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São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

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REGIME MILITAR

Hélio Bicudo diz que a Lei da Anistia anistiou "as vítimas e não os algozes"

Entidades protestam contra delegado

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma comissão de 16 entidades de defesa dos direitos humanos aprovou ontem o envio de carta aberta ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), repudiando a nomeação do delegado Aparecido Laertes Calandra, conhecido como Capitão Ubirajara, como delegado-assistente do Dipol (Departamento de Inteligência da Polícia Civil). A carta pede também uma audiência para discutir o assunto.
Calandra é acusado de torturar presos políticos durante o regime militar (1964-1985). A permanência dele no cargo foi defendida na segunda-feira por Alckmin, ao afirmar que a Lei da Anistia, de 1979, "foi para os dois lados".
As entidades decidiram manter uma mobilização permanente contra a permanência de Calandra no cargo e realizar um ato público. Foi aprovada também a organização de um seminário para discutir a continuidade da prática da tortura no país.
Participaram do encontro ex-presos políticos que dizem terem sido torturados pelo capitão Ubirajara enquanto tiveram presos no DOI-Codi (órgão de repressão do regime militar) e que atualmente representam entidades de defesa dos direitos humanos.
A ex-presa política Maria Amélia de Almeida Teles, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, se emocionou ao dizer que voltar a esse assunto é como "voltar aos corredores da Operação Bandeirantes".
Outra ex-presa política, Lúcia Skronov, do Comitê de Apoio às Lutas da América Latina, condenou a nomeação do delegado para o cargo e rejeitou o argumento da anistia. "Fiquei cega de um olho por causa da tortura e não fui anistiada disso", disse.
O encontro das entidades foi organizado pelos deputados Renato Simões (PT), Italo Cardoso (PT) e Nivaldo Santana (PC do B), membros da Comissão de Direitos Humanos da Casa.
A deputada Rosmary Corrêa (PSDB), também integrante da comissão, disse que não concorda com o pedido de afastamento do delegado e afirma, sem citar nomes, que participam do governo federal pessoas envolvidas "com atos não tão éticos" durante o regime militar. "Também não é moralmente aceitável", disse ela.
O vice-prefeito de SP e presidente da Comissão Municipal de Direitos Humanos, Hélio Bicudo, disse que a Lei da Anistia anistiou "as vítimas e não os algozes" e a alegação de que ela vale para os dois lados é "oportunista".


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