São Paulo, terça-feira, 16 de março de 2004

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GOVERNO EM DISPUTA

Para Costa Neto, ministro não tem competência para o cargo

Presidente do PL cobra de Lula a demissão de Palocci

EDUARDO SCOLESE
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na esteira do PT e do PMDB, que pediram mudanças na política econômica, o comando do PL defendeu ontem as demissões de Antonio Palocci Filho, ministro da Fazenda, e de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central.
O PL é o partido do vice-presidente da República, José Alencar, que desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva tem insistido sistematicamente na redução da taxa de juros.
O ataque à equipe econômica foi feito pelo presidente do partido, o deputado Valdemar Costa Neto (SP), pela manhã, no Palácio do Planalto, antes da solenidade de posse de Alfredo Nascimento (PL), que renunciou à Prefeitura de Manaus (AM) para assumir o Ministério dos Transportes.
"Na minha opinião, ele [Lula] tem de trocar o ministro Palocci por alguém que tenha competência para o cargo. O Palocci tem competência para ser prefeito de Ribeirão Preto [SP], não para ser ministro da Fazenda."
As declarações repercutiram no mercado financeiro. Houve queda na Bovespa e aumento na cotação do dólar e do risco Brasil.
As pressões contra a política econômica se acirraram desde que foi anunciado no início do ano o encolhimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 0,2%.
Criticar a política econômica se tornou comum e parte tanto da oposição quanto de aliados. O que não era usual, ao se tratar da base aliada, era crítica direta a Palocci. A situação mudou com o caso Waldomiro Diniz (ex-assessor da Presidência que, em vídeo de 2002, pede propina a um empresário de jogos), que atingiu o ministro José Dirceu (Casa Civil). Abalado, Dirceu reagiu e tentou atingir Palocci.
O PT divulgou no dia 5 documento exigindo mudanças nas diretrizes econômicas, e, anteontem, em sua convenção nacional, o PMDB fez coro às críticas.
Ao cobrar mudanças, Costa Neto citou o vice-presidente: "José Alencar tem alertado o governo há mais de um ano. Ele viu que o país não ia ter crescimento em abril do ano passado. O Palocci e o Meirelles só foram enxergar isso no mês de outubro. Quer dizer, nenhum dos dois tem condições de estar no governo".
E continuou: "Precisamos de gente que entenda de economia. É preciso entender de economia, e o Palocci não entende. Ele está aprendendo." O PT, para o presidente do PL, tem quadros capacitados para assumir a Fazenda. Sobre se o senador Aloizio Mercadante (SP) seria um deles, disse: "Ninguém o suporta. É um camarada difícil, mas é um camarada decente e honesto".
O novo ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, também criticou a taxa de juros e cobrou investimentos no social. Mas, ao contrário do correligionário, poupou Palocci. Disse não defender sua saída e afirmou que essa é a posição de Costa Neto, não do PL.

Lula e a tropa de choque
Em discurso na posse de Nascimento, o presidente Lula defendeu ontem seu time ministerial, dizendo que tem qualidade "moral", "ética" e "profissional".
"Você [Nascimento] vai perceber que, muito mais que um conjunto de ministros, vai conviver com um conjunto de companheiros da melhor qualidade moral, ética e profissional. E vai perceber que, na primeira reunião, já irá se considerar um ministro que está comigo no governo há um ano e três meses", disse Lula.
Após a solenidade, aliados de Lula defenderam Palocci. "É um dos principais responsáveis pelo avanço que o país obteve ao longo de um ano e três meses de novo governo. Estamos prontos para crescer. Isso se deve ao trabalho do ministro Palocci, orientado pelo presidente", disse o ministro Guido Mantega (Planejamento).
O vice-líder do governo na Câmara Beto Albuquerque (PSB-RS) foi mais duro no contra-ataque: "Foi uma atitude irresponsável, fora de hora e oportunista. Acho que o Valdemar está querendo alguns minutos de fama."
Mercadante também defendeu o ministro: "Palocci teve um grande papel para o país e continua tendo. Tivemos melhora espetacular nos indicadores econômicos, além da reforma tributária, que criaram bases sólidas para um crescimento sustentado".
"Nós não temos um ministro que pratique políticas próprias, todas elas são de responsabilidade do governo como um todo, e quem comanda o governo é o presidente Lula, que tem toda a confiança no ministro Palocci", disse o ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política) ontem, em Belo Horizonte.


Colaboraram a Agência Folha e a Redação

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