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CELSO PINTO
Os dólares indiretos da Telefónica
A operação da Telefónica de
España com a Telesp e a Tele
Sudeste envolve apenas troca
de ações. Poderá, contudo, ter
um impacto significativo de
entrada de dólares no Brasil.
Um banco calcula que, conforme a disposição dos investidores, a operação poderá acabar gerando mais de US$ 4 bilhões em entrada de dólares.
Ou seja, poderá melhorar ainda mais o fluxo de dólares neste ano, que já se esperava que
fosse muito mais tranquilo do
que o do ano passado.
A oferta da Telefónica não
envolve desembolso. O que ela
propõe para os acionistas da
Telesp e da Tele Sudeste é trocar suas ações pelo equivalente
às ações da empresa-mãe espanhola. Serão os BDRs, Brazilian Depositary Receipts, títulos equivalentes às ações da
Telefónica que poderão ser negociados nas Bolsas brasileiras. Seguem o mesmo princípio
das ADRs, as equivalentes a
ações de empresas brasileiras
que são negociadas em Nova
York.
Toda a euforia das Bolsas
com o anúncio veio do preço
oferecido, um ágio de 40% sobre o valor de mercado. O que
prova a tese de que os preços
nas Bolsas brasileiras ainda estão baixos. O que a Telefónica
achou um preço vantajoso para ela, os investidores daqui
acharam um preço excelente.
Nas contas desse banco, a
Telesp valeria US$ 11,7 bilhões,
e a Tele Sudeste, US$ 4,5 bilhões. A Telefónica já tem US$
1,4 bilhão da Telesp e US$ 534
milhões da Tele Sudeste. Sobram US$ 10,3 bilhões para ela
comprar na Telesp e US$ 4 bilhões na Tele Sudeste.
Desses US$ 10 bilhões da Telesp, US$ 4 bilhões são ADRs
em Nova York e US$ 6,3 bilhões no mercado local. No caso da Tele Sudeste, US$ 1,5 bilhão é ADR e US$ 2,5 bilhões
estão no mercado brasileiro.
Portanto, nessas contas, a
oferta da Telefónica poderia
alcançar até US$ 8,8 bilhões. O
preço oferecido pela Telefónica
continua bom, mesmo depois
da alta pós-anúncio. Ontem,
persistia um deságio de 14%
nas ações ON da Telesp e 8%
nas PN, em relação ao preço
da oferta da Telefónica. É lógico esperar que os investidores
troquem suas ações pelas BDR
da Telefónica.
Mas o que eles vão fazer com
essas BDRs? Alguns investidores podem se animar a ficar
com ações de uma empresa da
liga maior das empresas globais, como a Telefónica. Outros, contudo, serão compelidos a trocá-las por outras
ações.
Não por razões legais: mesmo os fundos de pensão, que
têm restrições para ter ações
externas, podem ter BDRs. Só
que muitos fundos de investimentos, ou fundos dedicados,
vão precisar ter papéis brasileiros e não BDRs em suas carteiras.
A Telesp, um gigante na Bolsa brasileira, responde por
12% da formação do índice
Bovespa. Quando ela virar Telefónica, deixará de compor o
índice, que será composto por
outras empresas, revalorizadas.
Muitos fundos tentam não
ficar distantes do desenho do
Ibovespa, para não correr o
risco de sofrer oscilações (ganhos ou perdas) muito diferentes das registradas pela Bolsa.
Os investidores gostam quando seus fundos lucram mais do
que o Ibovespa, mas odeiam
quando o inverso acontece.
Além disso, muitos fundos de
investimentos são dedicados,
ou seja, comprometem-se a investir em risco Brasil, ou em setores específicos (como teles
brasileiras). Não poderiam ficar com ações da Telefónica de
España na carteira, por mais
interessante que pareça.
E quem compraria essas
ações? Fundos e bancos externos interessados, por exemplo,
em ganhar com arbitragens
nos preços aqui e lá fora. A tendência, na visão de alguns
analistas do mercado, é que
uma proporção crescente do
que era a Telesp acabe em
mãos de investidores externos,
interessados na Telefónica.
Na hora em que isso acontecer, significará, de uma forma
ou de outra, ingresso de dólares no Brasil. É uma forma de
investimento direto em portfólio. O banco citado no início
acha que até uns 50% da operação de troca poderá acabar
no exterior, gerando dólares.
Outro grande banco tem uma
estimativa mais conservadora,
mas concorda com o raciocínio.
Não é um fechamento de capital, mas uma espécie de segunda venda da empresa privatizada. Um analista lembra
o exemplo da fusão Daimler-Chrysler, em que a divisão inicial de ações foi de 60% para os
alemães e 40% para os americanos e que hoje estaria em
70%/30%, pelo desinteresse
dos investidores americanos e
interesse dos alemães na nova
empresa.
Da mesma forma, supõe esse
analista, se no final da operação a Telesp representar 7% da
Telefónica, não será uma surpresa constatar, depois de algum tempo, que essa fatia foi
bastante reduzida.
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