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SEM CONSENSO
Presidente afirma que as reformas "não irão salvar o Brasil"
Sob críticas, Lula adia envio de reformas ao Congresso
DA ENVIADA ESPECIAL A CATALÃO (GO)
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Prevendo mais dificuldades e
falta de consenso em pontos importantes das reformas previdenciária e tributária, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva recuou
na sua intenção de levá-las ao
Congresso acompanhado dos governadores, após o encontro de
hoje. Ele disse que "quem sabe"
fará isso na próxima semana.
Antes, diante do resultado positivo do primeiro encontro com os
governadores, a idéia de Lula era
fechar os textos das reformas já na
segunda reunião e enviá-los ao
Congresso no mesmo dia.
Nos últimos dias, porém, surgiram críticas e novos pedidos que
podem impedir um consenso.
Lula sabe que, diferentemente da
primeira reunião, o encontro de
hoje descerá a detalhes mais concretos, o que sempre contraria interesses e aumenta resistências.
Nesse cenário, Lula não quer
negociações isoladas com Estados, por avaliar que isso pode enfraquecer o consenso em torno
das reformas.
Num trabalho para minar resistências e pressões para repor
eventuais perdas com a reforma
tributária, o ministro-chefe da
Casa Civil, José Dirceu, disse a vários governadores que o local de
cobrança do novo ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) -no Estado de
produção ou no de consumo do
produto- será decidido somente
daqui a dois anos.
Além disso, no projeto da Lei de
Diretrizes Orçamentárias, o governo reduziu a contrapartida
que Estados e municípios devem
dar em projetos de combate à fome e de segurança pública. O valor hoje é 40%.
Em mais um aceno aos governadores, a equipe de Lula aceitou
incorporar à proposta de reforma
da Previdência a cobrança de contribuição dos servidores inativos,
assumindo ao menos parte do
ônus político dessa medida.
Desprendimento
Em discurso ontem na inauguração de um complexo mineroquímico em Catalão (GO), Lula
disse que a reforma previdenciária é necessária para que o país pare de gastar "mais da metade" de
seu dinheiro com aposentadorias
em vez de investir. Pediu ainda
"desprendimento" de setores políticos, empresariais e sindicais.
"Quem sabe daqui a uma semana estaremos eu, os 27 governadores, os líderes dos partidos, o
Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social [...] atravessando do Palácio do Planalto para
o Congresso Nacional", afirmou.
"Na minha opinião, [as reformas] não irão salvar o Brasil, mas
irão garantir que a gente tenha, no
futuro, Estados tendo recursos
para investir, não gastando metade ou mais da metade do dinheiro
só com as aposentadorias."
Lula, que foi a Catalão com o governador Marconi Perillo (PSDB-GO), destacou a importância do
primeiro encontro de governadores que tratou das reformas, lembrando que isso deu "credibilidade" a seu governo. Perillo participou anteontem do encontro de
governadores tucanos que criticou o "caráter extremamente restrito" das reformas propostas.
Militares
Em seu discurso em Catalão
(GO), o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva elogiou a "visão estratégica" de desenvolvimento
dos militares durante "metade do
tempo em que estiveram no governo" e disse que desde então o
"Brasil deixou de ser pensado estrategicamente". No ano passado,
ainda candidato à Presidência,
Lula elogiou a política econômica
do general Emílio Garrastazu Médici (1969-74).
O presidente disse que "o Brasil
passou a ser pensado em função
do mandato das pessoas. Ou seja,
o mandato de quatro anos, numa
visão pequena, porque o estadista
não pensa no seu mandato".
Citou também a "visão industrial de Getúlio Vargas" e o Plano
de Metas de Juscelino Kubistchek.
(LEILA SUWWAN, VALDO CRUZ, KENNEDY ALENCAR E MARTA SALOMON)
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