pelos países nórdicos. O presidente demonstrou irritação e se recusou a responder a uma pergunta sobre a participação do governo na absolvição de Renan no plenário do Senado, na última quarta-feira.
Lula passou dois dias sendo questionado sobre o tema. Na véspera, na Dinamarca, tergiversou sobre a decisão dos senadores, mas não respondeu à pergunta concreta que lhe foi dirigida, sobre o papel do PT no episódio. Ontem, evitou dar qualquer palavra sobre o caso.
Numa breve coletiva de imprensa ao lado do premier norueguês, Jens Stoltenberg, Lula foi questionado pela repórter do jornal "O Estado de S. Paulo" se o governo orientou o PT a absolver o presidente do Senado e se irá pressionar para que Renan Calheiros, agora, se licencie do cargo.
Balançando a cabeça, com expressão irritada, o presidente respondeu: "Eu só lamento que na minha despedida eu tenha que falar do Brasil. Seria tão mais fácil um jornalista do "Estadão" lá no Brasil ligar para o presidente do PT e receber todas as informações", afirmou o presidente petista.
"Eu estou terminando uma viagem de uma semana, estou tão cansado quanto vocês. E não é justo que esta viagem não tenha despertado nenhuma curiosidade ao "Estadão'", disse, dando o assunto por encerrado.

Estrangeiros
Tratamento diferente foi dispensado minutos depois a jornalistas noruegueses que também fugiram do tema da viagem de Lula. Uma estrangeira, por exemplo, o questionou sobre sua relação com os líderes de esquerda latino-americanos, entre eles o venezuelano Hugo Chávez.
Ao final da entrevista, os jornalistas brasileiros ainda tentaram insistir para que o presidente falasse sobre a atuação do governo na defesa do presidente do Senado, mas ele novamente se recusou. "Chega, chega, chega, chega", disse Lula, deixando a sala onde ocorreu a coletiva.
A resposta quase ríspida de Lula gerou curiosidade entre os jornalistas noruegueses, que, ao término da entrevista, foram perguntar aos brasileiros mais detalhes do assunto sobre o qual Lula preferiu não comentar.
Foi o único momento do dia em que os jornalistas que acompanham a viagem tiveram contato direto com o presidente. Mais cedo, ele participou de um seminário com empresários e esteve em uma cerimônia de oferenda floral ao lado do rei Harald 5º, em homenagem a "noruegueses heróis", que defenderam a pátria. Chovia, e Lula estava debaixo de um guarda-chuva. O rei, não. Ainda teve almoço privado com o premier, o rei e a rainha Sonja. Por volta das 16h, partiu para Madri, onde encerra sua viagem, na segunda-feira.
Antes de começar a coletiva, o presidente fez uma breve explanação aos jornalistas presentes, na qual manifestou sua "alegria" e "surpresa" com a pujança norueguesa, chamada por ele de "terra do bacalhau".
"Eu me despeço do premier com a sensação de que construí novas oportunidades para o Brasil. A sensação de que arrumei um novo amigo, por que não dizer um companheiro? Porque acredito que a política é feita na base da relação humana", afirmou o presidente.


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