São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

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NOITE DOS PUNHAIS

De madrugada, pânico substituiu a confiança

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para um deputado petista, foi a "Noite de São Bartolomeu" [massacre de protestantes franceses no século 16]. Para outro, a "noite das facadas". A madrugada foi de tensão e corre-corre para os líderes governistas, que tentavam estancar o esfarelamento da candidatura de Luiz Eduardo Greenhalgh.
A confiança de anteontem foi substituída pelo desespero nas primeiras horas da madrugada. Às 2h30, o anúncio de que apenas 207 votaram em Greenhalgh no primeiro turno, contra a previsão de 270, levou à conclusão inevitável de que um processo de traição estava em curso na base aliada.
Pouco antes das 3h, reuniram-se Greenhalgh, José Genoino, Arlindo Chinaglia (líder da bancada), o presidente que saía, João Paulo Cunha, e o deputado José Eduardo Cardozo. O anúncio de que os ruralistas fecharam em favor de Severino trouxe pânico, pois o PT dava como certo o apoio da bancada após o defensor dos sem-terra Greenhalgh dizer ser contra ""baderna" no campo.
A passos rápidos e cigarro na mão, Genoino dirigiu-se ao gabinete da liderança do PFL, Antônio Carlos Magalhães Neto (BA). O celular tocou: "Estamos perdendo os ruralistas, é preciso fazer algo."
Afastando-se do PFL, os petistas foram para a conversa mais difícil: engolir o orgulho e pedir ajuda a Virgílio, que até minutos antes era hostilizado. Chegaram às 3h35 ao gabinete da liderança do governo no Congresso, onde o ex-dissidente já aguardava. Primeiro Genoino, João Paulo, Chinaglia e Luizinho. Dez minutos depois, chegou Greenhalgh, sorrindo.
A conversa foi amistosa. Deixaram claro que o racha tinha criado problema e que também o rebelde tinha de ser parte da solução. "Vou pedir que meus apoiadores votem em Greenhalgh."
Ficou subentendido que, como recompensa, Virgílio teria a mais branda punição por seu ato de rebeldia. Genoino ainda teve fôlego para tentar o apoio da ala oposicionista do PMDB, buscando Michel Temer e Geddel Vieira Lima.
A sessão recomeçou às 4h30. À medida que Severino abria vantagem, a metade governista ficava muda. Greenhalgh ressurgiu de seu gabinete às 6h40 para a proclamação do resultado. Um dos primeiros a confortá-lo foi Chico Alencar. "Tudo bem, a gente fez tudo que deveria ter feito", disse o ex-candidato. (FZ e RB)


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