São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

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Fazenda critica o aumento; Lula silencia

Mantega diz que "reajuste tem que ser regrado, senão vamos gastar todos os recursos públicos com folha de pagamento"

Presidente não comenta o reajuste, mas faz elogios aos congressistas por terem aprovado "praticamente todas as coisas importantes"


Luciano Coca/Chromafotos
Manifestante representa político com mala de dinheiro em protesto contra o aumento salarial de deputados federais e senadores que reuniu cerca de 50 pessoas em São José dos Campos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Guido Mantega (Fazenda) foi uma voz solitária no governo ao criticar ontem o reajuste de 91% que deputados e senadores se auto-concederam e brincou dizendo que faria greve para reajustar seus próprios vencimentos, congelados há oito anos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), deputado até o fim do ano (não será afetado pela medida), ficaram em silêncio. "Reajuste tem que ser regrado, senão vamos gastar todos os recursos públicos com folha de pagamento. Acho que temos que ter cuidado com aumentos de folha de pessoal, especialmente os maiores salários", disse Guido.
"Eu não defenderia [equiparação de ministros com o Congresso], porque me parece que, para nós ministros, seria excessivo ter um salário dessa magnitude. Se bem que gostaria muito de receber esse salário. O nosso é de R$ 8.580 e continua congelado. Qualquer dia eu faço uma greve para aumentar o meu salário. Já imaginou eu fazendo greve com o [Luiz Fernando] Furlan?", brincou.
Mantega se disse surpreendido pelo aumento. Ele esperava que o Congresso repusesse a inflação, mas reconheceu que a decisão dos parlamentares está dentro da lei e não cabe apenas discutir se é justa ou não.
O ministro defendeu mais uma vez a proposta que será incluída no pacote de medidas para o crescimento econômica de estabelecer regras para o aumento dos salários dos três Poderes. Se o reajuste tivesse se limitado à reposição da inflação, não teria sido superior a 25%.
O presidente Lula reagiu com irritação quando perguntado por repórteres sobre a decisão do Congresso: "Minha filha, não sei. Você me faz pergunta de coisa que eu não sei o que aconteceu", respondeu o presidente numa rápida entrevista após a cerimônia de sanção da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, ontem, no Palácio do Planalto.
Paulo Bernardo foi ainda mais enfático na negativa de tratar do assunto. "Não entro nessa discussão. Nós temos que ver como é que vai ser o orçamento do Congresso como um todo. Não discuto assunto interno do Congresso", disse.
Lula, que não quis falar sobre o reajuste, foi porém generoso nos elogios ao Congresso: "Estou tão feliz que Câmara dos Deputados e Senado Federal deram demonstração que quando o assunto é bom não tem coloração partidária, não tem viés ideológico. As pessoas votam o que acham que tem que ser votado", disse ele sobre a lei das microempresas.
Lula também citou outros projetos de interesse do governo que foram apreciados pelo Congresso: o Fundeb, que aumenta os recursos para educação, e o reajuste do salário mínimo para R$ 375 em 2007. "O Congresso votou praticamente todas as coisas importantes que caíram no Congresso depois do debate, que tinha que ser feito. É melhor assim do que no tempo em que as coisas eram votadas sem ter nenhum debate. A democracia tem seus defeitos mas não existe nada, nada melhor". (LEANDRA PERES, HUMBERTO MEDINA E SHEILA D'AMORIM)

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