São Paulo, domingo, 15 de outubro de 2000

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JANIO DE FREITAS

A cena viva da luta

É difícil dar maior importância a algum fato brasileiro atual diante do que se vê acontecer no Oriente Médio. Os palestinos e as fundas com que atiram suas pedras, contra as armas sofisticadas e os blindados israelenses, dão ao mundo a cena viva do enfrentamento bíblico de Davi e Golias.
Todo povo que se levanta contra o invasor merece o melhor respeito. Mas não é só a situação dos palestinos que contrista. Dentro de Israel dá-se, com características diferentes, outra luta que atravessa as décadas.
A luta inglória que os democratas de Israel, simbolizados em um dos maiores estadistas contemporâneos, Shimon Peres, travam contra a opressão imposta pela aliança da extrema direita com o militarismo é um espetáculo perturbador. Desses que dificultam responder se a longa persistência da luta por princípios como paz, democracia e justiça social atesta a força promissora dos princípios ou, ao contrário, demonstra que não podem se impor aos famintos de poder sobre os homens e a riqueza.

País bonzinho
Seis indústrias químico-farmacêuticas vão pagar altas somas em mais um processo, nos Estados Unidos, por combinação de preços para venda de vitaminas a outros laboratórios e a consumidores. O novo pagamento, de US$ 335 milhões, eleva o montante desembolsado pelas indústrias a perto de US$ 2 bilhões. A Basf, como sempre, está entre as atingidas, agora acompanhada da suíça Hoffman-La Roche, também frequentadora das acusações, e de uma francesa e três japonesas mal conhecidas por aqui.
Ainda há outros processos em andamento e por serem iniciados nos Estados Unidos. O Canadá agiu do mesmo modo, e alguns países europeus adotam a mesma represália. Quatro diretores de grandes indústrias químico-farmacêuticas foram sentenciados a penas de cadeia.
O Brasil foi incluído entre as vítimas do cartel quadrilheiro, no qual seria injusto esquecer a presença do Rhône-Poulenc, que no Brasil atua com o nome de Rhodia. Os efeitos dos preços exploradores aqui permanecem em dois sentidos; subiram com o cartel e não caíram depois de descoberto o cartel; até hoje, enquanto lá fora os quadrilheiros pagam bilhões e cadeia por seu crime, aqui não pagaram nem cafezinho.

Ministro bonzinho
A política antieconômica do governo provoca desemprego, arrocho salarial, aposentadorias de morte, mas nada disso porque o ministro Pedro Malan não tenha bom coração. Lá está Tereza Grossi como diretora do Banco Central, depois da interessante doação de R$ 1,6 bilhão para a felicidade de Salvatore Cacciola e outros.
Se, porém, um caso só não faz verão, o de Sérgio de Otero cala os incréus. Apesar de tudo o que já foi apurado sobre os ganhos ilícitos desse cupincha de Eduardo Jorge Caldas Pereira, há dois meses afastado da presidência do Serpro, o bom ministro não o demite. Paga-lhe com dinheiro público os vencimentos e vantagens do cargo que não pode exercer por improbidade, declarada pela comissão investigatória que o mesmo Malan nomeou.
Se um procurador da República requerer que Pedro Malan assuma os custos da sua bondade o protegido, vão dizer que os procuradores são fascistas.


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