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São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

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NO AR

Da guerra à campanha

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

De um dia para o outro, acabou a guerra e começou a campanha eleitoral de George W. Bush.
Bush pai enviou um convite, em nome do Partido Republicano, chamando para um "Jantar do Presidente". Da carta:
- Nos ajude a tornar este evento memorável para o nosso presidente.
Os convites para o jantar custam US$ 2.500. Quem conseguir US$ 100 mil ganha o direito de tirar uma foto com o presidente americano.
É o início da arrecadação para a campanha de reeleição, no ano que vem. Sem horário eleitoral, ela consome milhões em comerciais.
E é o fim das ações de guerra. Bush filho teria vetado os planos encomendados pelo "falcão" Donald Rumsfeld para um ataque à Síria.
O também secretário Colin Powell, adversário dos "falcões", saiu trombeteando pela TV que não há plano nenhum para atacar a Síria.
Não que tenha sido uma vitória de Powell. "É a economia, estúpido", parecia transmitir Bush, em seu primeiro discurso sobre um assunto que não a guerra, ontem.
Uma pesquisa acendeu no fim de semana a luz vermelha. Os números de Bush não vão bem em economia. A forma como está tocando a área é questionada por 46% dos americanos, contra 44% que aprovam.
Bush pai, como se sabe, venceu a sua guerra contra o Iraque e em seguida, como não cumpriu promessas na economia, perdeu para Bill Clinton. Foi então que James Carville, marqueteiro de Clinton, cunhou o bordão "é a economia, estúpido".
 
No sábado, um dos enviados da CNN ao Iraque tentou entrar na cidade de Tikrit e enfrentou bala. Seguiu-se um tiroteio dos seguranças da CNN com os iraquianos. Ao vivo.
É só um dos exemplos extremos do envolvimento dos jornalistas americanos na guerra. Pior, é claro, aconteceu com os "encaixados", que acompanharam as tropas.
Um deles relatou como avisou, aos soldados, a posição de alguns iraquianos, três dos quais foram mortos:
- Alguns na minha profissão podem pensar que, como um repórter, eu estava lá só para observar. Agora que eu ajudei nas mortes de três seres humanos na guerra à qual fui enviado para cobrir, eu tenho certeza que alguns vão questionar a minha ética, a minha objetividade etc. Eu vou dar uma curta justificativa. Eles que se danem, eles não estavam lá.
Foi-se o tempo da cobertura "objetiva" nos EUA.


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