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DEFESA
Pela primeira vez Brasil terá representante com status similar ao de colegas
Manaus recebe ministros de 23 países em encontro
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo brasileiro recebe nesta semana, em Manaus, ministros
da Defesa de 23 países dos continentes americanos e do Caribe.
Nunca tantos representantes militares de países diferentes visitaram a Amazônia de uma vez.
Será o quarto encontro do gênero desde 1995, e a primeira vez
que o Brasil é escolhido como país
sede. Os temas principais serão a
"segurança hemisférica", a "confiança mútua no continente americano" e a "possibilidade de cooperação regional".
Plano Colômbia
A discussão sobre o Plano Colômbia não está explicitamente na
agenda, mas pode dominar o
evento. O país vizinho está começando uma grande operação de
pacificação e de recuperação econômica que envolve o combate ao
narcotráfico e ao crime organizado. O custo total é de US$ 7,550 bilhões -sendo que os EUA vão
colaborar com US$ 1,3 bilhão.
O ministro da Defesa do Brasil,
Geraldo Quintão, disse que o Plano Colômbia e seus efeitos podem
ser tema de discussão nos grupos
de trabalho durante o encontro.
No meio militar brasileiro há
grande interesse pelo encontro
por três razões principais:
1) Estréia do Brasil - será a primeira vez que o Brasil comparecerá a uma reunião de ministros
da Defesa com um representante
que ostenta o mesmo status de
seus colegas.
O Ministério da Defesa do Brasil
foi criado oficialmente em junho
de 1999. Em encontros anteriores,
o país enviava vários representantes militares para não melindrar
os antigos ministros de Exército,
Marinha e Aeronáutica -agora,
apenas comandantes de suas respectivas Forças, mas sem o status
ministerial.
A conferência de Manaus será o
grande teste público do ministro
Quintão, que ocupa o cargo desde
janeiro deste ano;
2) Encontro na Amazônia - o encontro será em Manaus, capital
do Amazonas, uma área que os
militares brasileiros sempre tentam manter fechada para forças
de outros países.
Continua presente em uma parcela dos militares brasileiros o temor de que o governo dos EUA
alimente a idéia de tornar a Amazônia um território internacional
-algo sempre negado pelas autoridades norte-americanas;
3) Narcotráfico - há uma preocupação crescente entre os vizinhos
da Colômbia, sobretudo o Brasil,
de que o combate ao narcotráfico
possa causar um êxodo de criminosos. Presidentes de países sul-americanos estiveram reunidos
em Brasília no início de setembro.
Recusaram-se a divulgar um manifesto de apoio explícito ao Plano
Colômbia, como desejava o presidente daquele país, Andrés Pastrana.
Os presidentes sul-americanos
apenas assinaram uma nota lacônica, de dois parágrafos, louvando os "esforços em favor da paz"
empreendidos pelo governo de
Pastrana. Mas sem menção direta
ao Plano Colômbia.
O ministro da Defesa da Colômbia, Luis Fernando Ramirez Acuña, já confirmou sua presença em
Manaus. Assim como o secretário
da Defesa dos Estados Unidos,
William Cohen (nos EUA, o cargo
de secretário equivale ao de ministro no Brasil). Ambos serão os
defensores do Plano Colômbia
durante o evento.
FHC presente
O presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu no mês passado que participaria do encontro, fazendo um dos discursos da
abertura.
A ida de FHC confere importância extra ao evento, que nasceu de
uma iniciativa do governo norte-americano, em 1995, e é o mais
importante encontro militar nas
três Américas.
Com o fim da Guerra Fria, ficaram desestruturados os canais de
comunicação entre os militares
dos EUA e dos países latino-americanos. Os norte-americanos
propuseram então a criação de
uma reunião regular e institucional, por causa do fortalecimento
da democracia no subcontinente.
A primeira cúpula dos ministros da Defesa foi realizada em
Williamsburg, nos EUA, em junho de 1995. Em seguida, hospedaram o encontro dois países considerados aliados vitais dos norte-americanos: Argentina
(que sediou a reunião em Bariloche, em outubro de 1996) e Colômbia (em Cartagena, em dezembro de 1998).
O Brasil se ofereceu espontaneamente para preparar e sediar a
quarta reunião, tratada no meio
militar pela sua sigla, 4ª CMDA
(Conferência Ministerial de Defesa das Américas).
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