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JANIO DE FREITAS
Do lado de fora
O problema da Saúde perdeu muito do interesse nos
meios de comunicação, dada
a hábil movimentação do ministro José Serra em torno de
medidas e cenas de fácil apelo
jornalístico. Mas a natureza e
a dimensão do problema continuam as mesmas e, em alguns setores, até se agravam,
em razão do cerco que a equipe econômica mantém às verbas esperadas pela Saúde.
Ainda a "intelligentsia" do
governo negava a possibilidade de crise no Brasil e já a
equipe econômica surripiava,
em junho, R$ 300 milhões previstos no orçamento para a
Saúde. Não era, não podia ser,
dinheiro sobrando. O que sobrava era, como sempre, o
descaso leviano com que desde o seu primeiro dia o governo trata o Ministério da Saúde e destrata o sofrimento da
população.
Já àquela altura os hospitais
universitários, peças importantíssimas na assistência pública, estavam em processo de
colapso pelo país afora. Nem
ao menos era um processo de
início recente. Com o estrangulamento financeiro, hoje a
situação é de horror. Hospitais que chegaram ao ponto
de não poder funcionar, com
multidões em carência desesperadora à sua volta, justificariam até uma resposta de
violência, que nem se sabe por
que não acontece.
A Federação Nacional dos
Médicos está lançando uma
ação coletiva chamada SOS
Hospitais Universitários, na
tentativa de forçar alguma solução. É uma ação honesta,
grandiosa, bonita. Mas o que
podem os médicos, se não for
nada, será muito perto disso.
As condições em que trabalham prenuncia o resultado
do seu esforço por alguma solução.
A atenção que a equipe econômica prepara para o SOS é
o corte, agora, de quase R$ 1
bilhão mais. Como os hospitais que integram o Sistema
Único de Saúde, SUS, já estão
reduzindo o atendimento dos
casos de cirurgia e internação,
por contingências financeiras,
a expectativa é de rápido e
extenso agravamento também
nesses hospitais.
As notórias divergências de
José Serra com a política econômica podem contribuir para as dificuldades financeiras
do seu ministério. Se o fazem,
porém, é muito pouco. O motivo é anterior: é a visão tecnocrata, logo, anti-social da
equipe econômica. Mas não
deixa de ser inacreditável a
gélida insensibilidade com
que no Planalto e no Alvorada os problemas da Saúde são
barrados.
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