|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TERRA SEM LEI
Para promotor, acusados de assassinar freira tentam proteger Bida
A juiz, suspeitos mudam depoimentos
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Os três acusados do assassinato
da irmã Dorothy Stang, 73, Rayfran das Neves Sales (Fogoió), 27,
Clodoaldo Carlos Batista (Eduardo), 31, e Amair Feijoli da Cunha
(Tato), 32, negaram ontem que
Vitalmiro Bastos de Moura (Bida), 34, tenha sido o mandante do
crime, ocorrido em Anapu (PA).
Os depoimentos duraram quase
dez horas e foram tomados pelo
juiz Lucas de Jesus do Carmo, no
presídio de Americano 3, em Santa Izabel. Eles afirmaram que Bida
não teve participação no caso e
que o crime foi motivado por disputas de terra entre eles, a freira e
os posseiros que ocupam a gleba
Esperança, onde Dorothy pretendia criar um Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS).
Eles também negaram que o crime tenha sido encomendado por
um consórcio de fazendeiros, inclusive com a participação do prefeito de Anapu, Luiz dos Reis Carvalho (PTB), o que ele nega.
Fogoió, que confessara ser o autor dos disparos, foi o primeiro a
ser ouvido e desmentiu seu depoimento anterior à Polícia Civil.
Ontem, ele disse que matou a irmã por iniciativa própria e que
não recebeu promessa de pagamento (contrariando a versão de
que ele ganharia R$ 50 mil).
O segundo a ser ouvido foi
Eduardo. Ele estava com Fogoió
no momento dos disparos e também afirmara a existência de uma
promessa de pagamento, mas ontem negou isso. Segundo Eduardo, Tato faria o pagamento.
Tato, ao depor, pela primeira
vez assumiu ser o mandante. Negou ser o intermediário. No depoimento, disse que pagaria R$ 10
mil pela morte de Dorothy.
Para o promotor Lauro de Freitas Júnior, de Pacajás, os três combinaram os depoimentos para
inocentar Bida. Segundo ele, os
depoimentos não mudaram a
sustentação da denúncia, mas
complicaram ainda mais a situação dos acusados e do foragido.
"Os depoimentos mostram que
eles não sabem o que estão falando. Fica claro que há uma tentativa de retirar o foco do Vitalmiro
[Bida], mas há pistas que confirmam que ele foi o mandante",
afirmou o promotor.
O advogado de Tato, Oscar Damasceno, disse que a tese de depoimento combinado é "fantasiosa" e negou qualquer tentativa de
inocentar ou proteger Bida. O advogado do foragido, Augusto Septímio, também negou plano para
proteger o suposto mandante. Na
próxima semana, o juiz começa a
ouvir testemunhas de acusação.
Texto Anterior: Panorâmica - Brasil profundo: Acordo coloca fim a disputas entre garimpeiros em Serra Pelada, no Pará Próximo Texto: Questão indígena: Desnutrição afeta 19 kanamaris, diz conselho Índice
|