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QUESTÃO INDÍGENA
Entidade acusa Funasa de minimizar o problema nas aldeias, próximas da fronteira com Colômbia e Peru
Desnutrição afeta 19 kanamaris, diz conselho
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O Civaja (Conselho Indígena do
Vale do Javari, no Amazonas) divulgou ontem a relação de 19
crianças das aldeias dos kanamaris que estariam em estado grave
de desnutrição. O comunicado é
uma resposta às recentes declarações da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) minimizando o
problema no vale, próximo da
fronteira com Colômbia e Peru.
O comunicado traz a lista com
nome, data de nascimento, peso e
altura das 19 crianças. Os dados,
segundo o coordenador-geral do
Civaja, Jorge Marubo, foram coletados na terça da semana passada
por técnicos do DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena, da Funasa) no Vale do Javari.
Uma das crianças citadas é um
bebê de um ano, identificado como Dulce Kanamari, com 6 kg e
59 cm de altura. Segundo o médico Renato Yamamoto, da Sociedade Brasileira de Pediatria, especialista em saúde da criança indígena, os indicadores da menina
apontam desnutrição grave.
Em alguns casos, o peso é tão
baixo que o médico desconfia que
tenha havido erro de digitação.
Um menino de cinco anos e dois
meses, Davi Kanamari, teria 79
cm e 9 kg. "Com esse peso, ele já
teria morrido", diz Yamamoto.
O diretor nacional de Saúde Indígena da Funasa, Alexandre Padilha, confirmou que os indicadores de peso e altura foram medidos pela equipe do Ministério da
Saúde. Segundo Yamamoto, parte dos dados da lista são coerentes
com o quadro de desnutrição de
moderado a grave, mas outros
mostram incoerência entre altura
e peso. Este seria o caso de Francisco Kanamari, de 13 meses de
idade, 5 kg e 73 cm.
De acordo com o médico, a
criança apresenta altura pouco
abaixo do normal, de cerca de 77
cm, segundo o NCHS (Nation
Center for Health Statistics), enquanto o peso está 50% abaixo do
indicado. "Há uma correlação entre peso e altura. O baixo peso afetaria, necessariamente, o crescimento", diz ele.
Barcos parados
Os kanamaris vivem em aldeias
dispersas e somam cerca de 900
pessoas, segundo o Civaja. Em todo o vale vivem 3.281 índios, de
sete etnias. Jorge Marubo afirmou
que em novembro de 2004 nove
crianças kanamaris morreram de
desnutrição. Ele disse que o Civaja desconhece o motivo do problema e que "certamente não é
por falta de comida, porque há
peixes, farinha, mandioca e açaí
em abundância na região". Para
ele, é preciso pesquisar as causas.
A Funasa sustenta que esse número refere-se ao total de mortes
de crianças desnutridas em 2004,
não apenas em um mês. O Civaja
reafirma, porém, que ocorreram
dentro de 15 dias, em novembro.
Segundo o coordenador, a desnutrição infantil está ficando dramática nas aldeias kanamaris.
Marubo disse que o Civaja tem
denunciado a situação, em vão,
porque faltam remédios, equipamentos e meios de transportes.
Ele disse que quatro barcos adquiridos pela Funasa no ano passado nunca saíram do cais da cidade de Atalaia do Norte.
O comunicado acusa a Funasa
de não ter cumprido acordo firmado em junho de 2004 com os
índios para melhoria da assistência médica e que há epidemia de
malária em quase todas as aldeias,
além de casos de hepatite. O texto
diz que os cargos administrativos
da Funasa são ocupados por pessoas sem experiência em saúde.
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