São Paulo, domingo, 15 de outubro de 2000

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DEFESA
Pela primeira vez Brasil terá representante com status similar ao de colegas
Manaus recebe ministros de 23 países em encontro

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo brasileiro recebe nesta semana, em Manaus, ministros da Defesa de 23 países dos continentes americanos e do Caribe. Nunca tantos representantes militares de países diferentes visitaram a Amazônia de uma vez.
Será o quarto encontro do gênero desde 1995, e a primeira vez que o Brasil é escolhido como país sede. Os temas principais serão a "segurança hemisférica", a "confiança mútua no continente americano" e a "possibilidade de cooperação regional".

Plano Colômbia
A discussão sobre o Plano Colômbia não está explicitamente na agenda, mas pode dominar o evento. O país vizinho está começando uma grande operação de pacificação e de recuperação econômica que envolve o combate ao narcotráfico e ao crime organizado. O custo total é de US$ 7,550 bilhões -sendo que os EUA vão colaborar com US$ 1,3 bilhão.
O ministro da Defesa do Brasil, Geraldo Quintão, disse que o Plano Colômbia e seus efeitos podem ser tema de discussão nos grupos de trabalho durante o encontro.
No meio militar brasileiro há grande interesse pelo encontro por três razões principais:

1) Estréia do Brasil - será a primeira vez que o Brasil comparecerá a uma reunião de ministros da Defesa com um representante que ostenta o mesmo status de seus colegas.
O Ministério da Defesa do Brasil foi criado oficialmente em junho de 1999. Em encontros anteriores, o país enviava vários representantes militares para não melindrar os antigos ministros de Exército, Marinha e Aeronáutica -agora, apenas comandantes de suas respectivas Forças, mas sem o status ministerial.
A conferência de Manaus será o grande teste público do ministro Quintão, que ocupa o cargo desde janeiro deste ano;

2) Encontro na Amazônia - o encontro será em Manaus, capital do Amazonas, uma área que os militares brasileiros sempre tentam manter fechada para forças de outros países.
Continua presente em uma parcela dos militares brasileiros o temor de que o governo dos EUA alimente a idéia de tornar a Amazônia um território internacional -algo sempre negado pelas autoridades norte-americanas;

3) Narcotráfico - há uma preocupação crescente entre os vizinhos da Colômbia, sobretudo o Brasil, de que o combate ao narcotráfico possa causar um êxodo de criminosos. Presidentes de países sul-americanos estiveram reunidos em Brasília no início de setembro. Recusaram-se a divulgar um manifesto de apoio explícito ao Plano Colômbia, como desejava o presidente daquele país, Andrés Pastrana.
Os presidentes sul-americanos apenas assinaram uma nota lacônica, de dois parágrafos, louvando os "esforços em favor da paz" empreendidos pelo governo de Pastrana. Mas sem menção direta ao Plano Colômbia.
O ministro da Defesa da Colômbia, Luis Fernando Ramirez Acuña, já confirmou sua presença em Manaus. Assim como o secretário da Defesa dos Estados Unidos, William Cohen (nos EUA, o cargo de secretário equivale ao de ministro no Brasil). Ambos serão os defensores do Plano Colômbia durante o evento.

FHC presente
O presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu no mês passado que participaria do encontro, fazendo um dos discursos da abertura.
A ida de FHC confere importância extra ao evento, que nasceu de uma iniciativa do governo norte-americano, em 1995, e é o mais importante encontro militar nas três Américas.
Com o fim da Guerra Fria, ficaram desestruturados os canais de comunicação entre os militares dos EUA e dos países latino-americanos. Os norte-americanos propuseram então a criação de uma reunião regular e institucional, por causa do fortalecimento da democracia no subcontinente.
A primeira cúpula dos ministros da Defesa foi realizada em Williamsburg, nos EUA, em junho de 1995. Em seguida, hospedaram o encontro dois países considerados aliados vitais dos norte-americanos: Argentina (que sediou a reunião em Bariloche, em outubro de 1996) e Colômbia (em Cartagena, em dezembro de 1998).
O Brasil se ofereceu espontaneamente para preparar e sediar a quarta reunião, tratada no meio militar pela sua sigla, 4ª CMDA (Conferência Ministerial de Defesa das Américas).


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