São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2005

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Deputado dá emprego a parentes

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pelo menos oito familiares do corregedor e segundo-vice-presidente da Câmara dos Deputados, Ciro Nogueira (PP-PI), foram contratados em cargos de confiança por seu gabinete ou pela Casa desde 2001. O deputado era ontem o preferido da bancada e do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), para assumir a vaga do partido no ministério de Luiz Inácio Lula da Silva.
Outras três pessoas com o mesmo sobrenome do deputado constam dos registros de funcionários de confiança contratados pela Casa nos últimos quatro anos, mas a relação de parentesco não foi confirmada até o fechamento desta edição.
Trabalharam no gabinete do deputado ou em gabinetes de aliados políticos o pai, a mãe, duas irmãs, um irmão, a mulher, uma filha e um primo. A Folha não conseguiu confirmar quantos ainda continuam com cargos de confiança na Câmara. A lista tem como base registros públicos das nomeações e exonerações publicadas pela Casa.
Confrontado com os nomes, o deputado não quis comentar o caso, afirmando não ver sentido no interesse pelo tema no momento em que ele é cotado para um ministério.
Os cargos ocupados pelos familiares de Nogueira têm hoje, em sua maioria, remunerações que vão de R$ 1.697 a R$ 7.503.
Além da prática de nepotismo (contratar parentes para o serviço público), o deputado está com parte dos bens bloqueados pela Justiça devido à acusação de que, como responsável pela administração dos apartamentos funcionais, causou prejuízo aos cofres públicos por não ter tomado as medidas para desalojar ex-deputados que continuaram morando irregularmente nos imóveis.
Em 1995, a Folha presenciou um diálogo de Nogueira com um colega sobre nepotismo. "Vamos fazer o seguinte: eu coloco a minha mulher no seu gabinete e você coloca a sua no meu, que é para não dar confusão", disse, na ocasião, o deputado Ari Magalhães (PP-PI). "Certo", respondeu Nogueira, que afirmou à reportagem que o diálogo fora fruto da "inexperiência" do colega, negando que o acordo seria efetivado.
Oito anos depois, a Folha também registrou articulação similar envolvendo Nogueira. O deputado contratou em 2002 para o seu gabinete uma irmã e uma cunhada do então primeiro-vice-presidente da Câmara, o hoje senador Efraim Morais (PFL-PB). Em troca, trabalhavam no gabinete de Efraim duas irmãs de Nogueira.
A assessoria de imprensa do Senado não respondeu ontem à reportagem até o fechamento desta edição.
Uma função em que familiares do hoje corregedor da Câmara trabalharam no início de 2003 foi a Coordenação de Programas Especiais da Câmara, que tinha a função de tratar de funcionários dependentes químicos.


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