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4º FÓRUM SOCIAL MUNDIAL
Para um dos criadores do evento, agenda faz as discussões ficarem "vazias e ocas"
Desafio de fórum é renovar temas
GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A MUMBAI
A quarta edição do Fórum Social Mundial, que começa hoje em
Mumbai (a cidade deixou de chamar Bombaim em 1996), na Índia,
enfrentará pelo menos três grandes desafios. O primeiro é a necessidade de renovar os temas e o
formato das discussões para que
não se tornem mera repetição do
que já foi dito nos fóruns ocorridos em Porto Alegre em 2001,
2002 e 2003.
"A agenda dada pelo sistema é
repetitiva. Por isso, algumas discussões do fórum acabam sendo
vazias e ocas", disse Cândido
Grzybowski, diretor do Ibase
(Instituto Brasileiro de Análises
Sociais e Econômicas) e um dos
criadores do evento.
De acordo com seus organizadores, o fórum surgiu como uma
tentativa de criar uma agenda alternativa à ditada pelos países ricos e como contraponto ao Fórum Econômico Mundial, que
ocorre anualmente em Davos
(Suíça) e reúne a nata política e
empresarial do planeta.
Segundo o diretor do Ibase, a
parte mais propositiva e inovadora do fórum fica restrita aos eventos das organizações não-governamentais. E é difícil -para não
dizer quase impossível- acompanhá-los (são cerca de 1.400).
As discussões oficiais, cerca de
40, seguem enfocando a globalização por ângulos nem sempre
novos. E os debates continuam
ocorrendo por meio de conferências e painéis, proferidos quase
sempre pelas mesmas estrelas da
esquerda.
Além de renovar o teor dos debates, outro desafio do fórum é o
de se tornar de fato mundial, diversificando a nacionalidade das
organizações não-governamentais e das delegações que participam do evento, o que não ocorreu
nas edições anteriores. No fórum
de 2003, segundo pesquisa do Ibase, 85,9% dos participantes eram
brasileiros.
Há ainda a necessidade de incluir a participação dos pobres no
evento, que, aliás, tem como prioridade discutir uma alternativa de
desenvolvimento para países nessa condição. Um dos motivos de
realizar o evento deste ano na Índia, afirmou Grzybowski, foi iniciar um processo de inclusão. O
país já ultrapassou a marca de 1
bilhão de habitantes e a maioria
vive abaixo da linha da pobreza,
com menos de US$ 1 por dia.
Para estimular a participação
dos indianos, a inscrição deles
custará apenas US$ 3, enquanto a
dos brasileiros sairá por volta de
US$ 40 e a dos europeus, US$ 200.
São esperadas 75 mil pessoas.
A organização do fórum também enfrenta problemas na infra-estrutura do país. Mumbai conta
com uma frota antiga de carros e
de triciclos motorizados usados
como táxi. A distância do aeroporto para Colaba, o bairro dos
hotéis, é de aproximadamente 40
quilômetros, trajeto com cerca de
três sinais e nenhum guarda.
Os dois maiores aeroportos do
país, o de Nova Déli e o de Mumbai, mais parecem um mercado.
Ontem à noite, o piloto do último
vôo da Air India, que liga as duas
cidades, informou aos passageiros, já embarcados, que a decolagem iria atrasar porque cinco turistas se perderam no aeroporto e
estavam sendo localizados pela
segurança.
Os aeroportos também estão lotados. Em Nova Déli, ontem, houve congestionamento de aproximadamente 15 minutos na escada
rolante que liga o corredor de desembarque das aeronaves aos
postos do controle de imigração.
Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, que no fórum do ano passado tentou se mostrar como um
porta-voz dos excluídos, neste
ano verá seu governo ser avaliado
por setores tradicionalmente próximos do seu partido: a sociedade
civil organizada e os intelectuais
alinhados à esquerda.
O mais provável é que o governo Lula seja criticado no que diz
respeito à política ambiental e elogiado no que se refere à política
externa.
No evento de Porto Alegre, Lula
compareceu com praticamente
toda a sua equipe de ministros.
Neste ano, estarão presentes apenas Olívio Dutra (Cidades), Marina Silva (Meio Ambiente) e Gilberto Gil (Cultura).
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