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GOVERNO EM DISPUTA
Para Costa Neto, ministro não tem competência para o cargo
Presidente do PL cobra de
Lula a demissão de Palocci
EDUARDO SCOLESE
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na esteira do PT e do PMDB,
que pediram mudanças na política econômica, o comando do PL
defendeu ontem as demissões de
Antonio Palocci Filho, ministro
da Fazenda, e de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central.
O PL é o partido do vice-presidente da República, José Alencar,
que desde o início do governo
Luiz Inácio Lula da Silva tem insistido sistematicamente na redução da taxa de juros.
O ataque à equipe econômica
foi feito pelo presidente do partido, o deputado Valdemar Costa
Neto (SP), pela manhã, no Palácio
do Planalto, antes da solenidade
de posse de Alfredo Nascimento
(PL), que renunciou à Prefeitura
de Manaus (AM) para assumir o
Ministério dos Transportes.
"Na minha opinião, ele [Lula]
tem de trocar o ministro Palocci
por alguém que tenha competência para o cargo. O Palocci tem
competência para ser prefeito de
Ribeirão Preto [SP], não para ser
ministro da Fazenda."
As declarações repercutiram no
mercado financeiro. Houve queda na Bovespa e aumento na cotação do dólar e do risco Brasil.
As pressões contra a política
econômica se acirraram desde
que foi anunciado no início do
ano o encolhimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 0,2%.
Criticar a política econômica se
tornou comum e parte tanto da
oposição quanto de aliados. O que
não era usual, ao se tratar da base
aliada, era crítica direta a Palocci.
A situação mudou com o caso
Waldomiro Diniz (ex-assessor da
Presidência que, em vídeo de
2002, pede propina a um empresário de jogos), que atingiu o ministro José Dirceu (Casa Civil).
Abalado, Dirceu reagiu e tentou
atingir Palocci.
O PT divulgou no dia 5 documento exigindo mudanças nas diretrizes econômicas, e, anteontem, em sua convenção nacional,
o PMDB fez coro às críticas.
Ao cobrar mudanças, Costa Neto citou o vice-presidente: "José
Alencar tem alertado o governo
há mais de um ano. Ele viu que o
país não ia ter crescimento em
abril do ano passado. O Palocci e
o Meirelles só foram enxergar isso
no mês de outubro. Quer dizer,
nenhum dos dois tem condições
de estar no governo".
E continuou: "Precisamos de
gente que entenda de economia. É
preciso entender de economia, e o
Palocci não entende. Ele está
aprendendo." O PT, para o presidente do PL, tem quadros capacitados para assumir a Fazenda. Sobre se o senador Aloizio Mercadante (SP) seria um deles, disse:
"Ninguém o suporta. É um camarada difícil, mas é um camarada
decente e honesto".
O novo ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, também
criticou a taxa de juros e cobrou
investimentos no social. Mas, ao
contrário do correligionário, poupou Palocci. Disse não defender
sua saída e afirmou que essa é a
posição de Costa Neto, não do PL.
Lula e a tropa de choque
Em discurso na posse de Nascimento, o presidente Lula defendeu ontem seu time ministerial,
dizendo que tem qualidade "moral", "ética" e "profissional".
"Você [Nascimento] vai perceber que, muito mais que um conjunto de ministros, vai conviver
com um conjunto de companheiros da melhor qualidade moral,
ética e profissional. E vai perceber
que, na primeira reunião, já irá se
considerar um ministro que está
comigo no governo há um ano e
três meses", disse Lula.
Após a solenidade, aliados de
Lula defenderam Palocci. "É um
dos principais responsáveis pelo
avanço que o país obteve ao longo
de um ano e três meses de novo
governo. Estamos prontos para
crescer. Isso se deve ao trabalho
do ministro Palocci, orientado
pelo presidente", disse o ministro
Guido Mantega (Planejamento).
O vice-líder do governo na Câmara Beto Albuquerque (PSB-RS) foi mais duro no contra-ataque: "Foi uma atitude irresponsável, fora de hora e oportunista.
Acho que o Valdemar está querendo alguns minutos de fama."
Mercadante também defendeu
o ministro: "Palocci teve um
grande papel para o país e continua tendo. Tivemos melhora espetacular nos indicadores econômicos, além da reforma tributária, que criaram bases sólidas para
um crescimento sustentado".
"Nós não temos um ministro
que pratique políticas próprias,
todas elas são de responsabilidade
do governo como um todo, e
quem comanda o governo é o
presidente Lula, que tem toda a
confiança no ministro Palocci",
disse o ministro Aldo Rebelo
(Coordenação Política) ontem,
em Belo Horizonte.
Colaboraram a Agência Folha e a Redação
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