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CONTAS PÚBLICAS
Em 99, valor arrecadado com venda de estatais estaduais foi 6 vezes o obtido pela União
Privatização rende mais aos Estados
VIVALDO DE SOUSA
da Sucursal de Brasília
As privatizações renderam aos
Estados US$ 2,648 bilhões no ano
passado, quase seis vezes o valor
arrecadado pelo governo federal,
que obteve somente US$ 479 milhões no mesmo período.
Essa foi a pior receita registrada
pelo governo federal com privatizações desde que foi criado o
PND (Programa Nacional de Desestatização).
O PND, que inclui apenas empresas federais, foi criado em 1990
e só gerou receita a partir de 1991,
ano em que foi arrecadado US$
1,614 bilhão com a venda das quatro primeiras estatais, segundo informações do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Pela legislação, o PND não inclui as empresas da área de telecomunicações, vendidas entre 1997
e 1999 e donas de algumas das
maiores cifras da desestatização
da economia brasileira.
As privatizações das estatais estaduais também estão fora do
PND, mas os Estados contaram
com o apoio do BNDES para vender suas estatais, principalmente
bancos e empresas de energia elétrica.
Balanço de 99
A principal empresa federal
vendida em 1999 foi a Datamec,
que gerou US$ 47 milhões. Também foram obtidos US$ 11 milhões com a venda de ações a empregados de estatais privatizadas
e algumas participações minoritárias.
Outros US$ 128 milhões foram
obtidos com a concessão de empresas-espelho na área de telefonia. As empresas-espelho foram
criadas para concorrer com as ex-estatais de telefonia fixa em suas
áreas de atuação.
Mais US$ 293 milhões vieram
da venda de ações das empresas
do antigo Sistema Telebrás aos
seus empregados.
Nos Estados foram vendidas
quatro empresas: Comgás por
US$ 988 milhões, Cesp-Paranapanema por US$ 682 milhões e
Cesp-Tietê por US$ 472 milhões,
todas em São Paulo -as duas últimas são empresas geradoras de
energia elétrica surgidas da cisão
da Cesp (Companhia Energética
de São Paulo).
Também foi vendido no ano
passado o Baneb (Banco Estadual
da Bahia), por US$ 147 milhões.
Outros US$ 359 milhões vieram
de São Paulo, que vendeu a concessão de distribuição de gás no
noroeste do Estado para o Consórcio Gás Brasiliano e concluiu a
venda de ações da Elektro (uma
das empresas ""fatiadas" a partir
da antiga Eletropaulo), iniciada
em 1998.
Somadas, as receitas da União e
dos Estados com privatizações
em 99 foram de US$ 3,127 bilhões
-pouco mais de 10% dos US$
30,975 bilhões obtidos com venda
de estatais em 1998, ano em que a
arrecadação foi recorde e teve como principal fonte a venda das
empresas do Sistema Telebrás.
Esse resultado ficou abaixo da
última projeção oficial do governo, que esperava receita de aproximadamente R$ 11 bilhões (cerca
de US$ 5,5 bilhões quando convertidos pelo dólar a R$ 1,98) no
ano passado.
Na avaliação do governo, o resultado do ano passado é explicado pelo cenário mundial recessivo e pelo atraso no cronograma
das privatizações.
O governo esperava, por exemplo, ter vendido o Banespa (Banco do Estado de São Paulo) e Furnas, uma das empresas de energia
elétrica da União.
As duas vendas estão previstas
para este ano. No caso do Banespa, o governo quer realizar a privatização até junho, conforme
consta da última revisão do acordo assinado no final de 98 com o
FMI (Fundo Monetário Internacional). No caso de Furnas, a venda deverá ocorrer somente no segundo semestre.
Pelas projeções do governo, as
privatizações deverão render R$
29,6 bilhões neste ano -algo como US$ 14,9 bilhões pelo câmbio
de R$ 1,98 fixado como hipótese
na última revisão do acordo com
o Fundo. A maior parte (US$ 13,2
bilhões) virá da venda de estatais
federais.
Histórico
Desde que foi iniciado, o PND já
foi responsável pela venda de 64
empresas e arrecadou US$ 19,669
bilhões. Caso sejam consideradas
nesse resultado as dívidas transferidas de US$ 9,201 bilhões, o programa teve um resultado de US$
28,87 bilhões para os cofres públicos, segundo o cálculo dos técnicos do BNDES.
No caso das empresas federais
de telecomunicações, a arrecadação foi de US$ 26,978 bilhões, e as
dívidas transferidas, de US$ 2,125
bilhões, o que acumula um resultado geral de US$ 29,103 bilhões.
Ou seja, o resultado geral (receita
e transferência de dívidas) no governo federal foi de US$ 57,973 bilhões.
Os Estados arrecadaram US$
25,168 bilhões com o programa de
privatização, que inclui a venda
de estatais, de participações acionárias e de exploração de concessões públicas -como a administração de estradas.
Só no setor de energia elétrica,
em que foram vendidas 17 empresas estaduais, a arrecadação somou US$ 22,481 bilhões (76% do
total).
As dívidas transferidas das estatais estaduais somaram US$ 6,461
bilhões, o que dá um resultado geral de US$ 31,629 bilhões nas privatizações estaduais. Ou seja, as
privatizações feitas entre 1991 e
1999 arrecadaram US$ 71,815 bilhões e transferiram para o setor
privado dívidas de US$ 17,787 bilhões.
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