São Paulo, domingo, 15 de outubro de 2000

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OUTRO LADO

Militares não comentam o documento

da Sucursal do Rio

A Folha tentou sem êxito ouvir duas instituições e um oficial reformado sobre a estatística do DOI-Codi do 2º Exército. O Ministério da Defesa informou que, por não existir à época do regime militar e não manter arquivos sobre o período, não pode se pronunciar.
Até a conclusão desta edição, o Centro de Comunicação do Exército, em Brasília, divulgou que uma equipe destacada para pesquisar o tema ainda não havia concluído o trabalho.
O coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, 67, comandante do DOI-Codi paulista da criação, em setembro de 1970 a janeiro de 1974, não quis dar entrevista. Esse foi o período de mais mortes pelo DOI-Codi, dentro ou fora de suas instalações, segundo o ""Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos a partir de 1964".
De Brasília, onde vive, Ustra mandou dizer que o essencial foi relatado no livro ""Rompendo o Silêncio", de sua autoria, publicado em 1987. O livro foi escrito depois que a atriz Bete Mendes, ex-militante da organização armada Vanguarda Popular Revolucionária, o apontou, em 1985, como o homem que a torturara no DOI-Codi no segundo semestre de 1970. Segundo a atriz, Ustra usava o codinome de ""doutor Tibiriçá" em sessões de tortura no DOI-Codi de São Paulo. O mesmo relato foi feito por vários outros presos. Brilhante Ustra nega que existisse tortura no DOI-Codi. Afirma que os presos eram bem tratados a ponto de receberem ceias nas celebrações de fim de ano.
""Fui torturada por ele", diz a ex-militante do PC do B Maria Amélia de Almeida Teles, 56. Ela ficou no DOI-Codi de 22 de dezembro de 72 a 14 de fevereiro de 73. ""No fim do ano, após uma sessão de tortura da qual Ustra participou, ele foi levar peru e farofa aos presos."
As mortes de responsabilidade do DOI-Codi ocorreram em confrontos armados, de acordo com o oficial: ""Lutávamos para manter a tranquilidade do país e contra alguns brasileiros que, por meio de atos de banditismo e terrorismo, tentavam implantar o caos".
Em ""Rompendo o Silêncio", Ustra citou 105 pessoas, a maioria militares e policiais, que teriam sido mortas por militantes de esquerda no regime militar. (MM)

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