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São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2003

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PT NO DIVÃ

Para presidente do partido, expulsões cessam corrosão interna e reiteram fortalecimento em defesa do governo

Não há o que comemorar, afirma Genoino

JULIA DUAILIBI
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

Comandante de todo o processo que resultou na expulsão dos quatro radicais, o presidente nacional do PT, José Genoino, afirma que essa foi uma decisão que não deu motivos para comemoração. Mas, apesar de todo o desgaste, o partido sai mais forte e mais unido na defesa do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Foi uma decisão que a gente não comemora", afirmou Genoino após a reunião do Diretório Nacional. "Mas o PT é um partido que sempre se fortaleceu nas crises", disse.
"O que poderia prejudicar [o PT] era um processo interno de corrosão infinita, de uma luta interna que vai sangrando o partido e vai destruindo as relações de companheirismo com ataques pessoais, com gestos de indisciplina, sem respeitar as instâncias partidárias."
Genoino diz ter tentado um "acordo de repactuação" com os radicais até o último momento, mas não houve interlocução.
"Respeito muito a coerência do Babá e da Luciana, queria que eles trilhassem o caminho do PT, mas eles fizeram outra opção", disse.
 

Folha - Quais as consequências no futuro do PT desse desgastante processo que resultou na expulsão dos radicais?
José Genoino -
O partido sofreu. Era preferível que não tivesse chegado a esse ponto. O PT fez tudo o que estava a seu alcance para repactuar com os parlamentares. Fizemos três acordos que foram rompidos unilateralmente. Se eles reavaliassem publicamente a maneira de se relacionar com o PT, poderiam ter ficado.
Portanto, foi uma decisão necessária, que o partido aprende com ela. Temos que melhorar a maneira de nos relacionarmos com o governo. Não queremos aplicar a política de rolo compressor. Nós somos um partido, portanto precisamos ter a unidade de ação, com a diversidade de opinião e o direito à crítica. Acho que todos vamos aprender com esse episódio.

Folha - O partido sai enfraquecido desse processo?
Genoino -
Acho que foi traumático, mas o partido não sai enfraquecido. O que poderia prejudicar era um processo interno de corrosão infinita, de uma luta interna que vai sangrando o partido, vai destruindo as relações de companheirismo com ataques pessoais, com gestos de indisciplina, sem respeitar as instâncias partidárias. Na medida que o PT é um partido grande, isso viraria regra. O PT deixaria de ser um partido e viraria um aglomerado.

Folha - Ficou no PT um grupo de cerca de 30 deputados que contesta várias políticas do governo. Haverá novos embates?
Genoino -
O PT foi extremamente lúcido ao fazer uma negociação com os oito parlamentares que se abstiveram na reforma da Previdência e houve apenas a suspensão dos direitos na bancada. Porque eles têm diálogo e compromisso. O que estava impedindo a bancada de funcionar era um clima de guerra permanente. Não se fazia acordo de nada. Portanto, acho que vamos criar um clima de debate. Vamos levar em conta as opiniões desses companheiros. O projeto é deles também.

Folha - Fica a impressão de que o partido mudou e puniu seus militantes por isso.
Genoino -
Em primeiro lugar, não foi o PT que mudou. Sempre defendemos uma Previdência pública com um piso de um salário mínimo e teto de dez salários mínimos. O PT sempre defendeu uma Previdência complementar fechada administrada paritariamente. O PT sempre defendeu teto no plano federal e no plano estadual.
O único ponto que o PT não tinha posição era na cobrança dos inativos, mas fechamos a questão no Diretório Nacional. Outros projetos que votamos no Congresso tiveram a marca do PT, como o Estatuto do Desarmamento e a Lei de Falências.

Folha - Pessoalmente e politicamente, qual dos quatro parlamentares que foram expulsos hoje fará mais falta ao PT?
Genoino -
Todo militante e todo filiado faz falta ao partido. Essa decisão a gente não comemora, porque todos deveriam ficar no PT. Respeito muito a coerência do Babá e da Luciana, queria que eles trilhassem o caminho do PT, mas eles fizeram outra opção. Nós continuaremos nos respeitando, tratando todos de companheiros e companheiras. O PT sempre foi um partido que se fortaleceu nas crises.


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