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São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

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SEM CONSENSO

Presidente afirma que as reformas "não irão salvar o Brasil"

Sob críticas, Lula adia envio de reformas ao Congresso

DA ENVIADA ESPECIAL A CATALÃO (GO)
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Prevendo mais dificuldades e falta de consenso em pontos importantes das reformas previdenciária e tributária, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recuou na sua intenção de levá-las ao Congresso acompanhado dos governadores, após o encontro de hoje. Ele disse que "quem sabe" fará isso na próxima semana.
Antes, diante do resultado positivo do primeiro encontro com os governadores, a idéia de Lula era fechar os textos das reformas já na segunda reunião e enviá-los ao Congresso no mesmo dia.
Nos últimos dias, porém, surgiram críticas e novos pedidos que podem impedir um consenso. Lula sabe que, diferentemente da primeira reunião, o encontro de hoje descerá a detalhes mais concretos, o que sempre contraria interesses e aumenta resistências.
Nesse cenário, Lula não quer negociações isoladas com Estados, por avaliar que isso pode enfraquecer o consenso em torno das reformas.
Num trabalho para minar resistências e pressões para repor eventuais perdas com a reforma tributária, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, disse a vários governadores que o local de cobrança do novo ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) -no Estado de produção ou no de consumo do produto- será decidido somente daqui a dois anos.
Além disso, no projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias, o governo reduziu a contrapartida que Estados e municípios devem dar em projetos de combate à fome e de segurança pública. O valor hoje é 40%.
Em mais um aceno aos governadores, a equipe de Lula aceitou incorporar à proposta de reforma da Previdência a cobrança de contribuição dos servidores inativos, assumindo ao menos parte do ônus político dessa medida.

Desprendimento
Em discurso ontem na inauguração de um complexo mineroquímico em Catalão (GO), Lula disse que a reforma previdenciária é necessária para que o país pare de gastar "mais da metade" de seu dinheiro com aposentadorias em vez de investir. Pediu ainda "desprendimento" de setores políticos, empresariais e sindicais.
"Quem sabe daqui a uma semana estaremos eu, os 27 governadores, os líderes dos partidos, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social [...] atravessando do Palácio do Planalto para o Congresso Nacional", afirmou.
"Na minha opinião, [as reformas] não irão salvar o Brasil, mas irão garantir que a gente tenha, no futuro, Estados tendo recursos para investir, não gastando metade ou mais da metade do dinheiro só com as aposentadorias."
Lula, que foi a Catalão com o governador Marconi Perillo (PSDB-GO), destacou a importância do primeiro encontro de governadores que tratou das reformas, lembrando que isso deu "credibilidade" a seu governo. Perillo participou anteontem do encontro de governadores tucanos que criticou o "caráter extremamente restrito" das reformas propostas.

Militares
Em seu discurso em Catalão (GO), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou a "visão estratégica" de desenvolvimento dos militares durante "metade do tempo em que estiveram no governo" e disse que desde então o "Brasil deixou de ser pensado estrategicamente". No ano passado, ainda candidato à Presidência, Lula elogiou a política econômica do general Emílio Garrastazu Médici (1969-74).
O presidente disse que "o Brasil passou a ser pensado em função do mandato das pessoas. Ou seja, o mandato de quatro anos, numa visão pequena, porque o estadista não pensa no seu mandato".
Citou também a "visão industrial de Getúlio Vargas" e o Plano de Metas de Juscelino Kubistchek. (LEILA SUWWAN, VALDO CRUZ, KENNEDY ALENCAR E MARTA SALOMON)


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