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AGENDA PETISTA
Dos deputados petistas, 42% se opõem ao projeto de Palocci
Autonomia do BC divide a bancada do PT na Câmara
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Levantamento feito pela Folha
mostra que a bancada do PT na
Câmara está dividida -quase
exatamente ao meio- em relação ao projeto de autonomia para
o Banco Central, prioridade legislativa mais imediata da equipe
econômica. Foram procurados,
na semana passada, todos os 92
deputados petistas. Entre os 72
encontrados, 30 se manifestaram
contra a proposta, 28 a apoiaram
e 14 preferiram não opinar.
A partir dos números e dos nomes listados (ver quadro nesta página), o primeiro sinal é o de que
as resistências à idéia de conceder
mandatos fixos de quatro anos ao
presidente e aos sete diretores do
BC vão além de um pequeno grupo ultra-radical do partido.
A proporção dos contrários,
quase 42% dos entrevistados, supera o peso usualmente atribuído
a todas as correntes da esquerda
do PT, estimadas em um terço da
bancada. Nomes mais associados
às alas moderadas engrossam a
relação, casos de Luiz Eduardo
Greenhalgh (SP), Doutora Clair
(PR), Durval Orlato (SP), Eduardo Valverde (RO), Luiz Alberto
(BA) e Zico Bronzeado (AC).
Ouvindo o que todos têm a dizer, os números ganham outro
colorido. Parte dos críticos ressalva estar "aberta ao debate" -o
que soa como uma obviedade,
mas no dialeto petista indica um
aceno para o governo. "Acho que
não se deve dar autonomia [ao
BC", mas não é uma questão de
vida ou morte", afirma, por
exemplo, Francisca Trindade, deputada mais votada no Piauí.
Tampouco é fácil encontrar
grandes convicções do outro lado,
especialmente entre os deputados
mais distantes da cúpula. Entre os
favoráveis, há argumentos que
vão de "um voto de confiança em
Lula" à compreensão sobre o
"momento difícil em que vive o
país". Na turma do muro, a maioria alega que é preciso aguardar os
debates internos do partido. Outros, como Sigmaringa Seixas
(DF), se preocupam com a repercussão de suas declarações: "Sou
vice-líder da bancada. Tenho de
pensar melhor sobre isso".
Apoio frio ou impasse
Tudo somado, na melhor das
hipóteses para o governo, a bancada dará apoio à autonomia sem
entusiasmo e com boa dose de
constrangimento; na pior, discussões prolongadas exporão publicamente as divergências internas
do PT, e o impasse terá de ser resolvido de cima para baixo.
A explicação para o mal-estar
dos deputados está na própria
origem da proposta, inspirada em
estudos desenvolvidos no governo Fernando Henrique Cardoso
pelo ex-presidente do BC Armínio Fraga. Até o nome que Armínio dava ao projeto -Lei de Responsabilidade Monetária- vem
sendo usado pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Nos seus últimos dois anos, o
governo FHC testou a aceitação
do texto como forma de evitar
turbulências financeiras durante
as eleições. Em bom português,
um mandato que garantisse a permanência de Armínio à frente do
BC por mais algum tempo seria a
garantia de que Lula, se eleito, não
promoveria mudanças substanciais na economia.
De início, o PT rejeitou com
veemência a idéia, considerada
uma tentativa de dar continuidade às políticas ortodoxas que
combatia. À medida que Lula se
aproximava da vitória, a autonomia passou a ser tratada como
medida a ser adotada após a mudança de governo. A aceitação,
sem meias palavras, veio com a
indicação de Henrique Meirelles
para o BC.
Tarefa de Palocci
Palocci voltará na próxima semana a se reunir com a bancada,
com a tarefa de convencer os deputados de que o objetivo da autonomia não é afastar o governo
Lula das políticas de juros e de
câmbio e, assim, acalmar o mercado financeiro.
O projeto é simples: os dirigentes do BC, após serem aprovados
pelo Senado, ganham mandatos
de quatro anos, não coincidentes
entre si. A partir daí, só podem ser
demitidos em situações especificadas em lei, como improbidade
administrativa ou descumprimento de metas fixadas.
O ministro alega que não se trata de dar liberdade plena ao BC.
De fato, diz, é precisamente o
oposto. O BC seguiria regras determinadas pelo governo e teria
de prestar contas regularmente ao
Congresso e à sociedade. Os radicais não concordam. "A sensação
é que estão tentando aprisionar o
governo, tirar o poder do Lula",
diz Lindberg Farias (RJ). "Isso é
abrir mão da política econômica",
reforça Ivan Valente (SP).
O ex-guerrilheiro Fernando Gabeira (RJ), considerado um independente no PT, é um dos que
dão apoio mais convicto à idéia.
"Considero o princípio correto",
afirma, citando como exemplo
positivo o do banco central alemão, um dos mais independentes
do mundo. A independência plena é rejeitada por Palocci.
(GUSTAVO PATÚ, LEONARDO SOUZA, RICARDO
WESTIN e MÁRCIO PACELLI)
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