São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O PRESIDENTE

Prefeito de Bogotá apóia reeleição do presidente brasileiro, para quem não é possível consertar "séculos de erros com mandato de quatro anos"

Preconceito faz "luta ser dura", diz Lula

PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

Em sua primeira visita de Estado à Colômbia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que "a luta é muito dura, muito difícil", porque enfrenta "todo tipo de preconceito".
Lula leu um discurso de cerca de dez minutos na Prefeitura de Bogotá e depois improvisou.
Após ter dito alguns meses atrás que foi "traído", ontem o presidente Lula seguiu um caminho oposto e falou que teve "uma surpresa agradável". "Muita gente de quem não esperávamos apoio nos apoiaram", disse.
Como o presidente Lula não concedeu entrevistas até a conclusão desta edição, não foi possível saber exatamente de onde, ou de quem, veio essa "surpresa".

Reeleição
Considerado de esquerda, o prefeito de Bogotá, Luís Eduardo Garzón, afirmou que apóia "plenamente" a reeleição de Lula e que está "convencido de que sua campanha e seu governo são supremamente importantes e significativos".
"Não consertaremos séculos de erros com um mandato de quatro anos", afirmou o presidente, de improviso.
Ele ainda não assumiu definitivamente sua candidatura à reeleição no próximo ano.
Lula fez a declaração depois de enumerar pontos positivos de seu governo, como os ganhos nas renegociações salariais.
O presidente viajou à Colômbia acompanhado do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, do diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, e de outras autoridades.
O objetivo da visita é firmar acordos de cooperação entre os dois países, especialmente na área de segurança e policiamento de fronteira.
Essa viagem estava previamente marcada para o mês de junho, mas a eclosão da crise com o escândalo do "mensalão" fez com que a visita fosse adiada.
Lula teve um encontro reservado com o presidente colombiano, Álvaro Uribe, que vai se candidatar à reeleição no ano que vem -com a diferença de que, diferentemente do brasileiro, Uribe goza de apoio de cerca de 70% e deve ganhar com facilidade.

"Responsabilidade maior"
Citando seu passado de dirigente sindical, Lula afirmou que existe um peso maior que o dos outros sobre ele por ter cobrado muito quando representava os trabalhadores, no passado.
"Quando um sindicalista passa para a política e ganha o governo de uma cidade, de um Estado ou de um país, a responsabilidade colocada em suas costas certamente é maior do que a de qualquer outro político por uma única razão: porque passamos grande parte de nossa vida fazendo pauta de reivindicações e cobrando dos governantes que fizessem aquilo que entendíamos ser correto", comparou o presidente.
"Estamos escolhendo a pedra correta, a terra correta, o cimento correto para mostrar que é possível edificar uma América do Sul e uma América Latina mais desenvolvida, mais próspera", afirmou Lula, mesmo admitindo que ainda faltam avanços.
Aplaudido, disse que seu governo é "para aqueles que apenas tinham o direito de gritar que estavam com fome, mas não tinham o direito de comer".
Ao citar que vai encerrar este ano com 8,7 milhões de famílias beneficiadas pelo programa Bolsa-Família, afirmou que essas pessoas "passaram a conquistar o direito de dizer a nós governantes, finalmente: "Alguém lembrou que eu existo depois das eleições'".


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