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OPERAÇÃO SOCIAL
Segundo ministro, há desvio em dinheiro repassado a famílias e aumento de preços nas cidades beneficiadas
Verba do Fome Zero é desviada, diz Graziano
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
O ministro José Graziano (Segurança Alimentar) afirmou ontem
que há desvios no dinheiro repassado pelo governo federal a famílias carentes no programa Fome
Zero, via Cartão-Alimentação.
Segundo ele, também há casos
de aumento nos preços de alimentos vendidos em Guaribas e
Acauã, no Piauí, os primeiros municípios a receber os recursos.
Os problemas na execução do
programa foram identificados em
pesquisas feitas com famílias beneficiadas nas duas cidades.
"Tenho encontrado uma roda
meio quadrada em alguns lugares", afirmou Graziano, ontem,
em Fortaleza, onde participou do
lançamento do programa em 12
municípios do Ceará.
A divulgação dos resultados da
pesquisa não estava prevista. Foi
feita em uma entrevista dada na
Ceasa (central de abastecimento)
local, seu segundo compromisso
na capital cearense.
Segundo Graziano, ainda não
foi marcada a data em que serão
divulgados todos os resultados
das pesquisas já feitas.
O uso indevido dos R$ 50 dados
a cada família beneficiada pelo
Fome Zero, segundo Graziano, foi
percebido principalmente entre
as famílias em que o Cartão-Alimentação está no nome do homem da casa. "Em certos lugares,
onde a atitude machista predomina, o dinheiro passa a ser usado
indevidamente. O homem toma o
dinheiro, não o repassa para a
mulher e compra coisas sem uma
comprovação", disse o ministro.
"Principalmente em caso de alcoolismo, de degeneração da família, é a mulher que garante a
compra dos alimentos."
Para evitar que esse problema
persista em outras cidades, Graziano disse que procurará meios
legais de manter o cartão apenas
no nome da mulher da família.
"Estamos incorporando os ensinamentos de Guaribas para
aplicá-los nos próximos comitês
gestores", afirmou.
Em resposta às críticas que o
programa tem recebido, o ministro defendeu que se mantenha a
obrigatoriedade de comprovação
das despesas como meio educativo, para coibir os desvios de verba
para compras indevidas, e ainda
para ser um meio de o ministério
verificar aumentos abusivos de
preços por alguns comerciantes.
"Os resultados [do Fome Zero]
não se mostram imediatamente,
mas há sinais visíveis de melhoras. A população começa a pensar
em outras coisas a não ser só em
comida", disse Graziano, ao
anunciar que o ministério está
apoiando a implementação de
uma rádio comunitária em Guaribas, a pedido das "mães".
Outro lado
O comerciante Carlos Rocha,
29, dono de uma das vendas de
Guaribas, disse por telefone que
aumentou um pouco o preço do
arroz, do açúcar e do óleo "por
causa da maior procura e da subida do preço da gasolina". Segundo ele, o quilo do açúcar passou
de R$ 1,50 para R$ 1,70.
Rocha e Emílio Correia da Silva,
47, dono de outra venda na cidade, dizem que os beneficiados pelo Fome Zero só têm comprado
alimentos com os dinheiro do
programa. "Eles não levam nem
uma barrinha de sabão, só trem
de comer mesmo", disse Silva.
Uma das integrantes do Comitê
Gestor de Acauã, Maria Teresa de
Sousa, diz não ter notícia de compra de outro item além de alimentos. A coordenadora do Fome Zero no Piauí, Rosângela Souza, disse que não partiu dela a informação de que os beneficiados não estão comprando apenas comida.
Colaborou ALESSANDRA KORMANN, da Agência Folha
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