São Paulo, quinta, 15 de outubro de 1998

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JANIO DE FREITAS
Do lado de fora

O problema da Saúde perdeu muito do interesse nos meios de comunicação, dada a hábil movimentação do ministro José Serra em torno de medidas e cenas de fácil apelo jornalístico. Mas a natureza e a dimensão do problema continuam as mesmas e, em alguns setores, até se agravam, em razão do cerco que a equipe econômica mantém às verbas esperadas pela Saúde.
Ainda a "intelligentsia" do governo negava a possibilidade de crise no Brasil e já a equipe econômica surripiava, em junho, R$ 300 milhões previstos no orçamento para a Saúde. Não era, não podia ser, dinheiro sobrando. O que sobrava era, como sempre, o descaso leviano com que desde o seu primeiro dia o governo trata o Ministério da Saúde e destrata o sofrimento da população.
Já àquela altura os hospitais universitários, peças importantíssimas na assistência pública, estavam em processo de colapso pelo país afora. Nem ao menos era um processo de início recente. Com o estrangulamento financeiro, hoje a situação é de horror. Hospitais que chegaram ao ponto de não poder funcionar, com multidões em carência desesperadora à sua volta, justificariam até uma resposta de violência, que nem se sabe por que não acontece.
A Federação Nacional dos Médicos está lançando uma ação coletiva chamada SOS Hospitais Universitários, na tentativa de forçar alguma solução. É uma ação honesta, grandiosa, bonita. Mas o que podem os médicos, se não for nada, será muito perto disso. As condições em que trabalham prenuncia o resultado do seu esforço por alguma solução.
A atenção que a equipe econômica prepara para o SOS é o corte, agora, de quase R$ 1 bilhão mais. Como os hospitais que integram o Sistema Único de Saúde, SUS, já estão reduzindo o atendimento dos casos de cirurgia e internação, por contingências financeiras, a expectativa é de rápido e extenso agravamento também nesses hospitais.
As notórias divergências de José Serra com a política econômica podem contribuir para as dificuldades financeiras do seu ministério. Se o fazem, porém, é muito pouco. O motivo é anterior: é a visão tecnocrata, logo, anti-social da equipe econômica. Mas não deixa de ser inacreditável a gélida insensibilidade com que no Planalto e no Alvorada os problemas da Saúde são barrados.



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