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São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

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OPERAÇÃO SOCIAL

Segundo ministro, há desvio em dinheiro repassado a famílias e aumento de preços nas cidades beneficiadas

Verba do Fome Zero é desviada, diz Graziano

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

O ministro José Graziano (Segurança Alimentar) afirmou ontem que há desvios no dinheiro repassado pelo governo federal a famílias carentes no programa Fome Zero, via Cartão-Alimentação.
Segundo ele, também há casos de aumento nos preços de alimentos vendidos em Guaribas e Acauã, no Piauí, os primeiros municípios a receber os recursos.
Os problemas na execução do programa foram identificados em pesquisas feitas com famílias beneficiadas nas duas cidades.
"Tenho encontrado uma roda meio quadrada em alguns lugares", afirmou Graziano, ontem, em Fortaleza, onde participou do lançamento do programa em 12 municípios do Ceará.
A divulgação dos resultados da pesquisa não estava prevista. Foi feita em uma entrevista dada na Ceasa (central de abastecimento) local, seu segundo compromisso na capital cearense.
Segundo Graziano, ainda não foi marcada a data em que serão divulgados todos os resultados das pesquisas já feitas.
O uso indevido dos R$ 50 dados a cada família beneficiada pelo Fome Zero, segundo Graziano, foi percebido principalmente entre as famílias em que o Cartão-Alimentação está no nome do homem da casa. "Em certos lugares, onde a atitude machista predomina, o dinheiro passa a ser usado indevidamente. O homem toma o dinheiro, não o repassa para a mulher e compra coisas sem uma comprovação", disse o ministro.
"Principalmente em caso de alcoolismo, de degeneração da família, é a mulher que garante a compra dos alimentos."
Para evitar que esse problema persista em outras cidades, Graziano disse que procurará meios legais de manter o cartão apenas no nome da mulher da família.
"Estamos incorporando os ensinamentos de Guaribas para aplicá-los nos próximos comitês gestores", afirmou.
Em resposta às críticas que o programa tem recebido, o ministro defendeu que se mantenha a obrigatoriedade de comprovação das despesas como meio educativo, para coibir os desvios de verba para compras indevidas, e ainda para ser um meio de o ministério verificar aumentos abusivos de preços por alguns comerciantes.
"Os resultados [do Fome Zero] não se mostram imediatamente, mas há sinais visíveis de melhoras. A população começa a pensar em outras coisas a não ser só em comida", disse Graziano, ao anunciar que o ministério está apoiando a implementação de uma rádio comunitária em Guaribas, a pedido das "mães".

Outro lado
O comerciante Carlos Rocha, 29, dono de uma das vendas de Guaribas, disse por telefone que aumentou um pouco o preço do arroz, do açúcar e do óleo "por causa da maior procura e da subida do preço da gasolina". Segundo ele, o quilo do açúcar passou de R$ 1,50 para R$ 1,70.
Rocha e Emílio Correia da Silva, 47, dono de outra venda na cidade, dizem que os beneficiados pelo Fome Zero só têm comprado alimentos com os dinheiro do programa. "Eles não levam nem uma barrinha de sabão, só trem de comer mesmo", disse Silva.
Uma das integrantes do Comitê Gestor de Acauã, Maria Teresa de Sousa, diz não ter notícia de compra de outro item além de alimentos. A coordenadora do Fome Zero no Piauí, Rosângela Souza, disse que não partiu dela a informação de que os beneficiados não estão comprando apenas comida.


Colaborou ALESSANDRA KORMANN, da Agência Folha


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